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Desenho: Marie-Thérèse Pfyffer
Havia na tribo Tupi
um jovem que tocava maravilhosamente flauta. Apelidaram-no até de Catuboré, que
significa “a flauta mágica”. Não era bonito, nem tinha enorme charme, mas por
causa dos sons melodiosos da sua flauta era cobiçado por todas as moças da
tribo em idade de se casar. No entanto, somente a simpática Mainá conseguira
conquistar seu coração.
Marcaram o
casamento para a primavera, quando na mata florescem as quaresmeiras roxas e
amarelas e os fedegosos se enchem de vermelho.
Mas aconteceu uma
tragédia. Certo dia, Catuboré, saiu para a pesca num lago, distante da oca.
Escureceu e ele não chegava. Mainá e suas amigas passaram a noite em claro, com
o coração apertado de preocupação e de maus pressentimentos.
No dia seguinte, a
tribo inteira se mobilizou, procurando-o por todos os caminhos. Finalmente, não
muito distante do lago, encontraram o “flauta mágica” morto e enrijecido, ao pé
de uma grande árvores. Logo entenderam: uma serpente venenosa lhe havia picado
mortalmente a perna. Todos choraram copiosamente, de modo especial Mainá e as
moças que tanto apreciavam os sons maviosos de sua flauta. Mas como estavam
distantes da oca e quase todos estavam ali presentes, resolveram enterrar
Catuboré ali mesmo, ao pé da árvore que
assistira sua morte.
Mainá, quando a
saudade batia muito forte, vinha com suas amigas chorar sobre a sepultura do
amado. Passaram-se várias semanas e as lágrimas não diminuíam. A alma de
Catuboré, vendo a tristeza da amada, não conseguia ficar em paz. Chorava junto
e lastimava seu infortúnio. Pediu, então, ao espírito da mata que o
transformasse num pássaro, mesmo que fosse pequenino e feio, contanto que fosse
cantador, capaz de consolar Mainá. E foi transformado, então, no uirapuru, que
é parecido com Catuboré, pois não tem especial beleza, mas canta como ninguém
na floresta, num som semelhante ao de sua flauta.
Hoje, tanto tempo
depois, o uirapuru continua a cantar, embora apenas ocasionalmente, mas quando
entoa seu canto belo e triste, todos os animais se sentem atraídos uns pelos
outros, começam a namorar e a se beijar.
Os demais passarinhos que também cantam e gorjeiam respeitosos e
atentos, se calam completamente. Só se escuta a voz do Uirapuru, consolando sua
amada. Seu canto soa puro e delicado, como o de uma flauta e a Floresta
Amazônica silencia em reverência ao
mestre dos pássaros. Índios e sertanejos se emocionam, porém poucos têm a
oportunidade de ouvir o pequeno pássaro que canta apenas alguns minutos, ao
alvorecer e ao anoitecer, durante os 15 dias do ano em que constróis seu ninho.
Ao som de seu
canto, homens e mulheres apressam-se a fazer pedidos, confiantes de que serão
prontamente atendidos. Muitos buscam suas penas, e até mesmo pedaços do ninho,
aos quais atribuem poderes mágicos. Acreditam que uma de suas pensas dará aos
homens sorte no amor e nos negócios. E um pedaço de seu ninho garantirá às
mulheres a paixão e a fidelidade do amado para sempre.
http://www.youtube.com/watch?v=ZTzTNMgo0NU
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