sábado, 6 de dezembro de 2014

Calendário 2015 - Contos Bordados




Ateliê de Arte Terapia Caminho dos Sonhos apresenta:


Calendário 2015 -  Contos Bordados


Valor: R$30,00 cada

Tamanho: 30 X 30 cm
Impressão: Papel Couché 


Contos que estão no calendário 2015: 
  • A Lenda do Guaraná - Bordado por: Zélia Melo. E-mail: melozelia@terra.com.br
  • O Papagaio Real - Bordado por: Neuza Oli Vieira. E-mail: nemabh25@yahoo.com.br
  • O Alfaiate Desatento - Bordado por: Vaní Luiza Cipriano. E-mail: vanicipriano@gmail.com
  • Pele de Asno - Bordado por: Selma Fabrini. E-mail: amlesfab@gmail.com
  • O Rouxinol e o imperador - Bordado por: Regina Drumond. E-mail: reryreine@gmail.com
  • A Vitória Régia - Bordado por: Umeko Marabayashi. E-mail: umemaruba@yahoo.com.br
  • A Flauta Mágica: O Uirapuru - Bordado por: Valéria Pimenta. E-mail: valeria.arteterapia@gmail.com
  • Dragão Amarelo Trovão - Bordado por: Marie-Thérèse Pfyffer. E-mail: mtpfyffer@uol.com.br
  • Os Sete Cegos Sábios e o Elefante - Bordado por: Ilka Finotti. E-mail: ilka@ilka.finotti.nom.br
  • As Fadas - Bordado por: Ana Deister. E-mail: alcdeister@gmail.com
  • A Gralha Azul - Bordado por: Fátima Coelho. E-mail: fatitocoelho@yahoo.com.br
  • A Quarta viagem de Simba o Marujo - Bordado por: Rosângela Gualberto.E-mail rosangelagualberto@uol.com.br

Peça já o seu!!
ilka@ilka.finotti.nom.br

A Lenda do Guaraná - Uma lenda indígena

Bordado por: Zélia Melo
melozelia@terra.com.br
55 31 9984-5072
Desenho: Zélia Melo


Um casal de índios pertencente a tribo Maués, vivia junto há muitos anos sem ter filhos, mas desejavam muito ser pais. Um dia pediram que Tupã lhes desse uma criança para completar aquela felicidade. Tupã, o rei dos deuses, sabendo que o casal era cheio de bondade, lhes atendeu o desejo trazendo-lhes um lindo menino.
O tempo passou rapidamente e o menino cresceu bonito, generoso e bom. No entanto, Jurupari, o deus da escuridão, sentia uma extrema inveja do menino e da paz e felicidade que ele transmitia; assim decidiu ceifar aquela vida em flor.
Um dia, o menino foi coletar frutos na floresta e Jurupari se aproveitou da ocasião para lançar sua vingança. Ele se transformou em uma serpente venenosa e mordeu o menino, matando-o instantaneamente.
A triste notícia se espalhou rapidamente. Neste momento, trovões ecoaram e fortes relâmpagos caíram pela aldeia. A mãe, que chorava em desespero, entendeu que os trovões eram uma mensagem de Tupã, dizendo que ela deveria plantar os olhos da criança e que deles uma nova planta cresceria dando saborosos frutos.
Os índios obedeceram aos pedidos da mãe e plantaram os olhos do menino. Neste lugar cresceu o guaraná, cujas sementes são negras, cada uma com um arilo em seu redor, lembrando olhos humanos.



O Papagaio Real - Câmara Cascudo

Bordado por: Neuza Oli Vieira
nemabh25@yahoo.com.br
55 31 3337-7026
Desenho: Demóstenes Vargas


Há muitos anos atrás, numa pequena cidade de um país bem longe viviam duas irmãs. Eram muito diferentes uma da outra. A mais nova era uma jovem de bons sentimentos, alegre e feliz com a sua vida. Mas a mais velha era uma inveja só.

A irmã mais velha vivia espreitando a outra. Certa noite ouviu um barulho diferente vindo do quarto da irmã. Pé ante pé colou seu ouvido na porta do quarto da irmã e não satisfeita  olhou através da fechadura. O que viu foi estranho, pois no meio do quarto havia uma grande bacia com água. E logo em seguida uma surpresa: um grande papagaio que voando rápido passou pela janela e entrou no quarto em direção à bacia. Banhou-se e bem devagar foi- se transformando em um lindo jovem. Os dois jovens então começaram a conversar e ali ficaram por um longo tempo.

A irmã invejosa ficou enfurecida. Um príncipe se encantando pela tonta da irmã? E logo pensou em um plano. Passou o dia seguinte atarefada juntando cacos de vidro. Colocou-os no peitoril da janela e dentro da bacia sem que a irmã percebesse. E aguardou a noite chegar!

Não demorou nada e o papagaio chegou. Já no peitoril sentiu suas patas arderem. Pensando em se aliviar na água da bacia acabou cortando-se ainda mais. A jovem sem entender o que estava acontecendo ficou aterrorizada. Nesta noite o papagaio não se transformou em príncipe. Com dificuldade voou até a janela e lhe disse:
-         Ah, ingrata! Porque tanta maldade? Esta seria a última noite do meu encanto, depois nunca mais voltaria a ser um papagaio. Agora vai demorar a ter fim este meu sofrer. Para me ver novamente só se for ao Reino de Acelóis.

E dizendo isto bateu asas e sumiu no horizonte deixando a jovem atônita e desesperada. Ela viu que aquela armadilha só poderia ter sido feita pela irmã. No mesmo instante sentiu que era hora de partir. Saiu pelo  mundo à procura de seu amado. Mas, onde seria aquele Reino de Acelois? Andou por muitos lugares, sempre perguntando onde ficava o Reino de Acelóis. Ninguém sabia!

Uma tardinha, já muito cansada de andar e perguntar a todos pelo Reino de Acelóis viu que a noite chegava e ela não tinha onde pernoitar. Subiu numa grande arvore do caminho e ficou protegida pelas folhas. Já bem tarde da noite ouviu sons estranhos. Eram animais de aspectos amedrontadores que ela nunca havia visto.
-     E você de onde vem?
-         Eu? De longe! Do Reino da Lua!
-         E você?
-         Venho do Reino do Sol! E assim a conversa  se prolongou noite à dentro.

No dia seguinte pegou a estrada novamente. Nunca deixava de perguntar sobre o reino e o castelo do jovem príncipe.  Acostumou-se a subir nas arvores para fugir dos animais ferozes e também para poder dormir tranquila. E o tempo passou. E um dia, estando protegida em outra arvore de flores grandes e galhos protetores, ouviu outra conversa daqueles andarilhos estranhos:
-         E você? De onde vem?
-         Eu? Venho do Reino da Estrela!
-         E você?
-         Eu? Venho do Reino de Acelóis e trago novidades! O príncipe de Acelóis está muito doente, pobre coitado!

A jovem prestou bem atenção na conversa e ficou quietinha no alto da arvore.  Antes do sol nascer já estava pronta para pegar o caminho. Agora sabia que Acelois estava mais perto.  Mas o dia passou e ela não conseguiu nenhuma informação. De noitinha parou e buscou outra grande arvore e subiu para passar a noite. E ouviu novamente outra conversa.
-         E você de onde vem?
-         Eu venho do Reino de Acelóis.
-         E como vai o príncipe?
-         Vai mal, muito mal. Acho que seu caso não tem remédio!
-         Ora, tem jeito sim. O remédio é o príncipe beber três gotas de sangue do dedo mindinho de uma jovem que o ame ardentemente. Pena que eu esteja atrasado em minha caminhada. Senão... voltaria lá para informar sobre este remédio.

A jovem não acreditou no que ouvia. Assim que o dia começou a raiar ela desceu da arvore e pegou a estrada. Pouco tempo depois já se encontrava no Reino de Acelóis. Chegou ao grande palácio. Lá procurou pelo Rei e ofereceu seus préstimos para salvar o jovem príncipe. Mas ela tinha uma condição, pois sabia que o rei não acreditaria em seus sentimentos e também por ser uma jovem pobre.  Seu preço? Metade do Reino escrito em documento real. O Rei relutou, mas queria salvar seu único filho.

Assinados os papéis a jovem se dirigiu aos aposentos reais. Furou seu dedo, colheu três pingos de seu sangue, colocando-os em um copo com água. Fez o príncipe beber. Foi só beber e sentiu-se melhor. Em poucos minutos já estava conversando e assentado em seu leito. Reconheceu a jovem e abraçou-a ternamente. O Rei ficou radiante de alegria, mas quando o príncipe lhe disse querer casar com aquela jovem, dona de seu coração desde os tempos de sua vida de papagaio, o Rei não deu o seu consentimento.

Mas como a jovem era firme e decidida já foi logo dizendo ao Rei:
-         Majestade! Agora eu sou uma moça rica! Tenho metade deste reino e aqui está o documento! Como não posso me casar com o príncipe? A não ser que o senhor queira dividi-lo ao meio. Eu levo então uma metade!
O Rei ao ouvir aquelas palavras viu que a jovem não era de brincadeira. Era decidida e firme em seus propósitos. Finalmente consentiu no casamento. As bodas foram preparadas e durante três dias e três noites houve festa no reino de Acelóis para todos os amigos. Tinha comes e bebes a fartar e muitos músicos. Foi um lindo casamento.

Estive lá. Trouxe uma cestinha para vocês de deliciosos frutos silvestres recheados de doce de leite de cabra, pequenas codornas feitas no leite, geleias de amoras silvestres misturadas com mel de abelhas negras do Reino de Acelóis. Vim com cuidado pois as estradas são estreitas e os riachos muitas vezes transbordam à época das cheias. Mas... um imprevisto. Na última pinguela uma tábua se soltou, escorreguei e não consegui segurar a cestinha que, caindo na água, correu riacho abaixo...


Resumo feito por Neuza Vieira de Oliveira do conto recontado por Luis da Câmara Cascudo  - Contos tradicionais do Brasil 

O Alfaiate Desatento - um conto árabe

Bordado por: Vaní Luiza Cipriano
vanicipriano@gmail.com
55 31 3226-8207
Desenho: Demóstenes Vargas


Era uma vez, a menos de mil quilômetros daqui, um alfaiate viúvo que vivia com a filha pequena. Apesar de ser um ótimo artesão, era uma pessoa que não prestava atenção em algumas coisas. Assim, costumava sair à rua com a mesma roupa velha, toda esfarrapada, que usava o dia inteiro dentro de casa.
         As pessoas comentavam: "Um homem que anda tão mal vestido, não pode ser um profissional competente. Esse alfaiate não deve ser bom".
         Os comentários se espalhavam, e ninguém mais encomendava roupas para o alfaiate, que foi ficando pobre. Um dia sua filha disse: "Pai, não temos quase nada para comer. O senhor precisa fazer alguma coisa, senão vamos morrer de fome".
         O alfaiate foi até o sótão da casa, onde há muito tempo guardava coisas que considerava sem utilidade. Ao remexer nas pilhas empoeiradas descobriu que entre elas havia objetos de valor. Ele nem se lembrava mais quando os tinha posto ali, nem por quê. Juntou uma porção desses objetos num carrinho e foi vendê-los no mercado da cidade. Com o dinheiro que recebeu, comprou comidas deliciosas para ele e para a sua filha.
         No caminho de volta para casa viu, pendurado na porta de uma tenda, um tecido magnífico, como nunca tinha visto. Era inteiro bordado com fios de todas as cores do arco-íris, formando várias figuras distintas. Nele também havia padrões ornamentais com fios de ouro e prata entrelaçados que brilhavam à luz do sol. O alfaiate, maravilhado, resolveu comprar aquele tecido com o dinheiro que havia sobrado.
         Assim que chegou em casa, esticou o tecido sobre a mesa, pensou um pouco, e depois cortou e costurou um belíssimo manto que quase arrastava no chão.
         Quando saiu à rua com aquele manto, as pessoas o rodearam e perguntaram:
         - Onde foi que você comprou este manto? No Oriente, na ilha de Java?
         - Não - respondeu o alfaiate. - Eu mesmo o fiz.
         - Então, nós também queremos um manto lindo como este.
         E foram levar tecidos para ele, formando uma fila à porta de sua casa.         Eram tantas pessoas, e tantos mantos ele fez, que acabou ficando rico.
         Mas ele era uma pessoa que não prestava atenção em algumas coisas. Ele não tirava seu manto: costurava com ele, fazia comida, cuidava do jardim.
         Passou-se muito, muito tempo. O manto ficou velho e estragado. As pessoas, vendo-o tão mal vestido na rua, começaram a achar que ele não devia ser um bom profissional. E deixaram de fazer encomendas. E ele ficou pobre outra vez.
         Certo dia, não tendo nada para fazer, o alfaiate ficou observando o manto e descobriu que ainda havia um pedaço de tecido que não estava estragado. Pôs o manto sobre a mesa, cortou as partes rasgadas, desmanchou as costuras, pensou um pouco e fez um lindo casaco, com uma gola enorme.
         Quando saiu com o casaco, as pessoas queriam saber:
         - Onde foi que você comprou este casaco? Na Austrália, no pólo norte?
         - Não, eu mesmo o fiz.
         E foram tantas encomendas de casacos, que o alfaiate ficou rico outra vez.
         Mas continuava sendo aquele homem que não prestava atenção em algumas coisas. A qualquer tipo de comemoração - casamento, batizado, enterro, festa de aniversário - lá  ia ele com o casaco.
         Passou-se muito, muito tempo. E o casaco ficou todo esburacado, cheio de manchas. Ninguém mais fazia encomendas. Ele ficou pobre.
         Percebendo que o casaco ainda tinha um pedaço bom de tecido, o alfaiate o desmanchou e fez um colete tão lindo que todos na rua lhe perguntavam:
         - Onde foi que você comprou este colete? No Afeganistão? Na Terra do Fogo?
         - Não, eu mesmo o fiz.
          E com tantas encomendas de coletes, o alfaiate ficou rico, Mas, não sei se já lhes contei, ele era uma pessoa que não prestava atenção em algumas coisas. Não tirava o colete para nada, nem mesmo para tomar banho.
         Passou-se muito, muito tempo. E o colete ficou em petição de miséria. Pobre mais uma vez, o alfaiate aproveitou o pequeno pedaço de tecido do colete que ainda estava perfeito e sabem o que ele fez? Uma gravata-borboleta. Mas não era uma gravata qualquer. Era tão linda e brilhava tanto, que todos queriam gravatas como aquela.
         Depois de muito trabalhar, ele acabou ficando rico. Mas não deixava de ser aquela pessoa que não prestava atenção em algumas coisas. Nem para dormir ele tirava a gravata.
         Passou-se muito, muito tempo. E a gravata ficou torta, ensebada, irreconhecível. O alfaiate ficou pobre outra vez, já que ninguém mais lhe fez encomendas.
         O alfaiate ainda descobriu na gravata um pedacinho de tecido que podia servir para alguma coisa. E então fez um superultrabelíssimo botão, bem redondo, que costurou na sua roupa velha, no meio de peito. Ninguém notava os farrapos que ele vestia; o botão era tão brilhante e magnífico que todos queriam botões como aquele.
         E tantos ele fez, que ficou rico.
         Mas continuava sendo aquela pessoa que não prestava atenção em algumas coisas.
       Por muito muito tempo.
         E ele ficou pobre.
         Desmanchou o botão e ainda sobrou um pedacinho de tecido bem pequenininho, que conservava intactos alguns padrões de fios dourados e prateados, entremeados com todas as cores do arco-íris, que brilhavam intensamente.
         O que o alfaiate fez com aquele pedaço minúsculo que sobrou do magnífico tecido?

         Pois o contador de histórias que narrou este conto para mim disse que cada um de nós é que tinha que inventar no que o alfaiate transformou aquele paninho precioso, porque esta é uma história que continua com cada um.
         Existem muitas formas de contar a história desse alfaiate. É por causa dele e do seu botão que este conto sempre foi lembrado e continuará sendo contado para sempre, noite e dia, em qualquer lugar do mundo onde haja gente.
         Porque sempre vão existir pessoas que não prestam atenção em algumas coisas.
         E sempre vão existir coisas que guardam seu brilho num lugar cada vez menor e mais profundo.


In: Regina Machado. “A Formiga Aurélia e Outros Jeitos de Ver o Mundo”.
Cia das Letrinhas, 2005.

Pele de Asno - Charles Perrault

Bordado por: Selma Fabrini
amlesfab@gmail.com
55 31 3223-2009
Desenho: Selma Fabrini


Em um país  longínquo, vivia um rei que era amado pelos seus súditos, pois era bom e justo para com todos. Sua esposa, a rainha, era de uma beleza incomum e eles viviam felizes no seu castelo. O rei tinha uma especial predileção pelo seu asno, que era tratado com todo carinho e cuidado, pois de suas entranhas jorravam moedas de ouro e prata que garantiam toda sua fortuna.
Mas eis que um dia a rainha amanheceu adoentada. O rei se desesperou! Convocou todos os médicos do reino para que curassem a sua amada esposa. A doença só agravava. A rainha então chamou o rei em seu quarto e lhe segredou que seu fim estava próximo. Também lhe fez um último pedido: que ele se casasse novamente com uma moça tão bela quanto ela. O rei, prometeu. Porém ficou tão amargurado com a morte da esposa amada, que não quis mais saber da companhia de sua única filha. 
Os anos passaram e, uma bela manhã, o rei viu em seu jardim, uma bela jovem que passeava cantarolando por entre os canteiros de flores. Ficou deslumbrado com esta cena. Imediatamente mandou trazer a moça à sua presença. Sua ordem foi acatada e a jovem, muito surpresa, aproximando-se do rei, disse:
- Oh! Meu pai, não me reconhece? Sou sua filha!
- Como você é parecida com sua mãe! – disse o rei abraçando-a. – Sei que não acharei em parte nenhuma do mundo mulher mais bela! Quero que seja minha esposa!
A princesa foi tomada de um súbito horror, por tão escabrosa proposta. Saiu correndo para o seu quarto, invocou a sua fada madrinha e lhe pediu ajuda.
- Fique calma, tenho uma solução para isto. Amanhã bem cedo procure pelo rei e diga-lhe que você o esposará, mas antes ele terá que lhe dar um vestido com as cores do tempo.
Assim fez a princesa e o rei, concordando com o pedido, convocou todos o artesões e fiandeiros do reino. Em pouco tempo, lhe apresentaram um vestido maravilhoso da cor do tempo. Aconselhada pela fada, a princesa,  pediu então um vestido da cor do luar. E, em pouco tempo, o rei depositou aos pés da filha a nova roupa, ainda mais deslumbrante. Desta vez, a princesa pediu um vestido da cor do sol e, ao cabo de alguns dias, o monarca lhe trouxe a mais esplêndida criação com todas as nuances do sol.
A princesa, não acreditando no que seus olhos contemplavam, olhou para seu pai e lhe pediu só mais um tempo. Embora impaciente com as evasivas de sua filha, o rei aceitou.
Quando a fada madrinha viu o vestido, pensou em uma derradeira solução.
- Há um único pedido que você fará seu pai e que ele certamente vai negar. Peça-lhe a pele do seu amado animal, fonte de toda a sua riqueza!
A princesa se encheu de coragem e esperança e, imediatamente, procurou seu pai com tal proposta. Certa de que, finalmente ele desistiria de seu louco projeto, foi para o seu aposento e dormiu tranquila. Ao raiar do dia, o rei entrou em seu quarto e depositou sobre sua cama a carcaça do asno. A princesa sufocou com as mãos um grito de horror! De novo invocou sua madrinha, que, desta vez, lhe aconselhou a fugir para a floresta, escondida sob a pele do asno. Também lhe deu a sua varinha mágica, dizendo-lhe:
- Quando quiseres satisfazer algum desejo, dê um toque com a varinha e tudo será feito.
A princesa vestiu uma roupa velha, besuntou o seu rosto com a cinza de fogão, cobriu-se com a pele do pobre animal e assim, irreconhecível, se embrenhou pela floresta adentro. Caminhou até se sentir cansada e com fome, quando avistou ao longe um lindo castelo. Mais abaixo havia porcos, coelhos e também um pequeno casebre onde morava uma mulher que cuidava dos animais. Aproximou-se, pediu comida e um lugar onde pudesse descansar. A mulher estranhando aquela moça tão maltrapilha lhe deu o que comer e lhe ofereceu trabalho. Ela passaria a cuidar de todos aqueles animais, diariamente!
A princesa, sem ter escolha, concordou. O tempo foi passando. À noite, quando ela terminava seu trabalho, ia para seu casebre e, com um toque da varinha mágica, fazia aparecer todos os seus belos vestidos e suas joias. Então se transformava na bela princesa que sempre fora. Olhava-se no espelho e conseguia se sentir um pouco feliz.
Certo dia o príncipe, morador do lindo castelo do alto da colina, passou pelo casebre. Curioso, foi olhar pela janela. Com grande espanto vislumbrou a mais bela mulher que seus olhos já haviam visto. Era a princesa, vestida com seu vestido, cor do sol. Seus pajens o chamaram para voltar do passeio e o príncipe obedeceu a contragosto mas, desde este dia, não parou de pensar nela. Estava apaixonado! A rainha, sua mãe, se preocupava pois, o príncipe não saía de seus aposentos, não queria se alimentar e só falava nnuma moça encantadora que morava naquela choupana. Sua mãe, consolava-o dizendo que naquele casebre só morava uma pobre e maltrapilha empregada.
Certo dia, o príncipe manifestou a vontade de comer um bolo, mas teria que ser feito pelas mãos da moça do casebre. Sua mãe mandou cumprir o desejo do príncipe, na esperança que ele ficasse curado. Ao receber a ordem, a princesa preparou o mais delicioso bolo e deixou um de seus anéis se misturar à massa. Bolo pronto, bolo encaminhado! Ao recebê-lo, o príncipe começou a saboreá-lo até que seus dentes bateram em algo duro. Cuspindo, o viu brilhar no seu prato um anel de diamantes e rubis. Chamou a sua mãe:
- Quero me casar com a dona deste anel!
Então, por ordem de suas majestades o rei e a rainha, todas as donzelas do seu reino, e de outros lugares, foram convocadas  ao castelo para colocar o anel em seu dedo. Aquela, cujo anel coubesse sem dificuldade, seria a esposa do príncipe, Muitas moças, belas, e não tão belas, nobres e não tão nobres, correram ao palácio. Uma a uma foram tentando colocar o anel, porém, não servia em nenhuma. O príncipe já estava ficando desanimado e triste, mas eis que chegou a vez da princesa. Com toda tranquilidade, colocou no dedo o anel, que serviu como era de se esperar. O príncipe com grande alegria, ajoelhou-se aos seus pés, e pediu-a em casamento.

Houve festa por uma semana, e para alegria da princesa, seu pai veio para as bodas, reconciliou-se com ela, dando-lhe sua benção. Viveram felizes naquele reino, com muita prosperidade e amor!                    

O Rouxinol e o Imperador - Hans Christian Andersen

Bordado por: Regina Drumond
reryreine@gmail.com
55 31 8885-9030
Desenho: Regina Drumond


Era uma vez um rouxinol que cantava nos jardins do Palácio Imperial  da China e, como nenhum outro pássaro deixava as pessoas deslumbradas com suas maravilhosas canções.  Ao ouvir o canto do rouxinol as pessoas  diziam: Isto é maravilhoso!  Sábios escreviam sobre o palácio e o canto do rouxinol sempre era elogiado pelo povo da cidade.  Um dia chegou aos ouvidos do Imperador que  apesar de todas  as maravilhas que existiam em seu reino, nada se comparava  com o canto do rouxinol .
O  imperador ao ouvir estes  comentários  reuniu a corte, chamou o chefe da guarda e disse: Traga-me o rouxinol ainda hoje, quero que cante para mim. E... sem perder  tempo o homem saiu à procura do rouxinol  E perguntou a moça da cozinha que disse :  Quão bem ele canta! Sempre levo comida para a minha mãe e ao voltar para o palácio sento junto de uma árvore para ouvir o canto do rouxinol. E foram para o jardim  onde a moça disse: Lá está ele
Rouxinol! — chamou a moça. O Imperador quer ouvir seu  canto, por favor, venha comigo.  O rouxinol bateu as asas e voou para o ombro do homem, que feliz da vida montou no cavalo e partiu  rumo ao palácio onde um poleiro dourado  estava preparado para o rouxinol. Com a corte presente os olhares  se voltaram para o pequeno pássaro . O Imperador deu sinal para o pássaro cantar e os dois se tornaram  amigos.
O rouxinol era um sucesso em sua gaiola dourada .Certo dia, o Imperador  recebeu do Imperador do Japão uma caixa com os dizeres: ROUXINOL de corda, cuidado: objeto frágil.
Curioso, abiu a caixa e encontrou  um rouxinol mecânico feito de ouro , todo enfeitado com pedras preciosas e brilhantes. E o Imperador disse: basta dar corda que ele começa a mexer, agita a cauda, abre o bico e canta. Em volta do pescoço trazia uma fita, com a mensagem: "O rouxinol do Imperador da China nada vale comparado com o rouxinol do Imperador do Japão. "E no interior do Palácio todos os elogios se voltaram para o rouxinol dourado.
Toda a população soube do rouxinol mecânico  e mensagens chegaram para que ele se apresentasse em um concerto público. E, o pássaro de corda foi colocado para cantar sozinho. Agradou tanto como o verdadeiro rouxinol, e, alem disto era  bonito de  ver o seu brilho. O rouxinol  cantava a mesma canção muitas  vezes .Um dia  o Imperador achou que era a vez do verdadeiro rouxinol também cantar para todos.
E onde estava o verdadeiro rouxinol?   voou pela janela, para o jardim. Os cortesãos  levaram o rouxinol de corda  para cantar outra vez. E todos os elogios eram para o rouxinol mecânico: era superior ao rouxinol vivo, que foi deixado de lado.
O pássaro artificial recebeu um lugar especial numa almofada de seda junto à cama do Imperador. Tudo  continuou por um ano, até que o Imperador, a corte e o resto do povo chinês já sabiam de cor cada nota da canção do pássaro de corda.
Mas, uma noite quando o pássaro de corda estava cantando e o Imperador, deitado na cama o ouvia, algo  fez "croc!" dentro do pássaro.  O mecanismo continuou a rodar e a música parou. O Imperador  mandou chamar o seu médico, mas somente o relojoeiro conseguiu  consertar o pássaro mecânico. E todos sabiam  que o rouxinol deveria ser usado  poucas vezes; as peças estavam  gastas , e, não era possível substituí-las sem estragar o som
Os anos se passaram e uma tristeza abateu-se sobre o país. O Imperador adoeceu, e, diziam que ele estava mal. O Imperador jazia em seu leito, pálido e imóvel.  
Disse o Imperador :  — Música!  Quero música! Passarinho dourado, canta, peço  - lhe que cante! Dei-lhe ouro e coisas preciosas; pendurei o meu sapato dourado em seu pescoço com as minhas próprias mãos. Canta, peço-lhe, canta! Mas o pássaro era silencio; não havia ninguém para lhe dar corda, e sem corda não tinha voz. E a Morte  olhava  para o Imperador.
Tudo era silêncio... Quando de  repente, diante da janela do quarto do Imperador, soou a mais bela canção. Era o verdadeiro rouxinol, que  empoleirado num ramo lá fora, e sabendo da doença do Imperador,  tinha voltado para aliviar o  seu sofrimento  e trazer-lhe esperança. À medida que cantava o imperador dizia cante, cante mais, pequeno  rouxinol.
— Cantarei, e o rouxinol  cantou sobre as roseiras, sobre as árvores, e o Imperador disse: como hei de recompensar- lhe.
E respondeu o rouxinol.  Quando cantei para você pela primeira vez caíram-lhe lágrimas dos olhos e essa dádiva não posso esquecer. Essas são as joias que não se compram nem se vendem. Mas agora deve dormir para ficar bom e forte, cantarei novamente para você. E cantou, cantou e o Imperador caiu num sono calmo e reparador.
— Há de ficar sempre comigo e  só cante quando quiser disse o Imperador. E, quanto ao pássaro de corda, irei partir em  pedaços.
— Não faça isso, falou o rouxinol. Guarde-o. Eu não posso morar no palácio, deixe-me ir e vir à vontade, e à noite ficarei neste ramo, junto de sua janela, e cantarei para você.  Hei de trazer-lhe felicidade, hei de cantar para as pessoas tristes e felizes s. Cantarei sobre o bem e o mal, que sempre estão à nossa volta . Amo o seu coração, e, sempre voltarei , mas deve me prometer uma coisa.
— O que quiser! — exclamou o Imperador.
- E o rouxinol  falou  : A única coisa que lhe peço  é  para não dizer a ninguém que tem um amigo passarinho que lhe conta tudo, e deve  guardar este segredo.  
Com estas palavras, o rouxinol voou para arvores, e, os criados chegaram para ver o Imperador ainda doente, mas...  ficaram  espantados ao ver o Imperador saudável e feliz!

Hans Christian Andersen – 1844

Adaptação: Regina C.Drumond

A Vitória-Régia - Uma lenda indígena

Bordado por: Umeko Marabayashi
umemaruba@yahoo.com.br
Desenho: Marie-Thérèse Pfyffer
baseado em CarcamO



Segundo a lenda indígena da Vitória-régia, tudo começou quando uma índia chamada Naiá descobriu que a lua transformava moças em estrelas.
A cultura indígena diz que a lua (guerreiro forte), ao se esconder por detrás das montanhas, levava para si as moças de sua preferência e as transformavam em estrelas.
Na esperança de virar uma estrela, a índia perseguia a lua, subindo e descendo as montanhas, nas proximidades de sua tribo, tupi-guarani. Mas a lua nada fazia com Naiá, nem a levava nem a transformava em estrela.

Em uma noite de lua cheia, ao ver a imagem da lua refletida sobre as águas de um riacho, a índia se atirou sobre a imagem, acreditando que o guerreiro a estava chamando. Com isso, se afogou e nunca mais foi vista por ninguém.
Em homenagem à índia, os integrantes de sua tribo passaram a acreditar que as flores que nasciam na Vitória-régia significavam o renascer de Naiá. Por isso, a planta é também conhecida como “estrela das águas”, em homenagem à índia. E suas flores, que são brancas, só se abrem à noite para serem iluminadas pela luz da lua.

Por Jussara de Barros
Pedagoga
Equipe Escola Kids


A Flauta Mágica: O Uirapuru - Uma lenda indígena

Bordado por: Valéria Pimenta
valeria.arteterapia@gmail.com
Desenho: Marie-Thérèse Pfyffer


Havia na tribo Tupi um jovem que tocava maravilhosamente flauta. Apelidaram-no até de Catuboré, que significa “a flauta mágica”. Não era bonito, nem tinha enorme charme, mas por causa dos sons melodiosos da sua flauta era cobiçado por todas as moças da tribo em idade de se casar. No entanto, somente a simpática Mainá conseguira conquistar seu coração.
Marcaram o casamento para a primavera, quando na mata florescem as quaresmeiras roxas e amarelas e os fedegosos se enchem de vermelho.
Mas aconteceu uma tragédia. Certo dia, Catuboré, saiu para a pesca num lago, distante da oca. Escureceu e ele não chegava. Mainá e suas amigas passaram a noite em claro, com o coração apertado de preocupação e de maus pressentimentos.
No dia seguinte, a tribo inteira se mobilizou, procurando-o por todos os caminhos. Finalmente, não muito distante do lago, encontraram o “flauta mágica” morto e enrijecido, ao pé de uma grande árvores. Logo entenderam: uma serpente venenosa lhe havia picado mortalmente a perna. Todos choraram copiosamente, de modo especial Mainá e as moças que tanto apreciavam os sons maviosos de sua flauta. Mas como estavam distantes da oca e quase todos estavam ali presentes, resolveram enterrar Catuboré ali mesmo, ao pé  da árvore que assistira sua morte.
Mainá, quando a saudade batia muito forte, vinha com suas amigas chorar sobre a sepultura do amado. Passaram-se várias semanas e as lágrimas não diminuíam. A alma de Catuboré, vendo a tristeza da amada, não conseguia ficar em paz. Chorava junto e lastimava seu infortúnio. Pediu, então, ao espírito da mata que o transformasse num pássaro, mesmo que fosse pequenino e feio, contanto que fosse cantador, capaz de consolar Mainá. E foi transformado, então, no uirapuru, que é parecido com Catuboré, pois não tem especial beleza, mas canta como ninguém na floresta, num som semelhante ao de sua flauta.
Hoje, tanto tempo depois, o uirapuru continua a cantar, embora apenas ocasionalmente, mas quando entoa seu canto belo e triste, todos os animais se sentem atraídos uns pelos outros, começam a namorar e a se beijar.  Os demais passarinhos que também cantam e gorjeiam respeitosos e atentos, se calam completamente. Só se escuta a voz do Uirapuru, consolando sua amada. Seu canto soa puro e delicado, como o de uma flauta e a Floresta Amazônica silencia em reverência  ao mestre dos pássaros. Índios e sertanejos se emocionam, porém poucos têm a oportunidade de ouvir o pequeno pássaro que canta apenas alguns minutos, ao alvorecer e ao anoitecer, durante os 15 dias do ano em que constróis seu ninho.
Ao som de seu canto, homens e mulheres apressam-se a fazer pedidos, confiantes de que serão prontamente atendidos. Muitos buscam suas penas, e até mesmo pedaços do ninho, aos quais atribuem poderes mágicos. Acreditam que uma de suas pensas dará aos homens sorte no amor e nos negócios. E um pedaço de seu ninho garantirá às mulheres a paixão e a fidelidade do amado para sempre.


http://www.youtube.com/watch?v=ZTzTNMgo0NU

Dragão Amarelo Trovão - Um conto chinês

Bordado por: Marie-Thérèse Pfyffer
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55 31 9133-9130
Desenho: Marie-Thérèse Pfyffer


Muito, muito tempo atrás, vivia na China o menino Chang.  Morava com seu pai, o fazendeiro Yin, e a sua avó, uma mulher velha e sábia que cuidava dele com amor porque a sua mãe tinha morrido ao lhe dar a luz. Era um menino quieto. Passava o dia sonhando, à espera de algo inesperado e maravilhoso mas nunca nada acontecia.  Até os seus treze anos.

Naquela tarde fazia um calor insuportável. Enquanto a avó dormia e Yin fazia algum trabalho em casa, Chang foi até o portão do jardim e ficou olhando para a planície que se estendia até o rio e para as montanhas ao longe. E viu chegar pela estrada um jovem cavaleiro de rara beleza vestido de amarelo e acompanhado de quatro criados. Um deles carregava um esplêndido guarda-sol amarelo para proteger o jovem do sol. Chang teve a impressão que os pés do cavalo e dos criados não tocavam o chão mas flutuavam entre céu e terra. O cavalo parecia um simples cavalo branco, mas uma bruma irisada cintilava ao seu redor como água tocada pelos raios do sol. Chang sentiu que algo extraordinário estava acontecendo. Os viajantes pararam no portão.

- Estou cansado, Chang, filho de Yin – disse  o jovem. – Posso me sentar no jardim de seu pai?

Chang curvou-se respeitosamente e o convidou a entrar. O cavaleiro desmontou com ligeireza e todos entraram no jardim. Ao ouvir as vozes, Yin veio saudar os visitantes e pediu ao filho que trouxesse alimentos.

Enquanto conversavam e se restauravam, Chang observava tudo. Como estes visitantes lhe pareciam surpreendentes! Suas roupas não aparentavam nenhuma costura, pareciam feitas de uma única peça de tecido. O cavalo não tinha pelos, estava coberto por pequenas escamas brancas e brilhosas, e em cada uma se podia ver cinco minúsculas manchas coloridas...

Finalmente o jovem estrangeiro agradeceu a hospitalidade e se despediu. Quando passaram pelo portão, o criado que segurava o guarda-sol o abaixou e só voltou a endireita-lo quando pisou na estrada.

- Voltarei amanhã – prometeu o cavaleiro ao subir no seu cavalo.
- Volte, nobre senhor – respondeu Chang inclinando-se.

Ele ficou olhando enquanto os visitantes tomavam o rumo das montanhas. De repente, eles saíram do chão, subiram pelos ares e desaparecerem nas nuvens cinzas anunciadoras de chuva. Então Chang voltou para dentro de casa.

- Estes visitantes eram estranhos – disse seu pai. – Não conhecia este jovem, mas ele sabia meu nome. Você notou algo diferente neles?
- Sim, pai. Seus pés não tocavam no chão quando caminhavam.
- Então não eram homens, mas espíritos. Precisamos falar com a Vovó sobre isto. Ela sabe das coisas sobrenaturais.

A anciã dormia profundamente e não mostrava nenhuma vontade de acordar. Espreguiçou-se e bocejou.

- Vovó! – disse Chang – Hoje recebemos visitas. Eram forasteiros e seus pés não tocavam no chão quando caminhavam.
- Conte-me tudo – disse a avó, subitamente desperta. E Chang contou tudo que viu.
- Roupas sem costura são roupas mágicas e o amarelo é uma cor sagrada. Sem nenhuma dúvida, este homem é Dragão Amarelo Trovão, sua montaria é Dragão Cavalo e seus criados são os Quatro Ventos. Haverá uma tempestade, mas se o criado abaixou o guarda-sol é um bom presságio – explicou a anciã e adormeceu de novo.

Em homenagem ao Dragão Amarelo Trovão, Chang vestiu um quimono amarelo, acendeu uma lanterna amarela, queimou incenso e leu fórmulas mágicas. Ao anoitecer, o céu se encheu de nuvens pretas. Yin e seu filho vigiavam pela janela, esperando a tempestade. Ouviram o trovão. Relâmpagos iluminaram o céu. Começou a cair uma chuva torrencial. Passaram as horas e ela não diminuía. Foi tanta água  que os rios transbordaram, invadiram os campos, arrastaram gente, animais, árvores, casas...

Ao amanhecer, Chang viu que a água do rio tinha chegado até o jardim. Olhou para o céu e lá, acima da casa, como para protegê-la, um dragão dourado pairava de asas abertas. E, num instante, tinha desaparecido.

- Pai! Vi Dragão Amarelo Trovão! E não está chovendo sobre a nossa casa!
- Ele está nos protegendo. Você fez bem em acolhê-lo ontem.

De tarde o sol voltou e Chang foi até o portão. Viu chegar o jovem estrangeiro no seu cavalo branco com seus quatro criados.

- Prometi voltar, mas hoje não entrarei no jardim.
- Como o senhor quiser – disse Chang e inclinou-se respeitosamente.
- Guarde isto com cuidado e faça bom uso.

O jovem pegou uma escama do pescoço do cavalo e a entregou a Chang. Com os seus criados, tomou o rumo do rio. Ficaram uns instantes caminhando acima das águas, entre céu e terra, e desapareceram nas ondas. Chang contou tudo ao seu pai e à sua avó.

- Quando o imperador os chamar, tudo estará bem – declarou a avó.

Yin e seu pai não entenderam o que isto queria dizer, mas a avó estava dormindo de novo e não explicou mais nada.

Nas semanas seguinte se espalhou a notícia de uma casa poupada pela chuva torrencial. Yin e Chang foram levados ao palácio e, na presença do imperador, Chang contou tudo o que tinha acontecido. Quando mostrou a escama, seu brilho intenso iluminou a sala do trono.

- Chang, filho de Yin, – disse o imperador – você vai ficar aqui ao meu lado. Te nomeio Mago Imperial porque Dragão Amarelo Trovão lhe entregou a escama que contém toda a magia do mundo.

E Chang foi morar no palácio com seu pai e a sua avó. Aprendeu a usar a escama para dar conselhos sábio ao imperador.

Mas isto ainda é outra história...

Adaptado de: “Dragon jaune tonnerre”
in “Contes magique du monde entier”. Margaret Mayo.

Gautier-Languereau, 1993.

Os Sete Sábios Cegos e o Elefante - Um conto hindu

Bordado por: Ilka Finotti Wutke
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Desenho: Marie-Thérèse Pfyffer



Numa cidade da Índia viviam sete sábios cegos. Como os seus conselhos eram sempre excelentes, todas as pessoas que tinham problemas recorriam à sua ajuda. 
Embora fossem amigos, havia uma certa rivalidade entre eles que, de vez em quando, discutiam sobre qual seria o mais sábio. 
Certa noite, depois de muito conversarem acerca da verdade da vida e não chegarem a um acordo, o sétimo sábio ficou tão aborrecido que resolveu ir morar sozinho numa caverna da montanha. Disse aos companheiros: 
- Somos cegos para que possamos ouvir e entender melhor que as outras pessoas a verdade da vida. E, em vez de aconselhar os necessitados, vocês ficam aí discutindo como se quisessem ganhar uma competição. Não aguento mais! Vou-me embora. 
No dia seguinte, chegou à cidade um comerciante montado num enorme elefante. Os cegos nunca tinham tocado nesse animal e correram para a rua ao encontro dele. 
O primeiro sábio apalpou a barriga do animal e declarou: 
- Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Posso tocar nos seus músculos e eles não se movem; parecem paredes... 
- Que palermice! - disse o segundo sábio, tocando nas presas do elefante. - Este animal é pontiagudo como uma lança, uma arma de guerra... 
- Ambos se enganam - retorquiu o terceiro sábio, que apertava a tromba do elefante. - Este animal é idêntico a uma serpente! Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia... 
- Vocês estão totalmente alucinados! - gritou o quinto sábio, que mexia nas orelhas do elefante. - Este animal não se parece com nenhum outro. Os seus movimentos são bamboleantes, como se o seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante... 
- Vejam só! - Todos vocês, mas todos mesmos, estão completamente errados! - irritou-se o sexto sábio, tocando a pequena cauda do elefante. - Este animal é como uma rocha com uma corda presa no corpo. Posso até pendurar-me nele. 
E assim ficaram horas debatendo, aos gritos, os seis sábios. Até que o sétimo sábio cego, o que agora habitava a montanha, apareceu conduzido por uma criança. 
Ouvindo a discussão, pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante. Quando tacteou os contornos do desenho, percebeu que todos os sábios estavam certos e enganados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou: 
- É assim que os homens se comportam perante a verdade. Pegam apenas numa parte, pensam que é o todo, e continuam tolos!



As Fadas - Charles Perrault

Bordado por: Ana Deister
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Desenho: Marie-Thérèse Pfyffer


Era uma vez uma viúva que tinha duas filhas. A mais velha se parecia tanto com ela, no humor e de rosto, que quem a via enxergava a própria mãe. Mãe e filha eram tão desagradáveis e orgulhosas que ninguém as suportava. A filha mais nova, que era o retrato do pai, pela doçura e pela educação, era ainda por cima a mais linda moça que já se viu. 
Como queremos bem, naturalmente, a quem se parece conosco, essa mãe era louca pela filha mais velha e tinha, ao mesmo tempo, uma tremenda antipatia pela mais nova que comia na cozinha e trabalhava sem parar como se fosse uma criada. Tinha a pobrezinha, entre outras coisas, de ir duas vezes por dia buscar água a meia légua de casa, com uma enorme moringa que voltava cheia e pesada. 
Um dia, nessa fonte, lhe apareceu uma pobre velhinha, pedindo água: 

- Pois não, boa senhora - disse a linda moça. 

E, enxaguando a moringa, tirou água da mais bela parte da fonte, dando-lhe de beber com as próprias mãos para auxiliá-la. A boa velhinha bebeu e disse: 

- Você é tão bonita, tão boa, tão educada que não posso deixar de lhe dar um dom. 

Na verdade, essa mulher era uma fada, que tinha tomado a forma de uma pobre camponesa para ver até onde ia á educação daquela jovem. 

- A cada palavra que falar - continuou a fada - de sua boca sairá uma flor ou uma pedra preciosa. 

Quando a linda moça chegou a casa, a mãe reclamou da demora. 

- Peço-lhe perdão, minha mãe - disse a pobrezinha - por ter demorado tanto. 

E, dizendo essas palavras, saíram-lhe da boca duas rosas, duas pérolas e dois enormes diamantes. 

- O que é isso? - disse a mãe espantada - acho que estou vendo pérolas e diamantes saindo da sua boca. De onde é que vem isso filha? Era a primeira vez que a chamava de filha. 

A pobre menina contou-lhe honestamente tudo o que tinha acontecido, não sem pôr para fora uma infinidade de diamantes. 

- Nossa! - disse a mãe - tenho de mandar minha filha até a fonte. 

- Filha, venha cá, venha ver o que está saindo da boca de sua irmã quando ela fala; quer ter o mesmo dom? Pois basta ir à fonte, e, quando uma pobre mulher lhe pedir água, atenda-a educadamente. 

- Só me faltava essa! - respondeu á mal-educada - Ter de ir até a fonte! 

- Estou mandando que você vá - retrucou a mãe - e já. 

Ela foi, mas reclamando. Levou o mais bonito jarro de prata da casa. Mal chegou à fonte, viu sair do bosque uma dama magnificamente vestida, que veio lhe pedir água. Era a mesma fada que tinha aparecido para a irmã, mas que surgia agora disfarçada de princesa, para ver até onde ia á educação daquela moça.

- Será que foi para lhe dar de beber que eu vim aqui? - disse a grosseira e orgulhosa. Se foi, tenho até um jarro de prata para a madame! Tome, beba no jarro, se quiser. 

- Você é muito mal-educada - disse a fada, sem ficar brava. 

- Pois muito bem! Já que é tão pouco cortês, seu dom será o de soltar pela boca, a cada palavra que disser, uma cobra ou um sapo. 

Quando a mãe a viu chegar, logo lhe disse: 

- E então, filha? 

- Então, mãe! - respondeu á mal-educada, soltando pela boca duas cobras e dois sapos. 

- Meu Deus! - gritou a mãe -, o que é isso? A culpa é da sua irmã, ela me paga. 

E imediatamente ela foi atrás da mais nova para espancá-la. A pobrezinha fugiu e foi se esconder na floresta mais próxima. O filho do rei, que estava voltando da caça, encontrou-a e, vendo como era linda, perguntou-lhe o que fazia ali tão sozinha e por que estava chorando. 

- Ai de mim, senhor, foi minha mãe que me expulsou de casa. 

O filho do rei, vendo sair de sua boca cinco ou seis pérolas e outros tantos diamantes, pediu-lhe que lhe dissesse de onde vinha aquilo. Ela lhe contou toda a sua aventura. O filho do rei apaixonou-se por ela e considerando que tal dom valia mais do que qualquer dote, levou-a ao palácio do rei, seu pai, onde se casou com ela. Quanto à irmã, a mãe ficou tão irada contra ela que a expulsou de casa e a infeliz, depois de muito andar sem encontrar ninguém que a abrigasse, acabou morrendo num canto do bosque.


Charles Perrault