sábado, 25 de novembro de 2023

As Três Perguntas - NOVEMBRO

Novembro: As Três Perguntas

Bordado por: Marie-Thérèse Pfyffer

Autor: Leo Tolstói

Desenho: Marie-Thérèse Pfyffer

Contato: @duo_leones

Fotografia, arte e produção: Henry Yu

 

As três perguntas

Leo Tolstói

 

Certa vez ocorreu a um certo imperador que se ele sempre soubesse a resposta a essas três perguntas, jamais falharia em nada que empreendesse: Qual é a hora certa para agir? Qual pessoa deve ser ouvida? Como decidir qual assunto é o mais importante?

 

Assim fez proclamar em todo o reino que daria uma grande recompensa a quem lhe trouxesse as respostas. E muitos vieram ao palácio, cada um com respostas diferentes. Diante de tantas soluções diversas, o imperador não concordou com nenhuma, também não deu nenhuma recompensa. Para encontrar as respostas certas para suas perguntas decidiu consultar um eremita conhecido por sua sabedoria.

 

O homem santo tinha escolhido viver isolado em um bosque, recebendo só gente comum. Então o imperador vestiu roupas simples e se pôs a caminho. Ao aproximar de seu destino desmontou do cavalo, deixou seu guardas para trás, e continuou sozinho. Quando chegou o eremita estava cavando canteiros em seu jardim. Cumprimentou o visitante e continuou seu trabalho. O imperador foi até ele e disse: “Vim até você, sábio eremita, para lhe pedir que responda a três perguntas: Qual é a hora certa para agir? Quais são as pessoas que devem ser ouvidas? Qual á a coisa mais importante a fazer?”

 

Como posso aprender a fazer a coisa certa na hora certa? Quem são as pessoas de quem mais preciso e a quem devo, portanto, prestar mais atenção do que ao resto? E quais assuntos são os mais importantes e precisam de minha primeira atenção?”

 

O eremita ouviu, mas não respondeu nada. Apenas cuspiu na mão e recomeçou a cavar. Como era idoso e frágil, respirava com dificuldade cada vez que enfiava a pá no chão e revirava a terra. “Você está cansado”, disse o imperador, “deixe-me pegar a pá e trabalhar um pouco para você.” “Agradeço!” disse o eremita e, dando a pá ao visitante, sentou no chão. Depois de cavar dois canteiros, o imperador parou e repetiu suas perguntas. Novamente não houve respostas, mas o eremita levantou, estendeu a mão para a pá e disse: “Agora descanse um pouco e deixe-me trabalhar.” Mas o imperador não devolveu a pá e continuou a cavar. Uma hora se passou, e outra. O sol estava se pondo atrás das árvores, quando o imperador acabou de preparar os canteiros. Enfiou a pá no chão e disse: “Vim até você, homem sábio, par ter respostas. Se não puder me responder, diga-me, e eu voltarei para casa.”

 

“Aí vem alguém correndo”, disse o eremita. “Vamos ver quem é.” O imperador se virou e viu um homem barbudo sair correndo de entre as árvores. Quando chegou perto dos dois homens, caiu meio desmaiado no chão, gemendo debilmente. Suas mãos pressionavam sua barriga, sangue escorria debaixo delas. O imperador e o eremita desamarraram a roupa do homem. Juntos cuidaram de um corte profundo. Finalmente o sangue parou de fluir, o homem reviveu e pediu água. O imperador buscou água fresca no riacho próximo e lhe deu para beber. Já estava esfriando. Levaram o ferido para a cama do eremita. O homem fechou os olhos e ficou quieto. Quanto ao imperador, estava tão cansado que sentou, encostou na parede, e também adormeceu.

 

Dormiu profundamente a noite toda. Pela manhã, demorou muito para se lembrar de onde estava, ou quem era o estranho barbudo deitado na cama que o fitava com olhos brilhantes. “Me perdoe!” disse o barbudo com voz fraca, quando viu que o imperador estava acordado. “Eu não conheço você e não tenho nada para perdoar.”

 

“Você não me conhece, mas eu o conheço. Era seu inimigo. Tinha jurado me vingar porque mandou executar meu irmão e confiscou todos os meus bens. Sabia que você tinha ido sozinho ver o eremita, assim resolvi matá-lo no caminho de volta. O dia passou, você não voltou. Então eu saí da minha emboscada para encontrá-lo, mas encontrei seus guardas, que me reconheceram e me feriram. Escapei e teria sangrado até a morte se você não tivesse cuidado de mim. Queria matá-lo, e você salvou a minha vida. Agora, se eu viver, e se você quiser, eu o servirei como seu servo mais fiel e pedirei a meus filhos que façam o mesmo. Me perdoe!”

 

O imperador se sentiu cheio de gratidão por seu inimigo ter feito as pazes, e não apenas o perdoou, como disse que enviaria seus servos e seu próprio médico para atendê-lo, e restauraria sua propriedade. Despediu-se e saiu à procura do eremita. Desejava implorar mais uma vez por uma resposta às suas perguntas. Encontrou-o no seu jardim, de joelhos, plantando sementes nos canteiros.

 

Aproximou-se: “Pela última vez, peço que responda às minhas perguntas, homem sábio.” O eremita olhou para ele. “Você já foi atendido.” “Como? O que quer dizer?”

 

“Não está vendo? Se não tivesse tido pena da minha fraqueza ontem e cavado estes canteiros, teria ido embora e aquele homem o teria atacado. Assim, o momento relevante foi quando cavou meu jardim. Eu fui a pessoa essencial, e fazer-me bem foi a decisão acertada. Depois, quando aquele homem correu para nós, o mais necessário foi atendê-lo pois, se não tivesse enfaixado suas feridas, ele teria morrido sem ter feito as pazes com você. Então ele foi a pessoa mais significativo, e o que você fez por ele foi fundamental.

 

Lembre-se então: Há apenas um momento certo – agora. É o momento mais importante porque é o único momento em que temos o poder de agir. A pessoa mais importante é aquela com quem você está, pois como saber se terá oportunidade de se relacionar com outra no futuro? E o mais importante é fazer o bem para quem está ao seu lado.

 

Por isso estamos aqui.”

 

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