Bordado por: Marie-Thérèse
Pfyffer
Autor: Leo
Tolstói
Desenho: Marie-Thérèse
Pfyffer
Contato: @duo_leones
Fotografia, arte
e produção: Henry Yu
Leo Tolstói
Certa vez ocorreu a um certo imperador que se ele sempre soubesse a
resposta a essas três perguntas, jamais falharia em nada que empreendesse: Qual
é a hora certa para agir? Qual pessoa deve ser ouvida? Como decidir qual
assunto é o mais importante?
Assim fez proclamar em todo o reino que daria uma grande recompensa a
quem lhe trouxesse as respostas. E muitos vieram ao palácio, cada um com
respostas diferentes. Diante de tantas soluções diversas, o imperador não
concordou com nenhuma, também não deu nenhuma recompensa. Para encontrar as
respostas certas para suas perguntas decidiu consultar um eremita conhecido por
sua sabedoria.
O homem santo tinha escolhido viver isolado em um bosque, recebendo só
gente comum. Então o imperador vestiu roupas simples e se pôs a caminho. Ao
aproximar de seu destino desmontou do cavalo, deixou seu guardas para trás, e
continuou sozinho. Quando chegou o eremita estava cavando canteiros em seu
jardim. Cumprimentou o visitante e continuou seu trabalho. O imperador foi até
ele e disse: “Vim até você, sábio eremita, para lhe pedir que responda a três
perguntas: Qual é a hora certa para agir? Quais são as pessoas que devem ser
ouvidas? Qual á a coisa mais importante a fazer?”
Como posso aprender a fazer a coisa certa na hora certa? Quem são as
pessoas de quem mais preciso e a quem devo, portanto, prestar mais atenção do
que ao resto? E quais assuntos são os mais importantes e precisam de minha
primeira atenção?”
O eremita ouviu, mas não respondeu nada. Apenas cuspiu na mão e
recomeçou a cavar. Como era idoso e frágil, respirava com dificuldade cada vez
que enfiava a pá no chão e revirava a terra. “Você está cansado”, disse o
imperador, “deixe-me pegar a pá e trabalhar um pouco para você.” “Agradeço!”
disse o eremita e, dando a pá ao visitante, sentou no chão. Depois de cavar
dois canteiros, o imperador parou e repetiu suas perguntas. Novamente não houve
respostas, mas o eremita levantou, estendeu a mão para a pá e disse: “Agora
descanse um pouco e deixe-me trabalhar.” Mas o imperador não devolveu a pá e continuou
a cavar. Uma hora se passou, e outra. O sol estava se pondo atrás das árvores,
quando o imperador acabou de preparar os canteiros. Enfiou a pá no chão e
disse: “Vim até você, homem sábio, par ter respostas. Se não puder me
responder, diga-me, e eu voltarei para casa.”
“Aí vem alguém correndo”, disse o eremita. “Vamos ver quem é.” O
imperador se virou e viu um homem barbudo sair correndo de entre as árvores.
Quando chegou perto dos dois homens, caiu meio desmaiado no chão, gemendo
debilmente. Suas mãos pressionavam sua barriga, sangue escorria debaixo delas.
O imperador e o eremita desamarraram a roupa do homem. Juntos cuidaram de um
corte profundo. Finalmente o sangue parou de fluir, o homem reviveu e pediu
água. O imperador buscou água fresca no riacho próximo e lhe deu para beber. Já
estava esfriando. Levaram o ferido para a cama do eremita. O homem fechou os
olhos e ficou quieto. Quanto ao imperador, estava tão cansado que sentou,
encostou na parede, e também adormeceu.
Dormiu profundamente a noite toda. Pela manhã, demorou muito para se
lembrar de onde estava, ou quem era o estranho barbudo deitado na cama que o
fitava com olhos brilhantes. “Me perdoe!” disse o barbudo com voz fraca, quando
viu que o imperador estava acordado. “Eu não conheço você e não tenho nada para
perdoar.”
“Você não me conhece, mas eu o conheço. Era seu inimigo. Tinha jurado me
vingar porque mandou executar meu irmão e confiscou todos os meus bens. Sabia
que você tinha ido sozinho ver o eremita, assim resolvi matá-lo no caminho de
volta. O dia passou, você não voltou. Então eu saí da minha emboscada para
encontrá-lo, mas encontrei seus guardas, que me reconheceram e me feriram.
Escapei e teria sangrado até a morte se você não tivesse cuidado de mim. Queria
matá-lo, e você salvou a minha vida. Agora, se eu viver, e se você quiser, eu o
servirei como seu servo mais fiel e pedirei a meus filhos que façam o mesmo. Me
perdoe!”
O imperador se sentiu cheio de gratidão por seu inimigo ter feito as
pazes, e não apenas o perdoou, como disse que enviaria seus servos e seu
próprio médico para atendê-lo, e restauraria sua propriedade. Despediu-se e
saiu à procura do eremita. Desejava implorar mais uma vez por uma resposta às
suas perguntas. Encontrou-o no seu jardim, de joelhos, plantando sementes nos
canteiros.
Aproximou-se: “Pela última vez, peço que responda às minhas perguntas,
homem sábio.” O eremita olhou para ele. “Você já foi atendido.” “Como? O que
quer dizer?”
“Não está vendo? Se não tivesse tido pena da minha fraqueza ontem e
cavado estes canteiros, teria ido embora e aquele homem o teria atacado. Assim,
o momento relevante foi quando cavou meu jardim. Eu fui a pessoa essencial, e
fazer-me bem foi a decisão acertada. Depois, quando aquele homem correu para
nós, o mais necessário foi atendê-lo pois, se não tivesse enfaixado suas
feridas, ele teria morrido sem ter feito as pazes com você. Então ele foi a
pessoa mais significativo, e o que você fez por ele foi fundamental.
Lembre-se então: Há apenas um momento certo – agora. É o momento mais
importante porque é o único momento em que temos o poder de agir. A pessoa mais
importante é aquela com quem você está, pois como saber se terá oportunidade de
se relacionar com outra no futuro? E o mais importante é fazer o bem para quem
está ao seu lado.
Por isso estamos aqui.”
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