quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O Pássaro de Fogo - Conto Russo

Bordado por Marie-Thérèse Pfyffer

O Rei estava encantado e a Rainha radiante: o Príncipe acabara de nascer. Nas ruas o povo batia palmas, cantava, dançava e bebia à saúde dele. Depois das festividades, um sábio homem da Pérsia foi ver o Rei; estava com pressa porque quando um homem sábio tem uma notícia ruim, não pode guardá-la para si.
- Majestade – disse, humildemente – vim para trazer uma advertência, que me foi confiada numa visão. Vi seu filho crescer e ficar mais belo ano após ano. Mas, no fim do décimo quinto ano, o Pássaro de Fogo, veio buscá-lo e o levou para o Oeste, para que pudesse seguir seu destino, que é de unir-se à Princesa do Amanhecer.
O Rei ficou enfurecido.
- Guardas, prendam este homem, que ousou perturbar a minha paz!
Porém, quando tentaram agarrá-lo, as mãos dos guardas só encontraram o ar e eles trombaram uns com os outros. E o Rei viu uma fina fumaça cinza sair pela janela e desaparecer na luz do sol. Soube então que o sábio tinha falado a verdade e, daquele momento em diante, guardou ansiosamente o jovem Príncipe.
Quando o Príncipe entrou no seu décimo quinto ano, o Rei o prendeu numa torre alta no meio dos jardins do palácio, mas também lhe deu todo o luxo e conforto, porque o amava muito. Uma grande festa foi organizada para seu aniversário, e o Príncipe teria que se contentar em ver as comemorações da sua janela na torre. Ele implorou a permissão de sair, mas o Rei temia tanto perdê-lo que recusou e o deixou trancado a sete chaves.
O Príncipe, ao ouvir os sons da festa, decidiu desobedecer. Ao anoitecer cortou um tapete em tiras e trançou uma corda com a qual desceu pela janela até o jardim. Começou a caminhar, respirando o ar fresco da noite. De repente avistou ao longe uma luz no meio das árvores. Aproximou-se e descobriu uma vasta caverna com um lago cristalino. E neste lago estava a coisa mais bela que o Príncipe jamais vira: numa moldura de cristal, o retrato de uma linda Princesa cujos olhos encontraram os seus. E o desejo de conhecê-la encheu o coração do Príncipe.
Perto do lago, gigante e esplêndido, o Pássaro de Fogo se preparava para voar, esticando o pescoço, batendo as asas; cada pluma lançava raios que iluminavam tudo ao redor. Olhou para o Príncipe como que dizendo: Não quer voar comigo pelos ares até a Princesa do Amanhecer? O Príncipe se acomodou nas costas do Pássaro de Fogo que alçou vôo, subindo tão alto no céu que quem olhava para cima pensava ter visto passar um meteoro.
Quando o horizonte se tingiu do rosa, o Pássaro de Fogo pousou nos jardins do palácio de cristal do Amanhecer. E o Príncipe viu a Princesa do retrato dormindo no meio das flores. Aproximou-se e tentou acordá-la, soprando nas suas pálpebras, murmurando no seu ouvido, mas ela nem se mexeu. O Pássaro ficou impaciente, pegou o Príncipe no bico e o colocou nas suas costas. Levou-o de volta à caverna, onde o Príncipe passou o dia, com medo que o descobrissem.
Na noite seguinte, voltou para perto da Princesa e tampouco conseguiu acordá-la. Mas, na terceira noite, a Princesa acordou sozinha e viu o Príncipe sentado ao seu lado. Com seu bico, o Pássaro arrancou uma pena de uma asa, a deixou cair aos seus pés e alçou vôo.
Olharam um para o outro. Ela se sentia como se tivesse sonhado com ele a vida toda, para enfim acordar e encontrá-lo. Ele se sentia como se tivesse alcançado o paraíso. Andaram entre as flores e as árvores e todos os pássaros entenderam e cantaram para eles.
Ao anoitecer, a irmã da Princesa, que era uma bruxa, veio ao jardim e escondeu-se para espiá-los. Cheia de inveja, ela lançou um feitiço que deixou o Príncipe como morto nos braços da Princesa; apavorada e com imensa dor, ela chamou seu nome, mas ele não reagiu. Seus ouvidos estavam surdos, seus olhos fechados, não respondia aos seus beijos. A Princesa entendeu que a bruxa tinha tirado e escondido o coração do Príncipe. Ela sabia entretanto: continuava batendo, cheio de vida e de amor por ela.
Descobriu que a irmã tinha saído do palácio montada no cavalo mais veloz. Como poderia segui-la e obrigá-la a devolver a vida para o Príncipe? Lembrou então da pena do Pássaro de Fogo que ela tinha guardado. Com certeza tinha poderes mágicos! A Princesa olhou para a pena, que cintilou e vibrou na sua mão. Desejou que o pássaro a levasse até o coração do Príncipe. Apenas formulado o desejo, ouviu o barulho estrondoso das asas do Pássaro de Fogo que pousou perto dela e a convidou a subir nas suas costas. Ela se aconchegou sobre suas penas macias. Ele alçou vôo e subiu rapidamente bem alto no céu. Deixava um rastro de fogo que iluminava as montanhas e as florestas. Passou pelo sol poente e entrou na Terra da Noite e do Silêncio.
O Pássaro pousou na entrada de uma caverna escura. Arrancou duas penas e as entregou à Princesa. Ela viu que sua luz podia iluminar seu caminho e entrou. Caminhou um pouco e ouviu de longe sua irmã cantando para o coração do Príncipe que tinha escondido num caldeirão. A Princesa correu até o caldeirão e o entornou. Foi tão rápida que a bruxa não pôde impedir e a salmoura do caldeirão respingou no seu rosto. Ela deu um grito horrível e caiu – morta.
Com cuidado, a Princesa pegou o coração de seu amado e o colocou sobre seu peito, pertinho do seu. Então correu até o Pássaro de Fogo que a levou de volta para o Palácio do Amanhecer. Quando abraçou o Príncipe, sentiu seus corações batendo juntos de novo.
O Pássaro alçou vôo mais uma vez, mas tão silenciosamente que não o ouviram. Durante a festa do casamento da Princesa com o Príncipe puderam vê-lo voando alto em largos círculos, sobre o palácio de cristal do Amanhecer.
Reinaram durante longos anos. A cada aniversário de casamento, o Pássaro de Fogo voltava. Eles não o viam, apenas ouviam o bater de suas asas. Sempre trazia como presente uma de suas penas, para que pudessem realizar um desejo seu.

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