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Bordado por Marie-Thérèse Pfyffer |
O Rei estava
encantado e a Rainha radiante: o Príncipe acabara de nascer. Nas ruas o povo
batia palmas, cantava, dançava e bebia à saúde dele. Depois das festividades,
um sábio homem da Pérsia foi ver o Rei; estava com pressa porque quando um
homem sábio tem uma notícia ruim, não pode guardá-la para si.
- Majestade –
disse, humildemente – vim para trazer uma advertência, que me foi confiada numa
visão. Vi seu filho crescer e ficar mais belo ano após ano. Mas, no fim do
décimo quinto ano, o Pássaro de Fogo, veio buscá-lo e o levou para o Oeste,
para que pudesse seguir seu destino, que é de unir-se à Princesa do Amanhecer.
O Rei ficou
enfurecido.
- Guardas, prendam
este homem, que ousou perturbar a minha paz!
Porém, quando
tentaram agarrá-lo, as mãos dos guardas só encontraram o ar e eles trombaram
uns com os outros. E o Rei viu uma fina fumaça cinza sair pela janela e
desaparecer na luz do sol. Soube então que o sábio tinha falado a verdade e,
daquele momento em diante, guardou ansiosamente o jovem Príncipe.
Quando o Príncipe
entrou no seu décimo quinto ano, o Rei o prendeu numa torre alta no meio dos
jardins do palácio, mas também lhe deu todo o luxo e conforto, porque o amava
muito. Uma grande festa foi organizada para seu aniversário, e o Príncipe teria
que se contentar em ver as comemorações da sua janela na torre. Ele implorou a
permissão de sair, mas o Rei temia tanto perdê-lo que recusou e o deixou
trancado a sete chaves.
O Príncipe, ao
ouvir os sons da festa, decidiu desobedecer. Ao anoitecer cortou um tapete em
tiras e trançou uma corda com a qual desceu pela janela até o jardim. Começou a
caminhar, respirando o ar fresco da noite. De repente avistou ao longe uma luz
no meio das árvores. Aproximou-se e descobriu uma vasta caverna com um lago
cristalino. E neste lago estava a coisa mais bela que o Príncipe jamais vira:
numa moldura de cristal, o retrato de uma linda Princesa cujos olhos
encontraram os seus. E o desejo de conhecê-la encheu o coração do Príncipe.
Perto do lago,
gigante e esplêndido, o Pássaro de Fogo se preparava para voar, esticando o
pescoço, batendo as asas; cada pluma lançava raios que iluminavam tudo ao
redor. Olhou para o Príncipe como que dizendo: Não quer voar comigo pelos ares
até a Princesa do Amanhecer? O Príncipe se acomodou nas costas do Pássaro de
Fogo que alçou vôo, subindo tão alto no céu que quem olhava para cima pensava
ter visto passar um meteoro.
Quando o horizonte
se tingiu do rosa, o Pássaro de Fogo pousou nos jardins do palácio de cristal
do Amanhecer. E o Príncipe viu a Princesa do retrato dormindo no meio das
flores. Aproximou-se e tentou acordá-la, soprando nas suas pálpebras,
murmurando no seu ouvido, mas ela nem se mexeu. O Pássaro ficou impaciente,
pegou o Príncipe no bico e o colocou nas suas costas. Levou-o de volta à
caverna, onde o Príncipe passou o dia, com medo que o descobrissem.
Na noite seguinte,
voltou para perto da Princesa e tampouco conseguiu acordá-la. Mas, na terceira
noite, a Princesa acordou sozinha e viu o Príncipe sentado ao seu lado. Com seu
bico, o Pássaro arrancou uma pena de uma asa, a deixou cair aos seus pés e
alçou vôo.
Olharam um para o
outro. Ela se sentia como se tivesse sonhado com ele a vida toda, para enfim acordar
e encontrá-lo. Ele se sentia como se tivesse alcançado o paraíso. Andaram entre
as flores e as árvores e todos os pássaros entenderam e cantaram para eles.
Ao anoitecer, a
irmã da Princesa, que era uma bruxa, veio ao jardim e escondeu-se para espiá-los.
Cheia de inveja, ela lançou um feitiço que deixou o Príncipe como morto nos
braços da Princesa; apavorada e com imensa dor, ela chamou seu nome, mas ele
não reagiu. Seus ouvidos estavam surdos, seus olhos fechados, não respondia aos
seus beijos. A Princesa entendeu que a bruxa tinha tirado e escondido o coração
do Príncipe. Ela sabia entretanto: continuava batendo, cheio de vida e de amor
por ela.
Descobriu que a
irmã tinha saído do palácio montada no cavalo mais veloz. Como poderia segui-la
e obrigá-la a devolver a vida para o Príncipe? Lembrou então da pena do Pássaro
de Fogo que ela tinha guardado. Com certeza tinha poderes mágicos! A Princesa
olhou para a pena, que cintilou e vibrou na sua mão. Desejou que o pássaro a
levasse até o coração do Príncipe. Apenas formulado o desejo, ouviu o barulho
estrondoso das asas do Pássaro de Fogo que pousou perto dela e a convidou a
subir nas suas costas. Ela se aconchegou sobre suas penas macias. Ele alçou vôo
e subiu rapidamente bem alto no céu. Deixava um rastro de fogo que iluminava as
montanhas e as florestas. Passou pelo sol poente e entrou na Terra da Noite e
do Silêncio.
O Pássaro pousou na
entrada de uma caverna escura. Arrancou duas penas e as entregou à Princesa.
Ela viu que sua luz podia iluminar seu caminho e entrou. Caminhou um pouco e
ouviu de longe sua irmã cantando para o coração do Príncipe que tinha escondido
num caldeirão. A Princesa correu até o caldeirão e o entornou. Foi tão rápida
que a bruxa não pôde impedir e a salmoura do caldeirão respingou no seu rosto.
Ela deu um grito horrível e caiu – morta.
Com cuidado, a
Princesa pegou o coração de seu amado e o colocou sobre seu peito, pertinho do
seu. Então correu até o Pássaro de Fogo que a levou de volta para o Palácio do
Amanhecer. Quando abraçou o Príncipe, sentiu seus corações batendo juntos de
novo.
O Pássaro alçou vôo
mais uma vez, mas tão silenciosamente que não o ouviram. Durante a festa do
casamento da Princesa com o Príncipe puderam vê-lo voando alto em largos
círculos, sobre o palácio de cristal do Amanhecer.
Reinaram durante longos anos. A cada aniversário
de casamento, o Pássaro de Fogo voltava. Eles não o viam, apenas ouviam o bater
de suas asas. Sempre trazia como presente uma de suas penas, para que pudessem
realizar um desejo seu.
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