quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A Guardadora de Gansos - Irmãos Grimm

Bordado por Niná Ligia de Castro

Num reino muito distante vivia uma rainha viúva com a sua única filha, uma moça linda de maravilhosos cabelos dourados. Quando ela atingiu a maioridade, a rainha consentiu o seu noivado com o príncipe de uma terra distante, para que ambos os reinos se unissem, mesmo que a princesa e o príncipe nunca se tivessem visto.
A princesa partiu então para o reino do seu noivo com um suntuoso enxoval, rico em jóias e ouro, e com uma das damas de companhia de sua mãe. Ambas viajavam a cavalo. O cavalo da princesa chamava-se Falada porque sabia falar, mas só ela sabia disto.
Tinham passado algumas horas quando a princesa sentiu sede. Pediu que a dama de companhia lhe trouxesse um pouco de água. No entanto, a dama replicou que fosse ela mesma buscar água. A princesa nada disse, mas ao debruçar-se num riacho ali perto, suspirou de tristeza. Quando voltou para o seu cavalo, este lhe disse "Se a sua mãe tivesse visto isto, o seu coração teria se partido."
Assim que a princesa regressou, a dama a obrigou a trocar de cavalo e de roupas com ela, para que ela pudesse casar com o príncipe. Ainda ameaçou matar a princesa se contasse o que aconteceu. Esta concordou e nada mais disse durante toda a viagem. O único que se mantinha atento era Falada.
Ao chegarem ao reino, todos acreditaram que a dama era a princesa. A verdadeira princesa foi deixada no pátio e a dama foi levada para dentro do palácio. Assim que viu o rei, pediu-lhe que matasse o cavalo, dizendo que estava cheia de dores por sua culpa. Pediu também para que encarregassem a dama que a acompanhava de um trabalho qualquer. O rei mandou matar o cavalo e a princesa virou uma guardadora de gansos.
Ao saber que Falada tinha sido morto, a princesa pediu ao açougueiro a cabeça do cavalo. Como este homem gostava da moça, ele pendurou a cabeça do cavalo numa das portas da cidade, por onde a princesa costumava passar sempre que ia guardar os gansos junto com um rapazinho.
Ao passar pela porta, ela e Falada cumprimentavam-se, e ela ouvia sempre "Se a sua mãe tivesse visto isto, o seu coração teria se partido ". Ao chegarem ao campo o menino se aproximava da princesa e tentava roubar algum cabelo dourado. Mas a princesa encantava o vento, que fazia voar para longe  o chapéu do menino. Assim ela penteava seus cabelos em paz e o rapaz só voltava quando ela já tinha terminado.
Um dia, o rapazinho foi até o rei e pediu para arranjar outra pessoa para guardar os gansos com ele porque aconteciam coisas muito estranhas sempre que ele ia para o campo com a guardadora de gansos. Ao ouvir o relato, o rei resolveu acompanhá-los e viu tudo que acontecia com os seus próprios olhos.
Foi até a casinha onde morava a princesa para perguntar porque ela se comportava assim. A princesa baixou os olhos, dizendo que não podia de forma alguma contar, tinha feito um juramento. O rei aconselhou-a a confiar a verdade ao forno e foi esconder-se do lado de fora para ouvir tudo sem ser visto. A princesa começou a chorar e contou toda a sua triste história ao forno. Imediatamente o rei levou a princesa ao palácio e explicou ao filho o que tinha acontecido. O príncipe se alegrou muito, porque não gostava de sua noiva.
Nessa noite, a princesa jantou na mesa da família real, vestida como a princesa que era. O rei contou a história toda, e perguntou a todos qual castigo deveria ser atribuído à dama. Esta, que não tinha reconhecido nem a princesa nem a história, sugeriu colocar a pessoa num barril com facas e fazê-lo rolar por todas as ruas da cidade. O rei anunciou que a sentencia seria cumprida.
E o príncipe e a verdadeira princesa puderam se casar.

O Brâmane, o Tigre e o Chacal - Conto Indiano

Bordado por  Neuza Oli Veira

Era uma vez um sacerdote brâmane que vivia na Índia. Era bom de coração pois não suportava ver ninguém sofrendo: homem ou animal. Era estimado por todos. Andava por seu país com o objetivo de ajudar a quem precisava. Certo dia passou por uma região e viu um enorme tigre preso sobre uma arvore frondosa. Por ser feroz estava em uma jaula resistente e muito bem fechada. Só quem estivesse do lado de fora poderia abri-la.
-  Irmão Brâmane! Irmão!
O sacerdote parou, olhou para os lados e logo viu que o som vinha das proximidades da jaula do tigre. Era uma voz triste e queixosa.
-  Tenha piedade irmão! Piedade! Não deixe que eu fique preso nesta horrível jaula. Tenho muita sede e fome. Abra para que eu possa saciar minha sede. Aqui dentro está uma verdadeira fornalha. Tenha piedade de mim Irmão Brâmane!
O brâmane que sabia da ferocidade de um tigre lhe disse: - Ah! Irmão tigre! Você está preso porque é feroz e deseja matar as pessoas. E além do mais, saindo daí irá me comer, não é?
-  Eu não faria isso com você irmão brâmane! Não seria tão ingrato! Tenha piedade de um ser vivo que está morrendo de sede.
         O brâmane, sentindo muita pena do pobre tigre abriu a porta da jaula. E foi neste exato momento que o tigre, de um salto só pulou sobre ele dizendo: - A água fica para depois. Agora vou comê-lo todinho.
O brâmane gritou com o tigre lembrando do trato feito.
-  Eu não cumpro tratos. Estou faminto e vou comê-lo agora! E além do mais a minha natureza é esta: comer quando tenho fome!
E foi neste instante que o sacerdote brâmane lembrou de consultar outros seres que pudessem dar sua opinião e que estavam ali por perto. O tigre, sem alternativa, concordou, mas foi dizendo que se todos concordassem ele o comeria.
O tigre e o brâmane se dirigiram a uma figueira e perguntaram: - Ó figueira! Precisamos de sua opinião. Este tigre estava enjaulado. Tinha muita sede e pediu-me que abrisse a portinhola da jaula  para que ele saísse para tomar água. Prometeu que não me comeria. Mas agora.... a história é outra. Você acha correto?
A figueira paralisou o movimento de seus galhos e tristemente falou: - O homem sempre usa a minha sombra para fugir ao calor do sol, mas espalha as minhas folhas e pega meus frutos. Não cria laços. É ingrato. Minha opinião é que o tigre deve comê-lo sim!
O tigre muito alegre se dirigiu ao brâmane para comê-lo ali mesmo. O brâmane, entretanto, lembrou outros seres seriam consultados. Encontraram-se com um camelo.
- Irmão Camelo! Irmão Camelo, - disse o Brâmane, - gostaria de ter sua opinião! 
Contou a mesma história ao camelo.
- Ah! - disse o camelo - quando eu era jovem e trabalhava sem parar o meu amo me dava alimento e abrigo. Agora sou velho, não tenho mais a mesma energia. E ele continua a colocar cargas as mais pesadas sobre o meu pobre lombo, me bate e me deixa com fome!  O tigre deve comê-lo!
E o Brâmane mais uma vez lembrou do trato que haviam feito. Consultaria outros seres. Bem próximo encontraram um boi velho. Estava desanimado, deitado ao longo da estrada. O sacerdote brâmane se dirigiu a ele e perguntou contando-lhe toda a história.
O boi ouviu pacientemente a narração e disse: - Quando era jovem meu amo me alimentava, abrigava e eu era muito considerado. Mas agora sou velho e ele se esqueceu do que fiz por ele. Estou nesta estrada esperando a morte! Estou com o tigre. O brâmane deve ser devorado!
Mais adiante encontraram uma grande águia.
- Irmã Águia! Irmã Águia! Venha dar sua opinião! É sobre coisa séria.
A águia ouviu a história do brâmane e disse que os homens nem sempre foram leiais com ela, pois ao vê-la desejam capturá-la ou mesmo matá-la. Seus ninhos, nos altos dos rochedos são sempre violados. Roubam seus ovos e filhotes. Os homens são extremamente impiedosos. Sua opinião era de que o tigre deva comer o brâmane.
O tigre sabia que teria uma bela refeição. Sentiu que ali os animais tinham mágoa do homem. Restavam somente mais duas opiniões. Continuaram a caminhar até ás margens de um rio e encontraram um velho jacaré que estava se beneficiando com os raios quentes do sol. O brâmane contou-lhe novamente a história. A resposta dele mostrou que também tinha lá suas mágoas. - Não tenho sossego. Nunca matei homem algum, mas se coloco meu focinho para fora da água logo vem um humano querendo me machucar ou mesmo matar. Os homens não dão trégua. O tigre deve matar o brâmane.
O brâmane ainda lembrou ao tigre faminto que ainda restava uma última opinião. E continuaram a caminhar. Encontraram o chacal que andava por ali. O brâmane fez a mesma pergunta e o chacal foi logo perguntando: - Jaula? Que jaula? Não estou entendendo o que falam. Onde estava esta jaula, que tipo era? Grande? Pequena?
O brâmane contou toda a história desde o momento em que vira o tigre e lhe perguntou se achava justa esta atitude do tigre. - Meus amigos! Não posso dar nenhuma opinião se não conhecer bem o local onde tudo aconteceu. Preciso ver a jaula, como estava, como você chegou ao local e muitos outros detalhes. Vamos até lá.
E os três: o brâmane, o tigre e o chacal se dirigiram até a entrada da cidade para ver como tudo havia começado.
- A jaula é esta mesma, - perguntou o chacal?
- Sim, - responderam o tigre e o brâmane.
- E onde estava o amigo tigre? E onde estava você brâmane?
- Eu estava dentro da jaula? Quer ver? - E num salto rápido o tigre entrou novamente na jaula. O brâmane se colocou próximo dizendo que estava naquele mesmo pedaço de chão.
O chacal continuou suas indagações: - E você tigre porque não saiu sozinho? A porta estava aberta ou fechada? Ah, estava fechada e com o seu ferrolho torcido. - Fez com que o brâmane torcesse o ferrolho da jaula, estando o tigre lá dentro.
E assim o chacal resolveu a questão dizendo: - Você tigre deverá aprender a não ser malvado e ingrato. Como pode ter pensado em matar alguém que foi tão misericordioso com você? Agora fique aí dentro da jaula.
E o chacal continuou seu caminho, o brâmane alegre com a esperteza do chacal seguiu para outro lado e o tigre ficou onde estava – preso!

Recontado por Neuza Oli Vieira

Peter Pan - James Matthew Barrie

Bordado por Liliana Viotti

Todas as crianças crescem. Peter Pan não. Ele mora na Terra do Nunca. No começo desta história ele espreita a casa da família Darling na cidade de Londres, pois Wendy, a mais velha dos filhos do casal, crê que ele existe e já convenceu seus irmãos, João e Miguel. Aproveitando a ausência de seus pais, Peter Pan ensina às três crianças o que devem fazer para voar: pensar em algo bom e usar um pó mágico que a fada Sininho joga sobre eles.
Então Peter Pan os leva para um passeio na Terra do Nunca, um ilha encantada que é seu lar. De longe avistam o barco do maquiavélico pirata Capitão Gancho, a aldeia dos índios e a morada dos meninos perdidos. O Capitão Gancho jurou se vingar de Peter Pan porque perdeu uma de suas mãos em um duelo com ele. O crocodilo Tic-Tac a engoliu e segue o navio desde então, pois quer comer o resto. Assim que vê Peter Pan e seus amigos voando, o Capitão Gancho resolve atacá-los. Peter Pan salva Wendy antes que ela caísse no chão.
Os meninos perdidos moram dentro de uma árvore oca. Wendy, que gosta deles, lhes conta lindas histórias. Um dia o Capitão Gancho rapta a Princesa dos índios, para forçá-la a revelar o esconderijo de Peter Pan. Peter Pan e Wendy a libertam. O Capitão Gancho foge, é quase engolido pelo crocodilo Tic-Tac, mas consegue escapar.
Ele não desiste. Desta vez captura os meninos perdidos, Wendy e seus irmãos. As crianças são levadas para o barco pirata de onde serão jogados no mar. Peter Pan chega a tempo de salvar seus amigos com a ajuda de Sininho. Luta com o Capitão Gancho e o derruba, obrigando-o a fugir, sempre perseguido pelo crocodilo Tic-Tac.
Wendy sente saudade de seus pais e volta à sua casa com os irmãos. Ele pede que Peter Pan fique com eles, mas Peter Pan diz não. Ele prefere voltar à Terra do Nunca, assim ele nunca crescerá e poderá continuar brincando com todas as crianças, sempre

Polegarzinha - Andersen

Bordado por Selma Fabrini

Era uma vez uma mulher que queria ter uma criança bem pequena. Uma bruxa lhe deu um grão de cevada para ser plantado num vaso. Nasceu uma flor grande e bonita. Quando a mulher beijou as pétalas coloridas, a flor se abriu e a mulher viu, lá dentro, uma menina pequenininha, do tamanho de uma polegada. Por isso, recebeu o nome de Polegarzinha.
Seu berço era uma casca de noz e o colchão era feito de pétalas de violeta. De dia, brincava em cima da mesa: a mulher enchia um prato com água e, numa folha, Polegarzinha navegava remando com pedacinhos de crina de cavalo e cantava com uma vozinha doce.
Uma noite, Polegarzinha dormia na noz quando entrou pela janela a Dona Sapa, grande, feia e molhada. Pegou a casca de noz e foi embora pulando pelo jardim. De manhãzinha, a menina acordou e começou a chorar, vendo que estava cercada de água, sem poder ir para a terra. Estava numa folha de nenúfar no meio do lago. Dona Sapa, depois de enfeitar a sua casa, nadou com o filho até onde estava Polegarzinha.
— Este é o meu filho que vai casar com você. Vocês vão morar muito bem na lama.
O sapo deu uns gritos, mas Polegarzinha chorou muito. Uns peixinhos apareceram e ficaram com pena dela. Juntaram-se e roeram o caule que prendia a folha. Ela se soltou e foi arrastada pelo rio, levando Polegarzinha para bem longe.
Uma borboleta pousou na folha. A menina, toda contente, amarrou uma ponta do cinto na borboleta e outra na folha, que começou a deslizar mais depressa.
Um besouro se encantou com ela, agarrou Polegarzinha pela cintura e voou para uma árvore. Outros besouros vieram visitar, mas não gostaram:
— Ela só tem duas pernas. Que esquisito! E não tem antenas. Parece gente. Como é feia!
O besouro acabou desistindo dela e a deixou num canteiro de margaridas. Polegarzinha fez uma cama de galhos trançados e a colocou debaixo de uma folha bem grande para não apanhar chuva. Comia néctar das flores, bebia orvalho das folhas e os pássarinhos cantavam para ela. Passaram o verão e o outono.
Quando o inverno chegou, os passarinhos foram embora para terras quentes e as flores murcharam. Polegarzinha começou a sentir frio. Um só floco de neve cobria seu corpinho pequenininho. Ela foi pedir ajuda na casa dos ratos do campo. Dona Rata teve pena dela.
— Entre, menina. Minha casa é quentinha. Venha comer. Você pode ficar durante o inverno, se me ajudar a limpar tudo e me contar histórias.
A menina ficou muito contente e fez o que foi pedido. Tinha um túnel entre a casa da Dona Rata e a do vizinho, o Senhor Toupeira. Um dia acharam lá uma andorinha morta de frio. Polegarzinha ficou com muita pena. De noite, não conseguiu dormir. Levantou-se e fez um cobertor, que levou para cobrir o pássarinho morto.
— Adeus, andorinha! E obrigada pelo seu canto do verão!
Mas quando encostou a cabeça no peito do passarinho levou um susto: ouviu bater o coração. Ele não estava morto só precisava ser aquecido. Na noite seguinte, Polegarzinha trouxe água numa pétala e o passarinho abriu os olhos por um momento.
Polegarzinha tratou dele durante todo o inverno, sem falar nada com o Senhor Toupeira e com Dona Rata. Quando a primavera chegou e o sol esquentou o chão, Polegarzinha abriu um buraco e a andorinha saiu voando.
— No verão você pode fazer o seu enxoval — disse Dona Rata. —  O Senhor Toupeira vai ser um bom marido. Ele é rico e tem uma cozinha muito boa.
Polegarzinha não queria casar e morar debaixo da terra, mas não sabia como escapar. No dia do casamento, quando o Senhor Toupeira veio buscar a noiva, Polegarzinha foi até a frente da casa para despedir-se do sol, que nunca mais ia ver. Nesse momento, escutou um canto e viu chegar a andorinha, que disse:
—Você quer vir comigo? Vamos para onde o sol brilha e onde há sempre flores!
Polegarzinha sentou-se nas costas do passarinho, amarrando-se muito bem com o cinto. Voaram por cima de mares, florestas e montanhas. Chegaram na terra quente, cheia de sol, céu azul e árvores perfumadas carregadas de frutas. Crianças corriam nas estradas brincando com borboletas coloridas. Polgarzinha estava radiante.
No chão cresciam flores lindas. No meio de uma flor, estava sentado um homenzinho transparente. Tinha uma coroa de ouro, asas nos ombros e era do tamanho de Polegarzinha. Era o Príncipe das Flores. Ele achou Polegarzinha a menininha mais bonita que ele tinha visto. Tirou a coroa da cabeça e colocou nela. Perguntou o seu nome e quis saber se ela queria casar com ele, tornando-se Princesa das Flores. Como ele era diferente do filho feio da Dona Sapa, como era diferente do Senhor Toupeira com sua capa preta! Ela disse que sim. De cada flor saiu um homenzinho ou uma mulherzinha com presentes para ela. O melhor presente foi um par de asas, que foram coladas nas suas costas. Agora a menina podia voar de uma flor para outra com o Príncipe. Todos estavam muito contentes e a andorinha cantava com alegria.
— Seu nome não vai ser mais Polegarzinha — disse o Príncipe das Flores. —Você vai se chamar agora Maia.
— Adeus! — disse o passarinho. E foi embora de novo em direção à Dinamarca. Lá ele tinha um ninho na janela da casa de um grande contador de histórias. Foi dele que eu ouvi esta.

O Gato de Botas - Perrault

Bordado por Regina C. Drumond

Um moleiro com três filhos à hora da morte repartiu seus únicos bens: ao mais velho deu um moinho; ao filho do meio, o seu burro; e ao mais moço um gato. Este ficou muito triste com a sua  herança, mas o esperto gato lhe disse: —  Meu querido amo, se você me comprar um par de botas e um saco eu lhe provarei que sou  um presente muito melhor que um moinho ou um asno.
O rapaz gastou todo o seu dinheiro ao comprar um lindo par de botas e um saco para o seu gato, que calçou as botas, colocou o saco com farelos em suas costas, e foi para um sítio onde havia uma coelheira. Lá chegando abriu o saco, deitou-se no chão fingindo de morto.
Ao sentir o cheiro do farelo um coelho saiu de seu esconderijo e entrou dentro daquele saco. O gato o levou  ao rei, dizendo-lhe: — Senhor, meu nobre amo Marquês de Carabás enviou-lhe este coelho que pode ser um prato delicioso.
— Coelho? — disse o rei. — Gosto muito de coelhos e o meu cozinheiro nunca assou um. Fale com o seu amo que agradeço este presente.
No dia seguinte o gato levou duas perdizes para o rei como outro presente do marquês de Carabás. O rei, feliz, mandou preparar a sua carruagem e com a sua filha foi até a casa do nobre súdito para agradecer os preciosos presentes.
O esperto gato falou com seu amo: — Vou lhe mostrar um lugar muito especial para tomar um belo banho de rio. — E o levou até onde passaria a carruagem real, pedindo ao amo para tirar a roupa e colocar sob uma pedra para se banhar no rio. Ao chegar o rei e a princesa o gato logo gritou: — Socorro! Socorro!
— Que aconteceu? — perguntou o rei.
— Os ladrões roubaram a roupa do Marquês de Carabás! Meu amo está dentro da água e com certeza terá muitas câimbras, — disse o gato.
Imediatamente, o rei mandou seus servos ao palácio para buscar uma roupa de gala que o rei usava quando jovem. O dono do gato vestiu a roupa do rei e tão bonito ficou que a princesa dele se enamorou.
O gato feliz com o sucesso de seu plano correu pelos campos na frente da carruagem e,  por onde passava, dizia aos lavradores: — O rei está chegando; se não disserem que  estas terras pertencem ao Marquês de Carabás, vocês se tornarão carne de almôndegas.
E, quando o rei perguntava de quem eram aquelas terras, os lavradores respondiam que eram do nosso nobre marquês de Carabás.
Disse o rei ao filho mais novo do moleiro: — Que lindas propriedades você tem!
O moço sorria feliz e o rei dizia para a filha: — Eu também era assim na minha mocidade.
Ao encontrar camponeses colhendo trigo, o gato  fez a mesma ameaça: — Se não disserem que todo este trigo pertence ao Marquês de Carabás, faço picadinho de vocês.
E, quando o rei perguntava de quem era todo aquele trigo, todos respondiam que era do Marquês de Carabás. O rei ficou muito entusiasmado com todas as propriedades do Marquês. E o gato continuava sempre correndo à frente da carruagem, até que atravessando um imenso bosque, chegou a um belo palácio onde vivia um ogro, que era o verdadeiro dono de todas as terras cultivadas. O gato abrindo a porta disse ao ogro:
— Meu querido ogro, ouvi dizer que você se transforma em grandes animais, é verdade que  pode se transformar no que quiser?
— Certíssimo, respondeu o ogro e, imediatamente, se transformou num leão. E o rato disse: — Isso não tem vantagem, pois qualquer um pode se tornar maior, mas a verdadeira arte está em ser menor. Poderia se transformar em rato?
— Ah, ah... Isto é muito fácil, — disse o ogro, e transformou-se num rato. O esperto gato imediatamente comeu o rato. Ele foi abrir a porta no momento que chegava a carruagem e disse: — Bem vindo, Majestade, a este suntuoso palácio do Marquês de Carabás.
O rei ficou maravilhado com o palácio do Marquês! E pediu para o Marquês ajudar a princesa a descer da carruagem. Muito tímido, o filho do moleiro ofereceu o braço à princesa. O esperto gato mandou preparar um almoço para o rei, a princesa e seu amo e serviu os melhores vinhos. Ao terminar o almoço, o rei disse: — Marquês, você é tão tímido como eu quando jovem, mas sinto que gosta muito da princesa e ela de você. Por que não se casa com ela?
O moço pediu a mão da princesa e o casamento foi uma grande festa, onde o gato estava com um novo par de botas, com chapéu com preciosos diamantes e roupa bordada de ouro.
E assim todos viveram felizes para sempre. E hoje ainda o gato corre atrás dos ratos, mas para se divertir, porque não mais precisa de ratos para matar a sua fome.
Recontado por Regina, baseado em texto da internet

Pinóquio - Carlo Callodi

Bordado por Malu Furtado

Gepeto, um antigo carpinteiro, já idoso e solitário, em certa noite iria jogar um pedaço de madeira na lareira, mas decidiu entalhá-la, construindo um lindo boneco de madeira. Chamou-o Pinóquio. Sentindo-se muito sozinho, e tendo como companhia apenas um gato, desejava que aquele boneco de madeira fosse um menino de verdade, fosse o filho que nunca teve. Então pediu a uma estrela cadente que realizasse seu desejo.
Assim que o bom velho Gepeto adormeceu a fada veio ao encontro de Pinóquio e realizou o pedido do carpinteiro, dando vida ao boneco de madeira, mas ressaltou que ele só se tornaria um menino de verdade se fosse bem obediente e nunca mentisse, pois a cada mentira lembraria que ainda era de madeira, porque seu nariz cresceria como o galho de uma árvore.
No dia seguinte, Gepeto, ao acordar, deparou-se com Pinóquio falando, andando e chamando-o de pai, quase como um garoto de verdade. O pai então, sem perder tempo algum, resolveu mandar Pinóquio para a escola. O boneco falante foi todo feliz. Porém, no caminho, para seu infortúnio, deparou-se com dois espertalhões, que fizeram-lhe falsas promessas de divertimento, em um local onde só haveria alegria. Pinóquio em sua plena inocência acreditou nos maltrapilhos e seguiu-os, dando todo o dinheiro que Gepeto havia lhe proporcionado aos bandidos.
Chegando nesse lugar ilusório, juntamente com muitas outras crianças, também enganadas, Pinóquio começou a se divertir, esquecendo da promessa que havia feito ao pai e a fada. Quando de repente, percebeu que seu nariz de fato havia crescido e estava fielmente com orelhas de burro, tornando-se rapidamente um asno. Todas as crianças presas ali passavam pela mesma transformação e o dono do lugar as transformaria em criaturas de circo.
Em desespero, Pinóquio, seguindo o conselho de sua consciência denominado "Grilo Falante", clamou pela fada, que viesse em seu auxilio e o ajudasse, dando-lhe mais uma chance. Conseguiu fugir.
Gepeto já estava preocupado pela demora do filho e resolveu sair a sua procura. Para voltar para casa Pinóquio tinha que atravessar o mar, mas acabou sendo engolido por uma baleia. Gepeto, ouvindo informações de onde o filho poderia ter passado lançou-se ao mar em  busca dele, e... também foi engolido, surpreendentemente, pela mesma baleia. E encontrou Pinóquio na barriga daquele enorme mamífero. Juntos pai e filho conseguiram sair intactos de lá.
Pinóquio tendo se tornado bom e verdadeiro, teve como presente da bondosa fada transformar-se em um menino de verdade.

João e o Pé de Feijão - Conto Inglês

Bordado por Rosângela Gualberto

Era uma vez um menino chamado João, que vivia com sua mãe numa casinha humilde, no meio da floresta. Eles eram muito pobres e mal tinham o que comer. Mas as coisas nem sempre foram assim. Até o pai de João desaparecer misteriosamente, eles eram ricos e não lhes faltava nada.
Por sorte, ainda possuíam uma vaca, que lhes dava um pouco de leite todos os dias. Um dia, sem ter o que comer e nem leite para beber, pois a vaca estava muito velha e havia parado de dar leite, a mãe de João mandou que ele vendesse a vaca no mercado e com o dinheiro comprasse comida.
No meio do caminho, porém, João encontrou um homem que lhe ofereceu alguns feijões mágicos em troca da vaca. João trocou na hora a vaca pelos feijões. Quando chegou em casa, contou para a mãe o que havia feito e levou uma bronca. A mãe, nervosa, jogou os grãos de feijão pela janela e eles foram dormir sem comer nada.
No dia seguinte quando acordou, João viu que um enorme pé de feijão havia nascido no quintal, ao lado da janela do seu quarto. Curioso como era, João resolveu subir pelo pé de feijão, para ver onde ia dar.
Depois de horas subindo, João chegou a um lugar estranho e viu um castelo enorme. Entrou sem fazer barulho e descobriu que ali morava um gigante, que estava dormindo e roncando muito alto.
João andou por ali e descobriu que o gigante tinha uma galinha mágica que colocava ovos de ouro e muitas outras riquezas. Encontrou um grande saco de pano e, sem perda de tempo, botou tudo o que pode no saco e desceu pelo pé de feijão.
De volta à casa, João levou  bronca da mãe. Ela ficou feliz com tudo o que João havia trazido, mas ordenou que ele nunca mais subisse pelo pé de feijão. João prometeu que nunca mais iria ao castelo do gigante. Alguns anos se passaram e o pé de feijão continuava ali, firme. João um pouco mais crescido, ainda sentia vontade de voltar ao castelo. Um dia, aproveitando-se da distração da mãe, subiu o pé de feijão e tornou a entrar no castelo. Desta vez, porém, o gigante estava acordado e logo percebeu a presença do menino.
João se escondeu em um canto enquanto o gigante, com passos pesados, caminhava pelo castelo todo procurando por ele. De repente, João viu uma jaula, com um homem preso dentro dela. Aproximou-se e reconheceu seu pai, que havia desaparecido misteriosamente anos atrás. Contou-lhe que era seu filho e que estava ali para salvá-lo e levá-lo de volta para casa. O homem ficou feliz, mas advertiu João de que as chaves da jaula estavam em poder do gigante, e ele as guardava dentro da camisa, para ninguém mexer.
O gigante não parava de andar pra lá e pra cá, à procura dele. Até que ficou com fome, chamou a mulher e pediu uma enorme quantidade de comida. Comeu até não poder mais e, por fim, adormeceu. João esperou a mulher sair e, aproveitando-se do sono pesado do gigante, aproximou-se dele, abriu sua camisa e já ia pegar as chaves quando a mulher apareceu e gritou.
O gigante acordou, mas não conseguiu achar João, que, por ser bem pequeno havia conseguido se esconder rapidamente. A mulher e o gigante pensaram que João havia fugido assustado e o gigante dormiu novamente.
João esperou um tempo e voltou a se aproximar do gigante. Dessa vez, conseguiu pegar as chaves. Sem fazer barulho, foi até onde estava o pai e abriu a jaula. Os dois se abraçaram emocionados. De repente, o gigante acordou e, quando viu João e o pai abraçados, tentou agarrá-los. João pegou o pai pela mão, pedindo que não tivesse medo, e correram para o pé de feijão.
Desceram apressados e, após muitas horas, chegaram em casa. A mãe de João ficou muito feliz ao ver o marido depois de tantos anos mas, ainda assim, deu outra bronca em João. Então, eles ouviram um barulho enorme, vindo do céu: era o gigante descendo pelo pé de feijão, furioso, dizendo que iria se vingar de todos. João pegou um machado e com golpes rápidos e certeiros cortou o pé de feijão. O gigante caiu lá do alto e morreu na hora.
A partir desse dia, João e seus pais viveram muito felizes, pois agora eram ricos novamente e nunca mais ia lhes faltar nada.
Baseado em “João e o pé de feijão”. Edição Cor e Fantasia – Minuano

O Pássaro de Fogo - Conto Russo

Bordado por Marie-Thérèse Pfyffer

O Rei estava encantado e a Rainha radiante: o Príncipe acabara de nascer. Nas ruas o povo batia palmas, cantava, dançava e bebia à saúde dele. Depois das festividades, um sábio homem da Pérsia foi ver o Rei; estava com pressa porque quando um homem sábio tem uma notícia ruim, não pode guardá-la para si.
- Majestade – disse, humildemente – vim para trazer uma advertência, que me foi confiada numa visão. Vi seu filho crescer e ficar mais belo ano após ano. Mas, no fim do décimo quinto ano, o Pássaro de Fogo, veio buscá-lo e o levou para o Oeste, para que pudesse seguir seu destino, que é de unir-se à Princesa do Amanhecer.
O Rei ficou enfurecido.
- Guardas, prendam este homem, que ousou perturbar a minha paz!
Porém, quando tentaram agarrá-lo, as mãos dos guardas só encontraram o ar e eles trombaram uns com os outros. E o Rei viu uma fina fumaça cinza sair pela janela e desaparecer na luz do sol. Soube então que o sábio tinha falado a verdade e, daquele momento em diante, guardou ansiosamente o jovem Príncipe.
Quando o Príncipe entrou no seu décimo quinto ano, o Rei o prendeu numa torre alta no meio dos jardins do palácio, mas também lhe deu todo o luxo e conforto, porque o amava muito. Uma grande festa foi organizada para seu aniversário, e o Príncipe teria que se contentar em ver as comemorações da sua janela na torre. Ele implorou a permissão de sair, mas o Rei temia tanto perdê-lo que recusou e o deixou trancado a sete chaves.
O Príncipe, ao ouvir os sons da festa, decidiu desobedecer. Ao anoitecer cortou um tapete em tiras e trançou uma corda com a qual desceu pela janela até o jardim. Começou a caminhar, respirando o ar fresco da noite. De repente avistou ao longe uma luz no meio das árvores. Aproximou-se e descobriu uma vasta caverna com um lago cristalino. E neste lago estava a coisa mais bela que o Príncipe jamais vira: numa moldura de cristal, o retrato de uma linda Princesa cujos olhos encontraram os seus. E o desejo de conhecê-la encheu o coração do Príncipe.
Perto do lago, gigante e esplêndido, o Pássaro de Fogo se preparava para voar, esticando o pescoço, batendo as asas; cada pluma lançava raios que iluminavam tudo ao redor. Olhou para o Príncipe como que dizendo: Não quer voar comigo pelos ares até a Princesa do Amanhecer? O Príncipe se acomodou nas costas do Pássaro de Fogo que alçou vôo, subindo tão alto no céu que quem olhava para cima pensava ter visto passar um meteoro.
Quando o horizonte se tingiu do rosa, o Pássaro de Fogo pousou nos jardins do palácio de cristal do Amanhecer. E o Príncipe viu a Princesa do retrato dormindo no meio das flores. Aproximou-se e tentou acordá-la, soprando nas suas pálpebras, murmurando no seu ouvido, mas ela nem se mexeu. O Pássaro ficou impaciente, pegou o Príncipe no bico e o colocou nas suas costas. Levou-o de volta à caverna, onde o Príncipe passou o dia, com medo que o descobrissem.
Na noite seguinte, voltou para perto da Princesa e tampouco conseguiu acordá-la. Mas, na terceira noite, a Princesa acordou sozinha e viu o Príncipe sentado ao seu lado. Com seu bico, o Pássaro arrancou uma pena de uma asa, a deixou cair aos seus pés e alçou vôo.
Olharam um para o outro. Ela se sentia como se tivesse sonhado com ele a vida toda, para enfim acordar e encontrá-lo. Ele se sentia como se tivesse alcançado o paraíso. Andaram entre as flores e as árvores e todos os pássaros entenderam e cantaram para eles.
Ao anoitecer, a irmã da Princesa, que era uma bruxa, veio ao jardim e escondeu-se para espiá-los. Cheia de inveja, ela lançou um feitiço que deixou o Príncipe como morto nos braços da Princesa; apavorada e com imensa dor, ela chamou seu nome, mas ele não reagiu. Seus ouvidos estavam surdos, seus olhos fechados, não respondia aos seus beijos. A Princesa entendeu que a bruxa tinha tirado e escondido o coração do Príncipe. Ela sabia entretanto: continuava batendo, cheio de vida e de amor por ela.
Descobriu que a irmã tinha saído do palácio montada no cavalo mais veloz. Como poderia segui-la e obrigá-la a devolver a vida para o Príncipe? Lembrou então da pena do Pássaro de Fogo que ela tinha guardado. Com certeza tinha poderes mágicos! A Princesa olhou para a pena, que cintilou e vibrou na sua mão. Desejou que o pássaro a levasse até o coração do Príncipe. Apenas formulado o desejo, ouviu o barulho estrondoso das asas do Pássaro de Fogo que pousou perto dela e a convidou a subir nas suas costas. Ela se aconchegou sobre suas penas macias. Ele alçou vôo e subiu rapidamente bem alto no céu. Deixava um rastro de fogo que iluminava as montanhas e as florestas. Passou pelo sol poente e entrou na Terra da Noite e do Silêncio.
O Pássaro pousou na entrada de uma caverna escura. Arrancou duas penas e as entregou à Princesa. Ela viu que sua luz podia iluminar seu caminho e entrou. Caminhou um pouco e ouviu de longe sua irmã cantando para o coração do Príncipe que tinha escondido num caldeirão. A Princesa correu até o caldeirão e o entornou. Foi tão rápida que a bruxa não pôde impedir e a salmoura do caldeirão respingou no seu rosto. Ela deu um grito horrível e caiu – morta.
Com cuidado, a Princesa pegou o coração de seu amado e o colocou sobre seu peito, pertinho do seu. Então correu até o Pássaro de Fogo que a levou de volta para o Palácio do Amanhecer. Quando abraçou o Príncipe, sentiu seus corações batendo juntos de novo.
O Pássaro alçou vôo mais uma vez, mas tão silenciosamente que não o ouviram. Durante a festa do casamento da Princesa com o Príncipe puderam vê-lo voando alto em largos círculos, sobre o palácio de cristal do Amanhecer.
Reinaram durante longos anos. A cada aniversário de casamento, o Pássaro de Fogo voltava. Eles não o viam, apenas ouviam o bater de suas asas. Sempre trazia como presente uma de suas penas, para que pudessem realizar um desejo seu.

Alice no País das maravilhas - Lewis Carroll


Bordado por Ilka Finotti

Sentada no jardim com sua irmã, Alice vê passar o Coelho Branco de colete, apressadíssimo, carregando um relógio de bolso. Segue-o até à sua toca, entra atrás dele e cai num poço profundo com paredes cobertas de prateleiras cheias de objetos estranhos e livros. Finalmente aterrissa segura num átrio onde vê uma mesinha de vidro e, em cima dela, uma pequena chave dourada. Ela descobre que a chave abre uma pequena porta que dá para um lindo jardim. No entanto, a porta é muito pequena para ela conseguir passar. Alice bebe de uma pequena garrafa com uma etiqueta BEBA-ME e diminui de tamanho. Infelizmente, esqueceu a chave em cima da mesa e agora não consegue alcançá-la. Descobre debaixo da mesa uma caixinha com um bolo com as palavras COMA-ME e, ao comê-lo, o tamanho de Alice aumenta e ela fica enorme.
Alice cresce até atingir nove metros de altura. Chora tanto que cria um lago de lágrimas. O Coelho Branco atravessa o átrio e, ao ver Alice tão grande, foge deixando cair as luvas e o leque que trazia. Alice os apanha do chão, e como faz calor, não para de refrescar-se com o leque o que, sem que ela perceba, reduz a sua altura; felizmente ela para de abanar-se antes de desaparecer totalmente. Entretanto escorrega e mergulha até ao pescoço no lago de lágrimas que ela própria criou. Aí encontra o Rato que a ajuda a atravessar. Na margem encontram uma grande quantidade de animais, todos molhados, que tentam arranjar uma solução para secarem seus pêlos e suas penas. Um dodo decide que os todos devem correr em círculos.
O Coelho Branco passa por Alice e, confundindo-a com a sua empregada, fica bravo e ordena que vá até sua casa e traga imediatamente umas luvas e um leque. Assustada, Alice obedece. No quarto do Coelho Branco ela encontra uma garrafa, que ela bebe porque está cansada de ser to pequena. O seu tamanho aumenta até ela ocupar toda a casa, um braço saindo pela janela e um pé pela chaminé. Impedido de entrar, o Coelho Branco manda o seu servo, um lagarto chamado Bill, entrar pela chaminé, mas Alice lhe dá um pontapé que o faz voar longe. O Coelho Branco começa a atirar pedras para a janela que, quando caem no chão, transformam-se em bolos com uma aparência deliciosa. Alice come alguns e fica pequena de novo. Consegue sair da casa e foge para um denso bosque, onde encontra a Lagarta Azul sentada num cogumelo, fumando calmamente o seu cachimbo de água.
A Lagarta Azul ensina que um dos lados do cogumelo faz crescer e a outra diminuir. Alice tenta primeiro o lado direito e diminui tanto de altura que até acerta com a cabeça nos próprios pés. Experimenta então o lado esquerdo e cresce de tal forma que atinge a copa de uma árvore. Imediatamente come mais um pedaço do cogumelo e volta ao seu tamanho normal.
Alice encontra o Gato de Cheshire e lhe pergunta que caminho seguir. O gato diz que se ela não sabe onde ir, qualquer caminho serve,  acrescentando que todos são loucos, inclusive ele próprio e Alice, e sugere que ela faça uma visita ao Chapeleiro Maluco. E desaparece lentamente, deixando apenas o seu sorriso.
Alice chega numa festa de chá louca, onde estão presentes o Chapeleiro Maluco, o Coelho Branco, a Lebre de Março e o Arganaz, que fica dormindo. O Chapeleiro Maluco revela que vive bebendo chá porque o Tempo parou às 6 da tarde, a hora do chá. Todos eles falam coisas sem pé nem cabeça e desafiam Alice com enigmas lógicos que não têm resposta. Alice sente-se insultada e cansada e sai afirmando que esta era a festa mais estúpida em que já tinha ido. Mais adiante abre uma porta no tronco de uma árvore e, chega no átrio inicial. Desta vez, destranca primeiro a pequena porta, depois come um pedaço do cogumelo que estava guardado no seu bolso, e entra finalmente no tão desejado jardim.
No jardim vê três cartas de um baralho discutindo entre si enquanto pintam rosas brancas com tinta vermelha, dado que a Rainha de Copas odeia rosas brancas. Mas são interrompidos por uma procissão de cartas, onde estão presentes os reis, as rainhas e até mesmo o Coelho Branco. Alice conhece então o Rei e a Rainha de Copas. A Rainha é sempre de mau humor e grita “Cortem-lhe a cabeça!” assim que alguém lhe desagrada. Alice é convidada para jogar uma partida de críquete com a Rainha e o resto dos seus súbitos. Mas o jogo é um caos porque usam flamingos vivos como marretas, ouriços vivos como bolas e cartas vivas como balizas. Aparece a cabeça do Gato de Cheshire e a Rainha de Copas ordena que seja decapitado. Mas o capataz se recusa a cortar cabeças sem corpo.
O Valete de Copas é levado a julgamento, acusado de roubar as tortas da Rainha. No jurado há doze animais, incluindo o lagarto Bill; o juiz é o Rei de Copas e o cargo de oficial de diligências é desempenhado pelo Coelho Branco. A primeira testemunha é o Chapeleiro Maluco, que não ajuda em nada, mas torna o Rei impaciente. A segunda testemunha é uma cozinheira. A outra testemunha é a própria Alice que, desde o início do julgamento, começou a crescer novamente e derruba acidentalmente os jurados.  
O Rei ordena que “todas as pessoas de dois quilômetros de altura” saíssem, mas Alice se recusa a obedecer. A Rainha ordena tipicamente “Cortem-lhe a cabeça!” Alice não tem medo porque já é muito alta e eles, afinal, são apenas um baralho de cartas. Nisto o baralho todo ataca.
Ela se debate e, de repente, acorda deitada no colo da irmã, que está tirando do seu rosto folhas que caíram. Alice lhe conta tudo o que aconteceu no seu estranho sonho.

A Origem dos Índios Karajá - Uma Lenda Brasileira

Bordado por Vani Luíza Cipriano
No início dos tempos, quando foram criados pelo Ser Supremo – KANANCIUÉ - , os Karajá eram imortais. Viviam felizes como peixes – aruanãs. Não conheciam nada que não fosse dos rios e das águas. Não conheciam o sol, nem a lua, nem as plantas. Nem animal algum que não fosse dos rios.
No fundo do rio onde viviam havia um buraco pelo qual vinha uma luz que os fascinava. Essa luz ressaltava as cores das escamas e de tudo que existia por perto. Quando se aproximavam daquele buraco, ficavam curiosos. Tentavam ver com ansiedade o que era aquilo. Por causa da luminosidade, não conseguiam divisar o que existia além do buraco.
Como seria do outro lado? Perguntavam-se.
Mas o Ser Supremo havia proibido que entrassem ali. Senão, perderiam a imortalidade. E apesar da tentação, eles obedeciam fielmente.
Certo dia, um jovem Karajá, um aruanã mais audacioso, ousou e foi ver o que existia do outro lado daquele buraco luminoso. Ficou surpreso quando chegou às areias brancas do rio Araguaia e descobriu encantado um mundo maravilhoso, totalmente diferente do seu. Uma paisagem deslumbrante.
Viu o céu de um azul profundo com um Sol radiante iluminando e aquecendo a natureza. Pássaros multicoloridos se misturavam no ar com muitos matizes. Escutou a música do canto das araras, periquitos e sabiás. Muitos animais estavam em paz, um do lado do outro: tamanduás, onças, cutias. Nas campinas, flores perfumadas. Nas florestas, árvores carregadas de frutos.
O jovem Karajá andou por essas maravilhas até o anoitecer, quando, então, descobriu outro cenário ainda mais  bonito: a Lua despontava prateada iluminando as montanhas ao longe. Constelações de estrelas iluminavam o céu.
Ele passou a noite deslumbrado até ver renascer o Sol no horizonte. Resolveu voltar ao buraco luminoso, descrever para os seus irmãos e irmãs peixes tudo que tinha visto.
Com os olhos cheios de beleza, contou o que tinha acontecido e o que tinha observado: 
     __ Passei pelo buraco luminoso, descobri um mundo que nunca havia imaginado e que vocês também não podem imaginar. Com alegria no coração, contemplei o Sol e os animais. Os campos e as florestas. Sob a luz da Lua, vi as montanhas e muitas estrelas. Escutei música vinda dos pássaros e dos riachos. Vamos todos até lá?
Todos os seus irmãos Karajá, mesmo sem entender tudo que ouviram, quiseram logo acompanhar o jovem afoito. Mas os mais experientes, os anciãos, disseram com grande sabedoria:
- Irmãos e irmãs, temos que respeitar nosso Criador, que nos quer bem e nos fez imortais assim como ele. Vamos falar com ele e pedir-lhe a permissão.
Todos os aruanãs concordaram e assim fizeram. Depois de ouvi-los, o Criador – Kananciué – respondeu, com um pouco de tristeza por causa da desobediência do jovem:
- Entendo que queiram transpor o buraco luminoso, que os levará deste mundo a outro de cores e beleza. Lá, poderão contemplar a majestade do Sol, o esplendor das estrelas, a suavidade da Lua. Descobrirão flores, frutos e animais. Poderão se divertir e deliciarem-se com as águas claras do rio Araguaia e suas areias brancas. Dançar ao som do canto dos pássaros. Mas revelo a vocês o que não sabem, nem veem. Toda a beleza naquele mundo é efêmera como a borboleta das águas que conhecem, que nasce hoje e desaparece amanhã. Os seres de lá não são como vocês: nascem, crescem, envelhecem e caminham para a morte. São mortais. Vocês ganharão a liberdade, mas perderão a imortalidade. A decisão é de vocês. O que decidem? O que escolhem?
Houve um grande silêncio. Todos olharam para o jovem que descobrira o mundo da liberdade. Todos estavam fascinados com a possibilidade de viver a beleza, confirmada pelo Ser Supremo – Kananciué . Então, responderam:
- Sim, pai, queremos ir viver no paraíso encantado dos mortais.
O Ser Supremo falou com eles pela última vez:
- Aceito a decisão de vocês porque acima de tudo prezo a liberdade. Vocês trocarão a imortalidade pelo dom precioso da liberdade. Saibam que quando passarem por aquele buraco, vocês serão mortais, mas totalmente livres. Não deixem que lhes roubem a liberdade.
E todos aqueles aruanãs passaram entusiasmados pelo buraco luminoso para chegar ao mundo da beleza efêmera e alegrias finitas.
Até hoje os Karajá vivem naquele paraíso, às margens do rio Araguaia. Concentram-se, principalmente, na ilha do Bananal. Tiveram a coragem de renascer como seres de liberdade, o que continuam sendo até hoje.
Baseado em “Aceitar a morte para ser livre” in “O casamento entre o céu e a terra; contos dos povos indígenas do Brasil” de Leonardo Boff. Edição Salamandra.

Bambi - Felix Salten

Bordado por Rachel B. de Oliveira

Chegou a primavera e com ela nasceu Bambi, um filhote de cervo. A floresta fica animada com este acontecimento muito especial e todos vêm visitar: o esquilo, a ratinha, os coelhos, a coruja, o guaxinim, os  passarinhos.
Bambi consegue levantar-se e equilibrar-se nas quatro patas. Há muitas coisas para ver, que ele descobre com a ajuda do coelhinho Tambor e seus amigos. Ele observa as borboletas de mil cores, as codornas, os morcegos de cabeça para baixo, as toupeiras que cavam longas galerias e não gostam do sol, os coelhos  saltitantes, o gambá Flor e diversos pássaros com seus bicos e penas multicoloridos.
Um dia a mãe o leva para a planície, um lindo lugar cheio de grama e flores. Mas ela explica que é perigoso porque não tem como se esconder dos homens. Lá ele conhece a corça Falina. E encontra seu pai, um cervo majestoso, o Príncipe da Floresta.
Depois de meses de vida despreocupada e feliz chega o inverno. Bambi, ao acordar, é surpreendido com a mudança do bosque. Quando ele tenta andar, suas patas afundam numa coisa branca, fria e macia: as árvores, os arbustos e a grama ficaram cobertos de neve. O coelho Tambor o leva para deslizar no lago gelado onde é impossível para Bambi ficar de pé. Ele sempre acaba caindo.
No fim do inverno, enquanto procuram grama para comer na planície, Bambi e sua mãe são surpreendidos por caçadores e têm que fugir em desespero. Bambi, que se perdeu de sua mãe, procura em vão por ela. Fica sabendo pelo seu pai que não a verá mais.
Chega a primavera. Todos cresceram e os amigos de Bambi começam a namorar: o coelho com a coelhinha, o gambá com a gambazinha. Bambi e Falina se acariciam com o focinho e descobrem que estão apaixonados. Quando um outro cervo quer pegar Falina, Bambi fica bravo, luta e o derruba, vencendo a disputa.
No dia seguinte, Bambi sente um cheiro de fumaça. A floresta está em chamas! Todos os animais da floresta estão fugindo. Seu pai vem ajudá-lo a escapar e juntos conseguem alcançar um lugar seguro, uma ilha no meio do rio onde o fogo não os atingirá. Ali já esperam Falina e seus amigos.

A Rainha da Neve - Andersen

Bordado por Zélia Melo
Um maldoso anão tinha fabricado um espelho mágico, que transformava em más pessoas, todos os que nele se olhassem. Mas o espelho quebrou-se e seus pedaços se espalharam pelo mundo. Dois deles foram para uma sacada onde brincavam duas crianças, Gerda e Pedro, e penetraram nos olhos e no coração do menino que, naquele momento, se transformou no pior garoto da cidade.
Um dia de inverno, Pedro passeava pelas ruas cobertas de neve no seu pequeno trenó quando viu passar um grande trenó branco. Enganchou o seu trenó naquele e foi arrastado numa corrida vertiginosa. Logo viu, com terror, o misterioso veículo sair das muralhas da cidade e precipitar-se pelos campos. Por fim, o trenó se deteve e dele desceu a Rainha das Neves, completamente vestida de branco, que se inclinou para o menino e lhe deu um beijo gelado. Ao sentir aquele beijo, Pedro adormeceu. A Rainha o tomou nos braços e o levou ao seu longínquo país.
Os dias passaram e Gerda esperava Pedro, que não voltava. Afinal, resolveu ir procurá-lo pelo mundo. Dirigiu-se para o rio, subiu numa barquinha e deixou-se levar pela correnteza. A embarcação, depois de muito navegar, foi deter-se num jardim cheio de flores onde havia uma velha, que acolheu carinhosamente a menina Gerda e a conduziu a uma pequena casa feita de vidros coloridos. Ali penteou-a com um pente mágico e a menina se esqueceu de tudo e ficou naquele jardim encantado vivendo muito feliz. Um dia, entretanto, viu umas rosas, que lhe recordaram o roseiral que plantara com a ajuda de Pedro na pequena sacada de sua casa. Então lhe veio à mente a lembrança do amigo desaparecido. Resolvida a encontrá-lo, fugiu para o bosque e caminhou muito, sem sentir-se cansada, até que encontrou uma menina, que morava numa casa meio em ruínas. A desconhecida, ao ouvir a história de Gerda, quis ajudá-la e levou-a para sua casa, onde perguntou aos pombos, pousados no telhado, se sabiam alguma coisa a respeito de Pedro. “Sim!” responderam eles, “A Rainha das Neves o levou com ela”. 
A menina do bosque deu-lhe, então, um magnífico cervo, que possuía havia tempo, dizendo ao animal: “Devolvo a sua liberdade mas, em troca, leve esta minha amiga ao palácio da Rainha das Neves, que se acha em seu país.” Em seguida, ajudou Gerda a montar no animal, que partiu em disparada. Atravessaram campos, bosques, pântanos e, por fim, chegaram à Finlândia, onde estava situado o castelo da Rainha e o cervo fez a menina descer no jardim.
Ao ficar sozinha, Gerda viu caírem a seu redor grandes flocos de neve, que se juntaram, procurando afogá-la. Mas a menina rezou com fervor e, imediatamente, tudo se acalmou. Então, a menina entrou no castelo, onde encontrou Pedro, que estava só e não a reconheceu. Gerda o abraçou, chorando, e suas lágrimas penetraram no coração do menino, fizeram sair o fragmento do espelho que havia encravado nele. Pedro também chorou e, desse modo, o outro fragmento que havia penetrado nos seus olhos, também saiu. O menino, só então, reconheceu sua pequena amiga e com ela fugiu daquela prisão gelada. O cervo os esperava para levá-los de volta ao seu país.