quarta-feira, 9 de outubro de 2019


Abril


Bordado por:  Isabelle Marie Reinech Souza
Conto:  As Penas Multicores dos Pássaros
Autor:  Lenda Indígena dos Wichis
Desenho: Murilo Pagani
Contato: isabelle.rsch@hotmail.com
Fotografia, arte e produção: Henry Yu            


As penas multicores dos pássaros

Quando o sol começou a aquecer e clarear os rios e as rochas, as flores e as árvores, os animais e as pessoas, ele os revestiu das mais variadas cores. A relva cintilava sob o orvalho como uma esmeralda, as nuvens eram macias e brancas como a lã de uma vicunha nova, a onça se gabava da beleza de sua pelagem malhada. 
E, contudo, quando distribuía as suas cores, o Sol havia se esquecido de alguém: os pássaros. Eles continuavam pardacentos e manchados como se alguém os tivesse rolado na lama.           A família dos pássaros não parava de protestar contra essa injustiça, mas o Sol - Inti não ouvia seus gritos do alto do céu. 
Os pássaros decidiram então que tinham de ir ver Inti no seu Império dos Céus, para pedir a ele que lhes desse as cores. Na mesma hora, todos se prepararam para partir, toda a tropa se pôs em movimento. Na frente os mais fortes, o condor e a águia. 
Apenas três ficaram no ninho: o Hornero, ou joão-de-barro, porque não podia deixar o seu ninho construído pela metade; a cotovia porque sua cor castanha não a incomodava, e o menor dos beija-flores. Como ele podia se arriscar a fazer uma viagem tão longa com suas asas tão pequeninas e frágeis?
O Sol os viu e se perguntou por que estavam vindo em sua direção. Ele pensou que tinha que fazer algo rapidamente, senão as penas dos infelizes iam se queimar e seriam reduzidas a cinzas. 
Começou a reunir num único bando tudo o que vagava pelos Céus, as nuvens, as brumas e as nebulosidades, os grandes amontoados algodoados, as pequeninas cerrações, os vapores e algumas boas nuvens pesadas de chuva. E quando todos já estavam reunidos, ele deu uma piscadela ao vento, para que este começasse a soprar. 
“Fiuuuuu, fiuuuu”, soprou o vento, e ventou em toda a tropa. As nuvens grandes e pequenas, as brumas e as nebulosidades, os grandes algodoados e as pequeninas cerrações bateram uns nos outros e começou a chover. 
O Sol não esperou mais. Brilhou com toda a força através da chuva, e sobre ela, exatamente acima das aves formou-se um arco-íris, cujas cores brilhantes ofuscavam: vermelho, amarelo, branco, azul, verde, rosa e violeta. 
A águia deu um grito de alegria: 
- Vejam, Inti satisfez nosso desejo! E correu para o arco-íris. 
Que alegria! Todas as aves se atiraram na cor que mais lhes agradava. O cardeal se envolveu inteiramente no vermelho, o íbis no branco, o tucano tingiu de amarelo e vermelho o seu longo bico. E os papagaios? Estes, por brincadeira, rolaram nas cores mais vivas. 
Quando parou de chover nenhuma ave se cansava de contemplar sua beleza. Todas agradeceram ao Sol e cantaram para ele. Inti estava todo sorridente, brilhou para eles ao longo de todo o caminho de volta, pois sabia, que doravante, toda manhã, chegariam até eles os cantos reconhecidos dos pássaros. 
Mas não devemos nos esquecer do beija-flor que não pode ir e que, porém, de todos os pássaros é o que possui as mais belas cores. Como isto aconteceu? Algumas gotas do arco-íris caíram no cálice das flores cujo néctar o beija-flor aspira. Quando ele foi vê-las, e fez com que se inclinassem, elas derramaram na sua plumagem todas as cores do arco-íris e todas as cores das flores. 

Isabelle Marie Reinech Souza
As Penas Multicoloridas dos Pássaros
Lenda indígena dos Wichis

Nenhum comentário:

Postar um comentário