quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Já esta pronto o calendário 2020!
Reserve o seu!!!


Janeiro


Bordado por:  Zélia Melo
Conto:  Curupira
Autor:  Lenda Brasileira
Desenho: Murilo Pagani
Contato: melozelia@terra.com.br
               55 (31) 99984 5072
Fotografia, arte e produção: Henry Yu

A Lenda do Curupira

De estatura baixa, o Curupira possui cabelos cor de fogo e seus pés são voltados para trás. Ele mora na mata e gosta de sentar na sombra das mangueiras para comer os frutos. Lá fica entretido ao deliciar com cada manga. Mas se percebe que é observado, logo sai correndo. “Não adianta correr atrás de um Curupira”, dizem os caboclos, “porque não há quem o alcance”.

A função do Curupira é proteger as árvores, plantas e animais da mata. Para espantar os caçadores e lenhadores, o Curupira emite sons e assovios agudos. Dificilmente é localizado, pois seus pés virados para trás servem para despistar os perseguidores, deixando rastros falsos.
O Curupira adora pregar peças nos visitantes da floresta. Por meio de encantamentos e ilusões, ele os deixa atordoados e perdidos, sem saber o caminho de volta, e o Curupira fica observando e se divertindo. 
Costuma também levar crianças pequenas para morar com ele nas matas. Após encantar as crianças e ensinar os segredos da floresta, devolve os jovens para a família, após sete anos.


Zélia Melo
Curupira
Lenda brasileira



Fevereiro

 Bordado por:  Neuza Oli Veira
Conto:  Aneet a perpiscaz
Autor:  Conto Arménio
Desenho: Murilo Pagani
     55 (31) 3337 7026
Fotografia, arte e produção: Henry Yu

Aneet a perspicaz

Nas terras da Armenia nasceu um belo príncipe  que se chamou Vachagam. Era bonito, cortês com todos e desde cedo se interessou pelo aprendizado de línguas, música, poesia. Mas o que mais o encantava era a caça.
Um dia na entrada do deserto, viu um grupo de mulheres próximas ao poço de água. Aproximou-se e pediu água. Uma das jovens ofereceu uma grande caneca com água fresca e cristalina, mas uma outra jovem questionou tal gesto. O príncipe estranhou pois em sua terra ninguém jamais deixou de oferecer água a um sedento. A segunda jovem explicou que por ele estar com o corpo quente a água não lhe faria bem. Deveria  descansar e depois tomaria água.
O príncipe ficou encantado com o desembaraço da jovem. Chamava-se Aneet, filha do pastor de ovelhas, o velho Aran. Agradeceu e voltou para o palácio. Lá avisou aos pais que havia encontrado a mulher ideal. Imediatamente enviou um emissário à cabana do pastor Aran pedindo sua filha em casamento. A jovem ouviu o pedido e foi logo perguntando:
- Qual a profissão dele?
- Profissão, respondeu o emissário? Ele é um príncipe. Não precisa de ter uma profissão.
- Enquanto ele não tiver uma profissão eu não aceito seu pedido.
 O casal real quando ouviu a resposta da jovem ficou horrorizado mas o jovem gostou. Ela era a sua escolhida mesmo. Desse dia em diante procurou aprender com os especialistas do palácio todo o tipo de profissão. Por fim escolheu a profissão que seu povo era especialista: a arte de tecer tapetes. Aprendeu todo o tipo de nós, desenhos esmerados e atenção no escolher as cores. Teceu um especial com flores típicas e tempos depois enviou à jovem. Ela viu que ele estava
mesmo preparada e já tinha uma profissão. Aceitou o pedido de casamento e as festas foram grandes.
O jovem casal vivia feliz e era amado pelo povo. O tempo passou e logo Vachagan foi coroado rei. O casal estava sempre atento as necessidades do povo que comentava o fato de tecelões estarem sumindo da capital do Reino. Aneet sugeriu que o Rei saísse pela cidade disfarçado para saber o que estava acontecendo. E assim foi feito. O rei começou a ouvir as pessoas e ver que algo estava muito estranho.
 Acompanhou um desses homens e viu que se dirigiam a montanha na saída da capital. Foi junto. E foi aí que descobriu que dentro da montanha estavam aprisionados todos os artesãos sumidos. O tempo passou e a rainha Aneet estava
desesperada sem saber o que havia acontecido. Nesse meio tempo o rei pensou num modo de sair da caverna da montanha. Pensou num desenho muito especial e sugeriu aos falsos artesãos que aquele tapete poderia ser oferecido a reis e rainhas de bom gosto e dinheiro.  E assim fez junto com os companheiros.  
Depois de pronto o falso artesão foi ao Palácio pois sabia que a Rainha Aneet gostava de tapetes finos e bem trabalhados.  Ao chegar ao palácio quase que não conseguem uma audiência com a rainha que estava muito preocupada com o sumiço do Rei e não estava para fazer compras. Mas a insistência de uma das damas da rainha fez com que ela recebesse o vendedor de tapetes.
Quando abriram o tapete ela viu o recado do seu marido, o Rei Vachgagan. Deus ordem aos guardas de aprisionar os falsos tecelões e enviou a guarda real até acavena da montanha onde todos os moradores da cidade e o rei foram  libertados.
E a sabedoria do rei Vachagan e da rainha Aneet ficou conhecida em todo o reino e eles viveram felizes para sempre.

Neuza Oli Vieira
Aneet a Perspicaz
Conto arménio


Aneet, a perspicaz - conto da Armênia
Recontado por Tanya Robyn Batt in: O tecido dos contos maravilhosos – contos de lugares distantes. Tradução de Waldeá Barcellos. Edit. Martins Fontes. SP, 2010.


 Março



Bordado por:  Vani Luiza Cipriano
Conto:  Marama e o Rio dos Crocodilos
Autor:  Conto Africano
Desenho: Demóstenes Vargas
     55 (31) 3226 8207
Fotografia, arte e produção: Henry Yu

Marama e o Rio dos Crocodilos

Marama era uma menininha e, quando seus pais morreram, o chefe da tribo a entregou aos cuidados de uma das mulheres de aldeia. Mas era uma mulher má que batia na menina, não lhe dava nada para comer e só pensava em como se livrar dela. Um dia, ela deu a Marama um pilão pesado, que se usa para descascar arroz, e lhe disse:
- Vá ao rio dos Crocodilos Bama-Bá e lave este pilão para eu poder usá-lo para descascar arroz.
Marama se pôs a chorar, porque o rio era muito afastado, era muito profundo e
caudaloso, cheio de cobras e crocodilos. As pessoas tinham medo de ir até lá e só ás gazelas e os leões iam lá beber. Porém, Marama tinha tal medo de sua madrasta ruim, que pegou o pilão e foi-se embora. No caminho para a floresta ela encontrou um leão. Ele sacudiu sua juba e rosnou com uma voz terrível:
- Como você se chama e para onde você vai?
Marama estava com medo mortal, mas cantou com sua doce voz:
Marama é meu nome
E não tenho mãe...
Vou ao rio
Para lavar este pilão.
Ao rio dos Crocodilos
Minha madrasta me mandou.
Lá só vão gazelas
E leões para beber.
Lá dormem cobras e crocodilos.
- Então vá, Marama, menina sem mãe! - disse o leão. Vá e não tenha medo. Vou cuidar para que as gazelas e os leões não incomodem você quando forem beber.
Marama continuou seu caminho e, quando chegou ao rio, um crocodilo horrendo e velho surgiu na sua frente, abrindo sua enorme boca, seus grandes olhos vermelhos lhe saindo da cabeça.
- Qual é seu nome e para onde você vai? – perguntou.
Marama estava com medo mortal, mas cantou com sua doce voz:
Marama é meu nome
E não tenho mãe...
Vou ao rio
Para lavar este pilão.
Ao rio dos Crocodilos

Minha madrasta me mandou.
Lá só vão gazelas
E leões para beber.
Lá dormem cobras e crocodilos.
- Então vá, Marama, menina sem mãe! – disse o crocodilo. Lave seu pilão e não fique espantada. Vou cuidar para que as cobras e os crocodilos que vivem no rio não incomodem você.
Marama ajoelhou-se na beira do rio e começou a lavar o pilão. Mas estava tão pesado, que lhes escapou das mãos, desaparecendo na água. Marama começou a chorar, porque não podia voltar para casa sem o pilão. De repente, surgiu na água um crocodilo que lhe estendeu um novo pilão, limpinho e branquinho, incrustado de ouro e prata.
- Leve este pilão para casa, Marama, menina sem mãe, e mostre-o a toda aldeia, a fim de que todo mundo saiba que o poderoso Subara, rei do rio dos crocodilos, é seu amigo.
Marama lhe agradeceu e voltou para casa. No caminho, encontrou de novo o leão.
- Deixe-me pegar o pilão, Marama, menina sem mãe – disse ele. É pesado demais para você. Vou levá-lo até sua casa, assim todo mundo vai saber que o poderoso Subara, rei do rio dos crocodilos é seu amigo.
Quando Marama chegou em casa, a madrasta admirou muito o pilão e lhe perguntou onde o havia encontrado. Marama apenas lhe contou que o tinha encontrado no rio dos crocodilos. Então a madrasta pegou outro velho pilão de arroz, afim de também encontrar um novo, branquinho e incrustado de ouro e prata. No caminho para a floresta, encontrou-se com o leão. Meneando a juba, ele rugia com voz terrível:
- Quem é você e para onde vai?
A mulher má teve tanto medo, que não conseguiu dizer uma palavra, pôs se a correr a não mais poder. O leão a seguiu com seus olhos até ela desaparecer entre as árvores, e depois simplesmente levantou os ombros. Quando chegou ao rio, um velho, horroroso crocodilo lhe atravessou o caminho, abrindo uma enorme boca, seus olhos vermelhos e grandes lhe saindo da cabeça.
- Como você se chama e para onde vai? – perguntou.
A mulher má teve tanto medo, que não conseguiu dizer uma palavra e foi pela beira do rio. Não foi muito longe. De todos os lados, os leões e as gazelas que vinham beber no rio a cercaram, assim como as cobras e os crocodilos que viviam no rio, e todos cantavam em coro:
Marama, a menina sem mãe,
pode vir lavar
seu pilão no rio,
pois o poderoso Subara,
rei do rio,
é seu amigo.
Mas para você, mulher má,
o rio dos crocodilos
significa a morte!

E assim foi.

Vaní Luiza Cipriano
Marama e o Rio dos Crocodilos
Conto africano

In: O Quê Conta o Conto?
Jette Bonaventure. Ed. Paulus.


Abril


Bordado por:  Isabelle Marie Reinech Souza
Conto:  As Penas Multicores dos Pássaros
Autor:  Lenda Indígena dos Wichis
Desenho: Murilo Pagani
Contato: isabelle.rsch@hotmail.com
Fotografia, arte e produção: Henry Yu            


As penas multicores dos pássaros

Quando o sol começou a aquecer e clarear os rios e as rochas, as flores e as árvores, os animais e as pessoas, ele os revestiu das mais variadas cores. A relva cintilava sob o orvalho como uma esmeralda, as nuvens eram macias e brancas como a lã de uma vicunha nova, a onça se gabava da beleza de sua pelagem malhada. 
E, contudo, quando distribuía as suas cores, o Sol havia se esquecido de alguém: os pássaros. Eles continuavam pardacentos e manchados como se alguém os tivesse rolado na lama.           A família dos pássaros não parava de protestar contra essa injustiça, mas o Sol - Inti não ouvia seus gritos do alto do céu. 
Os pássaros decidiram então que tinham de ir ver Inti no seu Império dos Céus, para pedir a ele que lhes desse as cores. Na mesma hora, todos se prepararam para partir, toda a tropa se pôs em movimento. Na frente os mais fortes, o condor e a águia. 
Apenas três ficaram no ninho: o Hornero, ou joão-de-barro, porque não podia deixar o seu ninho construído pela metade; a cotovia porque sua cor castanha não a incomodava, e o menor dos beija-flores. Como ele podia se arriscar a fazer uma viagem tão longa com suas asas tão pequeninas e frágeis?
O Sol os viu e se perguntou por que estavam vindo em sua direção. Ele pensou que tinha que fazer algo rapidamente, senão as penas dos infelizes iam se queimar e seriam reduzidas a cinzas. 
Começou a reunir num único bando tudo o que vagava pelos Céus, as nuvens, as brumas e as nebulosidades, os grandes amontoados algodoados, as pequeninas cerrações, os vapores e algumas boas nuvens pesadas de chuva. E quando todos já estavam reunidos, ele deu uma piscadela ao vento, para que este começasse a soprar. 
“Fiuuuuu, fiuuuu”, soprou o vento, e ventou em toda a tropa. As nuvens grandes e pequenas, as brumas e as nebulosidades, os grandes algodoados e as pequeninas cerrações bateram uns nos outros e começou a chover. 
O Sol não esperou mais. Brilhou com toda a força através da chuva, e sobre ela, exatamente acima das aves formou-se um arco-íris, cujas cores brilhantes ofuscavam: vermelho, amarelo, branco, azul, verde, rosa e violeta. 
A águia deu um grito de alegria: 
- Vejam, Inti satisfez nosso desejo! E correu para o arco-íris. 
Que alegria! Todas as aves se atiraram na cor que mais lhes agradava. O cardeal se envolveu inteiramente no vermelho, o íbis no branco, o tucano tingiu de amarelo e vermelho o seu longo bico. E os papagaios? Estes, por brincadeira, rolaram nas cores mais vivas. 
Quando parou de chover nenhuma ave se cansava de contemplar sua beleza. Todas agradeceram ao Sol e cantaram para ele. Inti estava todo sorridente, brilhou para eles ao longo de todo o caminho de volta, pois sabia, que doravante, toda manhã, chegariam até eles os cantos reconhecidos dos pássaros. 
Mas não devemos nos esquecer do beija-flor que não pode ir e que, porém, de todos os pássaros é o que possui as mais belas cores. Como isto aconteceu? Algumas gotas do arco-íris caíram no cálice das flores cujo néctar o beija-flor aspira. Quando ele foi vê-las, e fez com que se inclinassem, elas derramaram na sua plumagem todas as cores do arco-íris e todas as cores das flores. 

Isabelle Marie Reinech Souza
As Penas Multicoloridas dos Pássaros
Lenda indígena dos Wichis

Maio 


Bordado por:  Regina Drumond
Conto:  O País do Nim
Autor:  Walmir Ayala
Desenho: Regina Drumond
Contato: reryreine@gmail.com
Fotografia, arte e produção: Henry Yu


O Pais do Nim 

Era assim no Pais do Nim. Nem não, nem sim.
A porta do País do Nim era de algodão. O clima não era frio nem quente, e as  pessoas não sabiam como se vestir, pois naquele país o sol não aquecia, nem o frio esfriava. Com os guarda chuvas abertos todos esperavam pela chuva ou pelo sol de verão. E... nem a chuva caía, nem o sol aparecia no Pais do Nim. 
Um  belo dia, um menino, um unicórnio e uma moça chegaram até a porta de algodão daquele pais, e... entraram. A estrada não era assim nem assado, era em forma de uma flor de lis. O unicórnio apontando o nariz, cheirou o ar procurando pelo olfato descobrir qual era o charme daquele país. Naquele momento, ficou completamente indeciso sobre o que fazer.
O menino, encostando o ouvido no chão, disse - Estou ouvindo  passos  de  gigantes... seriam eles os habitantes do país do NIm?  E, sem  tempo  da menina responder sim, apareceu um grande rosto de bochechas vermelhas e com grandes olhos azuis. O unicórnio ficou invisível e, imediatamente, a menina abraçou o menino quando apareceu uma grande mão como se fosse uma ponte. E... a menina  e o menino subiram naquela grande mão, que os elevou a altura dos olhos. O gigante era tão alto que a terra  desapareceu. A moça ao perguntar: - Quem é você? teve como resposta: - Eu sou o rei do País do Nim (que significa Não e Sim) - Quer  nos mostrar o seu país?  ela  novamente perguntou e ele disse : - NIm. Naquele instante tudo parou. O rei do país do Nim começou a rir, chegou a rolar no chão e a chorar de tanto rir. A moça e o menino saltaram da grande  mão do gigantesco rei do pais do Nim e ouviram a voz do unicórnio invisível que dizia: - Fujam... fujam para dentro do bosque de Bombril. 
A  moça e o menino obedeceram e passaram aquela noite no pais do Nim. A  floresta de  Bombril era fria, e o unicórnio apareceu e soprou um ar perfumado e um sopro quente sobre eles. Na manhã seguinte perguntaram para as flores de Bombril se eram elas que limpavam as panelas do País do Nim e, como resposta, ouviram : - Nim. O menino e a moça e o unicórnio passaram entre os arbustos como se fossem os macacos num armário de louças. O Bombril, parado como uma mata escura, parecia ser a palha de aço de um jardim de lata. Finalmente... chegaram ao fim do pais do Nim. Naquele momento apareceram algumas crianças com olhar de sem fim, batendo palmas. O menino perguntou se elas estavam felizes e teve como resposta: - Nim (que quer dizer nem não nem sim). O unicórnio perguntou se elas queriam ir com eles e teve como resposta: - Nim. Estas crianças andam, param, choram e sorriem. Não vão para a rua nem sabem se ali moram e, com um olhar triste, dizem: Nim, mostrando  que são os indecisos do país do Nim. 
Finalmente, o menino, o unicórnio e a moça chegam em uma ponte de alfenim, quando  a moça fala: - Se pensarmos muito, estaremos perdidos porque cairemos no abismo do pais do Nim. E, naquele instante, o unicórnio toma a cor azul brilhante como cetim e dele saem duas asas brancas. E ele diz:  - Venham, subam! vamos voar acima do medo pelo pais do Nim. O menino e a moça sobem na garupa do unicórnio e voam sobre a ponte sem tocar o doce, passando pelos ares turvos do pais do Nim. E, com aquele feliz voo, chegam finalmente ao bosque florido do pais do Sim.
E com o Sim andam nas cirandas, cantam nos corais, abraçam as velas dos barcos, deslizam sobre os montes de areia e, cansados, adormecem com sonos e sonhos. E... assim bebem as belezas do país do Sim... até o fim.

Regina Drumond
O País do Nim
Walmir Ayala

O pais do Nim. Walmir Ayala
Editora Villa Rica –  BH e RJ



Junho

Bordado por:  Umeko Marubayashi
Conto:  Orfeu e Euridice
Autor:  Mito Grego
Desenho: Murilo Pagani 
Contato: umemaruba@yahoo.com.br 
Fotografia, arte e produção: Henry Yu


Orfeu e Euridice

Grande herói da Trácia, Orfeu era conhecido não pelas suas qualidades de guerreiro, mas pelas suas qualidades musicais. Filho de Apolo e da musa Calíope, recebeu do pai uma lira como presente e aprendeu a tocar com tanta dedicação e beleza, que ninguém conseguia ficar indiferente ao encanto da sua música. Tanto os seres humanos como os animais, e diz-se que até as árvores e os rochedos, se rendiam ao seu fascínio. Orfeu amava apaixonadamente a ninfa Eurídice. No dia do casamento de ambos, esteve presente Himeneu para abençoar a união, mas o fumo da sua tocha fez lacrimejar os noivos, o que não trouxe augúrios favoráveis. Pouco tempo depois, Eurídice passeava com as ninfas, quando foi surpreendida pelo pastor Aristeu, que, ao vê-la, se apaixonou perdidamente e tentou conquistá-la.
Na sua fuga, Eurídice pisou numa cobra e morreu da picada que esta lhe fez no pé. Orfeu, inconsolável, tocou e cantou aos homens e aos deuses, mas nada conseguiu. Decidiu, então, descer ao reino dos mortos para conseguir recuperar Eurídice. Perante o trono de Hades e Perséfone, Orfeu cantou o seu desgosto e o seu amor dizendo que, se não lhe devolvessem Eurídice, ele próprio ficaria ali com ela, no reino dos mortos. Todos os fantasmas que o ouviam choravam e Hades e Perséfone ficaram tão comovidos que lhe devolveram Eurídice. Mas com uma condição: Orfeu poderia levar Eurídice, mas não poderia olhá-la antes de terem alcançado o mundo superior. Caminhando na frente, Orfeu, que estava quase a chegar aos portões de Hades, com receio de ter sido enganado por Hades, virou-se para trás para confirmar se Eurídice o seguia. Esta, com os olhos cheios de lágrimas, foi levada para o mundo dos mortos, por uma força irreversível. Orfeu tentou alcançá-la, mas sem êxito.
Profundamente triste, Orfeu ficou na margem do rio, durante sete dias, sem comer nem dormir, suplicando a volta de Eurídice. Depois, vagueou triste e solitário pelo mundo, sem nunca mais querer saber de mulher alguma e repelindo todas aquelas que o tentavam seduzir, até que um dia, as mulheres da Trácia, as Mênades, enfurecidas pelo seu desprezo, o mataram. O seu corpo foi atirado ao rio Ebro e levado até à ilha de Lesbos, onde, durante muito tempo, a cabeça de Orfeu, presa numa rocha, proferia oráculos. A sua lira foi colocada num templo de Lesbos. A alma de Orfeu, no entanto, estava liberta, e tão logo se viu livre de suas perversas algozes, o poeta correu para os braços de sua Eurídice,e nunca mais deixou de contemplá-la.
Quanto às Mênades, que tão cruelmente mataram Orfeu, os deuses não lhe concederam a misericórdia da morte. Quando elas bateram os pés na terra, em triunfo, sentiram seus dedos se espicharem e entrarem no solo. Quanto mais tentavam tirá-los, mais profundamente eles se enraizavam. Suas pernas se transformaram em silenciosos carvalhos. E assim, permaneceram pelos anos, batidas pelos ventos furiosos que antes se emocionavam ao som da lira de
Orfeu, até que por fim seus troncos mortos e vazios caíram ao chão.

Umeko Marubayashi
Orfeu e Eurídice
Mito grego


Julho 

Bordado por:  Valeria Inês Pimenta
Conto:  A Lenda de Kuan Yin
Autor:  Mito Chinês
Desenho: Murilo Pagani
Contato: valeria.arteterapia@gmail.com
Fotografia, arte e produção: Henry Yu

A Lenda de Kuan Yin



A Ultima encarnação da bodhisattva Kuan Yin se chamava Miao Shan. Ela era a terceira filha, de um Rei. As lendas contam que quando ela nasceu, a terra tremeu, pétalas de flores invadiram o quarto e uma doce fragrância se espalhou por todo o reino, oque foi interpretado, como um sinal de que havia nascido alguém Divino.
Infelizmente, de posse dessa informação, o Rei e a Rainha se tornaram  gananciosos e assim que ela cresceu, tentaram arranjar-lhe casamento.
A Jovem Miao Shan, que possuía um coração muito bondoso e doce, se recusou a se casar com o pretendente que era muito rico e possuia muitas terras. Ela, desejava entrar para o monastério, e dedicar a sua vida aos trabalhos divinos. Depois do Rei insistir muito, ela concordou em se casar, desde que o rei respondesse a ela três perguntas.
"Poderá ele, aliviar o sofrimento daqueles que envelhecem?"
 O rei respondeu que não.
"Poderá ele, aliviar o sofrimento daqueles que adoecem?"
 O rei respondeu que não.
"Poderá ele, aliviar o sofrimento causado pela morte?"
E mais uma vez o rei respondeu que não.
O rei achando absurdas as perguntas da filha, perguntou se ela conhecia alguém que fosse capaz de tais façanhas, e ela apontou um médico, humilde que tratava a todos sem olhar quem fosse, dizendo que ele poderia aliviar o sofrimento de seu povo, e com ele, Ela se casaria.
O rei ficou furioso com a declaração da filha, e para ensinar-lhe uma lição, ele a mandou para o monastério como ela queria, mas antes mandou instrução aos monges que dessem a ela os trabalhos mais dificieis, e que ninguém a ajudasse para desencorajá-la. Com medo do Rei, os monges a mandavam carregar agua, rachar lenha e outros trabalhos pesados. Eles a mandaram construir um jardim no pátio do monastério cujo o chão era pedregoso de terra batida, e cuidar da cozinha. Miao Shan trabalhava arduamente sem reclamar. E seu espirito bondoso, acabou atraíndo os animais, que a ajudavam com suas tarefas. Logo, Miao Shan tinha criado um jardim lindo que começou a chamar a atenção dos viajantes, e que florescia mesmo no inverno.
Logo a fama da princesa que vivia no Monastério chegou aos ouvidos do rei, e este achando que os monges estavam ajudando Miao Shan, mandou colocar fogo no monastério.
Quando Miao Shan viu o fogo se espalhando, pegou um de seus prendedores de cabelo e furou a lingua, e dela verteu muito sangue com o qual ela apagou todo o fogo do monastério.*
O Rei ao tomar conhecimento do acontecido, ficou apavorado, e mandou matar Miao Shan. Quando o carrasco chegou, ela sorriu para ele, e disse que o perdoava pelo que ele iria fazer. Mais que isso, Miao Shan tomou pra ela, todo o karma da vida de carrasco que ele tinha, para que ele quando morresse, pudesse ir para o Tian*.
Mesmo assim, no momento em que o carrasco baixou o machado sobre Miao Shan, ele se partiu em centenas de pedaços. O mesmo aconteceu com a espada, e a foice. Até as flechas desviavam seu curso dela, não importava a distância. Desesperado, o carrasco se viu obrigado a tirar a vida de Miao Shan com as proprias mãos. E mesmo assim, ela o perdoou. E com todo o karma que ela tirou do carrasco, ela acabou descendo até o ultimo plano do Diyu*.
E lá, ela começou a tomar o karma de todos os assassinos que estavam lá, os liberando de toda a energia negativa, para que eles  pudessem deixar aquele plano, e voltar ao ciclo de reencarnação. Yanluo, com medo de ver seu reino destruido, temendo de que ela libertasse a todos do Diyu, a mandou de volta para o plano dos vivos.
De volta a Terra, ela começou a viajar como eremita, e pouco depois parou em uma caverna, na Montanha da Fragrancia, onde lá se dedicava a meditar e ajudar a quem precisasse.
Passaram-se muitos anos, e o Rei ficou muito doente. Sem conseguir comer ou dormir, os medicos ja desiludidos apenas esperavam pela morte de seu Rei. Foi quando um monge que viajava parou para ver o Rei. E este disse ao rei, que a doença dele tinha cura, mas seriam necessarios os olhos e os braços de alguém que não conhecesse o odio, e que esses fossem doados, sem o desejo de compensação ou reparação. O Rei logo perguntou se em algum lugar do mundo, haveria alguém que pudesse fazer isso por um estranho. Então o Monge contou que havia uma bodhisattva que morava numa caverna da Montanha da Fragrancia que o faria com prazer.
Sabendo disso, o rei mandou um mensageiro à bodhisattva que ao saber da história imediatamente arrancou seus olhos e mandou cortar seus braços para que o rei fosse curado. O mensageiro voltou o mais depressa que pôde e assim que chegou o monge preparou a cura para a doença do rei. Tão pouco o rei foi curado, o Monge sugeriu que este fosse visitar a bodhisattva, e agradecer seu sacrificio. E assim dizendo este desapareceu.
O Rei e a Rainha acreditaram que aquela fora uma intervenção divina, e decidiram ir agradecer a bodhisattva.
Qual não foi a sua surpresa ao encontrar Miao Shan na caverna, sem os olhos ou braços. Emocionados, os pais a abraçaram em lágrimas, e Buddha ouvindo o choro da rainha concedeu a Kuan Yin mil braços por seu sacrificio e assim ela desapareceu. O Rei e a Rainha construíram um templo no local onde ela foi vista pela ultima vez, e passaram a se dedicar ao auxilio dos outros assim como Kuan Yin lhe ensinara.
Depois disso Kuan Yin ascendeu nos planos karmicos, e agora se dedica a ajudar aqueles que sofrem e que têm fé. Em alguns textos ainda do Sutra Lotus, ela diz que não deixará a Terra, enquanto houver dor e sofrimento entre os que aqui vivem.

Valéria Inês Pimenta
A Lenda de Kuan Yin
Mito chinês




Agosto 

Bordado por:  Marie-Thérèse Pfyffer
Conto:  A Rainha das Tulipas
Autor:  Conto Holandês
Desenho: Marie-Thérèse Pfyffer
Contato: mtpfyffer@gmail.com
Fotografia, arte e produção: Henry Yu


 A Rainha das Tulipas

O rico mercador Busbeck tinha prometido à esposa trazer do Oriente um maravilhoso presente. Na Turquia, num mercado, comprou por mil florins um esplêndido tapete enfeitado de graciosas flores brancas. Perto de lá encontrou um jardineiro e suas flores. Ficou surpreso em ver que elas se pareciam muito com as do seu tapete. Em cada pote se erguiam caules altos com corolas multicoloridas, brancas, vermelhas, azuis, amarelas que brilhavam ao sol como fogos na noite.

“Esta flor é realmente a coisa mais bela deste mundo!” disse. O jardineiro concordou:  “Sim, Senhor. É a rainha das tulipas. Olhe bem para ela!” E, por três vezes, a acariciou delicadamente e disse com ar de mistério: “Aproxime a sua orelha da flor e ouvirá sua voz.” Busbeck achou que estava sonhando ao vê-la de repente se transformar numa rainha, só que do tamanho de uma bonequinha. Ela vestia um pequeno manto, usava a coroa real e sorria ao lhe falar em holandês: “Senhor, o acompanharei até a sua pátria e lhe darei todas as alegrias possíveis.” E voltou a ser como as outras, imóvel e muda. Encantado com a lembrança do que viu, Busbeck sentiu seu coração se encher de um tenro amor por esta flor tão charmosa. Comprou a tulipa e foi embora rápido, antes que o jardineiro pudesse mudar de ideia. 

Naquele dia seu navio, carregado de mercadorias, zarpou rumo à Holanda. O mercador pendurou o tapete na parede da cabine e colocou o pote numa mesinha. Assim, o quarto parecia um jardim flutuante. Mas, de repente, uma violenta tempestade sacudiu o navio e quebrou o mastro principal, ondas furiosas varreram o convés, levando tudo consigo. A tripulação mal teve tempo de salvar-se no bote. Com eles estava Busbeck, que via naufragar toda a sua fortuna. Mas tinha conseguido levar consigo o tapete e a tulipa, e pensava: “Graças a Deus! Estou retornando com um presente especial para a minha mulher!”

De volta à pátria, Busbeck foi morar com a esposa numa casinha simples e remota. Ao olhar o tapete enfeitando o quarto e a tulipa na janela, diziam um para o outro: “Estas flores são os nossos filhos e toda nossa alegria! Parece que a rainha das tulipas nos entende e conversa conosco! Sim! Ela nos conta que está feliz porque a amamos!”

Os anos passaram, a tulipa sempre florescia e o casal envelhecia. Uma noite, os dois adormeceram para sempre de mãos dadas. Então a tulipa, como naquele dia na Turquia, voltou a ser rainha. “Acordem e desabrochem!” ordenou. As flores do tapete obedeceram e formaram um canteiro branco no meio da sala. A rainha distribuiu uma a uma todas as suas cores, o canteiro se coloriu e se espalhou pela casa, pelo jardim, pela redondeza. A rainha abaixou a cabeça, deixou cair a sua coroa e sua pétalas, inclinou-se lentamente e foi reencontrar papai e mamãe Busbeck.


Marie-Thérèse Pfyffer
A Rainha das Tulipas
Conto holandês


Conto holandês in: 
Contes et Légendes d’Europe. V2. Société des Produits Nestlé. Vevey. 1952.
Adaptação de Marie-Thérèse Pfyffer


Setembro 



Bordado por:  Vani Luiza e Virginia Senna
Conto:  O Equilibrista
Autor:  Fernanda Lopes de Almeida
Desenho: Fernanda de Castro Lopes
Contato:  vmcsenna@hotmail.com

Fotografia, arte e produção: Henry Yu


“Era uma vez um equilibrista.
Vivia em cima de um fio, sobre um abismo.”


Vaní Luiza e Virgínia Senna
O Equilibrista
Fernanda Lopes de Almeida

O Equilibrista. Fernanda Lopes de Almeida e Fernando de Castro Lopes.
Ed. Ática. 1

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Outubro

Bordado por:  Fernanda Amaral
Conto:  Vinte Mil Léguas Submarinas
Autor:  Júlio Verne
Desenho: Murilo Pagani e Beatriz Machado
Contato:  faamaral@gmail.com
Fotografia, arte e produção: Henry Yu



Vinte Mil Léguas Submarinas

A história começa quando o Professor Aronnax é convidado para compor uma tripulação especial e sair em uma expedição marítima. O objetivo: encontrar um gigantesco animal marinho misterioso, que está causando o naufrágio de vários navios no oceano.
Intrigado e animado com a expectativa de aventura, o professor Aronnax aceita o convite e se junta à tripulação.
Após muitos dias de viagem, o navio do Prof. finalmente encontra e se choca com o misterioso animal. Mas que surpresa! Trata-se, na verdade, de um moderno e poderoso submarino. O nome do submarino é Nautillus, e seu comandante, o Capitão Nemo, um homem sábio e intrigante, que tem aversão às cobranças sociais, e optou  por trocar a vida na sociedade, pela reclusão do fundo do mar.
O Prof. Aronnax e mais dois amigos - seu assistente, Conseil e o comandante Ned Land - são resgatados e aceitos a bordo da Nautillus e passam a enfrentar os mais diversos perigos, como um polvo gigante e tubarões... Contudo, também descobrem as maravilhas do fundo do mar, como tesouros de navios afundados e novas espécies marinhas. 
O livro nos leva a uma verdade viagem nas profundezas oceânicas e nos convidada a refletir sobre o amor pela natureza e pela ciência ao mesmo tempo em que fala sobre a vida em sociedade e a tão sonhada esperança por dias melhores.

"O ma é o grande manancial da natureza. Foi pelo mar que o globo começou, e
quem sabe não terminará? Aqui reina a suprema tranquilidade. O mar não
pertence aos déspotas. Talvez, em sua superfície, eles ainda possam exercer
direitos iníquos, engalfinhar-se, entredevorar-se, estendendo-lhe todos os
horrores terrenos. A dez metros de profundidade, contudo, seu poder cessa, sua
influência se extingue, sua força desaparece"

Fernanda Amaral
Vinte Mil Léguas Submarinas
Júlio Verne
20 mil léguas submarinas. Jules Verne.
Zahar, 2011

Novembro

Bordado por: Celma C. R. Vilela
Conto:  A Filha da Natureza, Criadora do mundo
Autor:  Linda Finlandesa
Desenho:  Celma C. R. Vilela
Contato:  vilelacelma@yahoo.com.br
Fotografia, arte e produção: Henry Yu


A Filha da Natureza, Criadora do mundo

Em todo o universo, apenas três coisas existiam: um rio, onde fluía uma mistura de possibilidades; um espaço, vazio e negro e uma garota. O rio era o poder de movimento do universo. O espaço, o poder do silêncio e a garota, Luonnotar, filha de ambos.
Vivia sozinha. Não caminhava, não corria, não fazia nada; apenas repousava na tranquilidade do espaço, observando o rio fluindo para a eternidade.
Vagava,  observava e esperava.
Certo dia sentiu o desejo e o vazio inimaginável; teve uma idéia e sentiu-a como o nascer do primeiro sol de pensamento, brilhante e forte. Então, ela agiu. Mergulhou do espaço para o rio e como nenhum ato é isento de consequências, pois tudo no universo está conectado, algo aconteceu: uma pata nadou até Luonottar e isso aconteceu porque ela se moveu mudando o eixo do universo. Seu desejo de mudanças criou um novo mundo, no qual uma pata poderia existir.
E a pata botou três ovos sobre os joelhos de Luonottar. O futuro, com todas as suas diversidades, aproximava-se e ela desejou aquele futuro. Cuidou da pata e dos ovos sobre seus joelhos. Inesperadamente, a pata mudou sua posição e os preciosos ovos rolaram para o rio cósmico e se abriram.
Maravilhas jorraram!.
As gemas se juntaram formando uma esfera amarela que se elevou brilhante no céu.
As claras formaram uma lua prateada e dos fragmentos das cascas, cintilaram e resplandeceram incontáveis estrelas. A luz surgiu. Foi mágico.
E Luonottar mergulhou no rio celestial, avistou um pedaço de lama, pegou um pouco, formou um cone e colocou-o na superfície . Ele se elevou, transformando-se em montanha. Mergulhou repetidas vezes e a cada vez criava algo novo: uma ilha, uma árvore, penínsulas, continentes, altos cumes, férteis planícies, flores, vento, rochas, animais, crianças.
No céu, inspiradas, as estrelas se uniram formando símbolos e desenhos. A lua aprendeu a mostrar suas faces; o sol, a nascer e a se por, dividindo em dia e noite o tempo sem fim.
Por fim, cansada, a Criadora sentou-se, apreciou tudo que tinha feito e soube que era bom.

Lenda da Finlândia

A Filha da Natureza, Criadora do Mundo

Longe, muito longe, no fundo do domínio aéreo de Luonnutar, ficava o mar, tambem o infinito. A moça tomou impulso e, a toda a velocidade, desceu das alturas onde vivia. Foi pousar em pleno oceano, sobre a crista da ondas. Quando soprou um vento violento, ela conheceu a tempestade e ficou muito tempo à deriva, jogada de um lado para o outro, como um barquinho frágil.
Depois,  veio a calamaria e Luonnotar sentiu dentro de si uma força nova. Soube então que estava esperando um filho, o qual só nasceria quando ela tivesse  preparado o mundo para recebê-lo.

Mas foi em vão. Estaria condenada a vagar para sempre sobre as ondas? Ficou com medo e chorou, implorando piedade ao Deus supremo , Ukko, senhor das  vastas regiões do ar.
Com os olhos ofuscados pelas lágrimas, não viu a àguia de enormes asas que voava sobre a imensidão marinha. Era uma fêmea, em busca de um lugar para constrir seu ninho. Mas, coitada, aquele mundo de água e vento não lhe oferecia nenhum abrigo,  e ela começou a distanciar-se lançando gritos muito tristes.
Luonnotar ouvi-a e, boiando de costas para melhor enxergar o pássaro, lenantou um joelho sobre as ondas. A águia mergulhou para ilhota providencial, onde logo contruiu um ninho e botou sete ovos - seis de ouro e um de ferro.
A ave chocou os ovos durante três dias. Luonnotar nem ousava mexer-se, mas ao fim do terceiro dia sentiu o joelho arder e não conseguiu permanecer imóvel. Esticou a perna e sacudiu-a. Os Ovos rolaram, cairam na água e quebraram-se. Entretanto, em vez de afundarem, os diferentes elementos que compunham  cada ovo transformaram-se, sob o olhar espantado de Luonnotar. As cascas quebradas dos ovos de ouro ficaram gigantescas. Umas subiram,  bem  leves, até as regiões mais altas do ar, onde, supensas, formaram a abóbada celeste. Outras se juntaram para formar a Terra. As gemeas tornaram-se o Sol; as claras, a Lua. Já os pedacinhos das cascas deram origems estrelas e às nuvens, confrme fossem  dos ovos de ouro ou do ovo de ferro.
Durante nove longos anos, Luonnotar continuou  à deriva. Agora, já podia distrair-se contemplando o novo mundo que a cercava. Mas acabou cansando-se outra vez, pois aquela Terra jovm era inteiramente plana e monótona. Por isso, no décimo verão, Luonnotar resolveu embelezá-la com esculturas. Para esse trabalho de artista, utilizou seu próprio corpo. Onde estendia o braço, nascia um promontório. Modelou o litoral alisando-o com os quadris ou batendo-o com a testa. Seus pés desenharam vales, e suas mãos criaramilhas e rochedos. Mergulhou no fundo do abismo marinho e escavou grutas e cavernas. Onde encostava o corpo, brotaram fontes fontes e rios.

Depois que se afastava, surgiram lagos, os quais serviam de espelho ao sol. Terminado o trabalho, Luonnotar enfim pôs no mundo o filho que trazia no ventre havia tantos anos - o herói Wainamoinen, que seria o primeiro e cultivar a Terra modelada por sua mãe.


Celma C. R. Vilela
A Filha da Natureza, Criadora do Mundo
Lenda finlandesa

https://wwwatosefatos.blogspot.com/2012/07/criacao-do-mundo-finlandia.html?m=0