quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Junho - A Sereiazinha

 A Sereiazinha

Bordado por:  Malu Furtado Rocha

Conto:  A Sereiazinha

Autor:  Conto de Hans Christian Andersen

Desenho: Samira El Bizri Portes

Contato: malu.furtado@globo.com // 55(31)99335 1595

Fotografia, arte e produção: Henry Yu

Desenhos baseados nas ilustrações de Veruschka Guerra, de livros de contos da Editora Paulus.

 


Muito longe da terra, onde o mar é muito azul, vivia o povo do mar. O rei desse povo, conhecido por Rei Tristão, tinha seis filhas, todas muito bonitas, e donas das vozes mais belas de todo o mar, porém a mais moça se destacava, com sua pele fina e delicada como uma pétala de rosa e os olhos deslumbrantes. Todas eram sereias, não tinham pés, mas sim uma cauda de peixe. Essa princesinha, desde criança, era a mais interessada nas histórias sobre o mundo de cima, e desejava poder ir à superfície; queria saber tudo sobre os navios, as cidades, as pessoas e os animais.

Os anos se passaram...

No seu aniversário de quinze anos, Ariel, A sereiazinha, recebeu um presente muito especial: podia subir à superfície do mar.

Viu o céu, o sol, as nuvens... Viu também um navio e ficou muito curiosa. Foi nadando até se aproximar da grande embarcação. Avistou, através dos vidros das vigias, passageiros ricamente trajados. O mais belo de todos era um jovem príncipe e a pequena sereia se apaixonou por ele. Ficou horas admirando seu príncipe, e só despertou de seu devaneio quando o navio foi pego de surpresa por uma tempestade e começou a tombar. A menina viu o príncipe cair no mar e afundar, e se lembrou de que os homens não conseguem viver dentro da água. Mergulhou na sua direção e o pegou já desmaiado, levando-o para uma praia.

Ao amanhecer, o príncipe continuava desacordado. A pequena sereia, vendo que um grupo de moças se aproximava, escondeu-se atrás das pedras, ocultando o rosto entre os flocos de espuma. As moças viram o náufrago deitado na areia e foram buscar ajuda. Quando finalmente acordou, o príncipe não sabia como havia chegado àquela praia, e tampouco fazia ideia de quem o havia salvado do naufrágio. Olhou para as pessoas à sua volta. Uma delas era uma moça tão linda que o príncipe se apaixonou por ela.

A princesa sereia voltou para o castelo muito triste e calada, e não respondia às perguntas de suas irmãs sobre sua primeira visita à superfície. Voltou várias vezes à praia onde tinha deixado o príncipe, mas ele nunca aparecia por lá, o que a deixava ainda mais triste. Esperava encontrá-lo, pois estava verdadeiramente apaixonada por ele. Mas todos lhe diziam ser impossível, um amor entre os dois, ele era humano e ela uma sereia...

A sereiazinha suspirou, olhando tristemente para a sua cauda de peixe e desejando ter um par de pernas em seu lugar. Não esquecia a ideia de se tornar humana e se encontrar com o seu amado...

Resolveu então procurar a bruxa do mar, famosa por transformar sonhos de jovens sereias em realidade... desde que elas pagassem um preço por isso.

A bruxa já a esperava, e foi logo dizendo:

— Já sei o que você quer. É uma loucura querer ter pernas, isso trará muita infelicidade a você! Mesmo assim vou preparar uma poção, mas essa transformação será dolorosa. Cada passo que você der será como se estivesse pisando em facas afiadas, e a dor a fará pensar que seus pés foram dilacerados. Você está disposta a suportar tamanho sofrimento?

— Sim, estou pronta! — disse a pequena sereia, pensando no príncipe e na sua alma imortal.
— Pense bem, menina. Depois de tomar a poção você nunca mais poderá voltar à forma de sereia...
e se não conseguires casar com o príncipe, morrerás, na manhã seguinte.

A sereiazinha assentiu com a cabeça e, sem dizer uma palavra, ficou observando a bruxa fazer a poção.

— Pronto, aqui está ela..., mas antes de entregá-la a você, aviso que meu preço por este trabalho é alto: quero a sua linda voz como pagamento. Você nunca mais poderá falar ou cantar...

A princesa sereia quase desistiu, mas pensou no seu príncipe e pegou a poção que a bruxa lhe estendia e sem olhar para o palácio onde nasceu e cresceu, soltou um beijo na sua direção e nadou para a praia.

Assim que bebeu a poção, sentiu como se uma espada lhe atravessasse o corpo e desmaiou. Acordou com o príncipe observando-a. Ele a tomou docemente pela mão e a conduziu ao seu palácio. Como a bruxa havia dito, a cada passo que a menina dava sentia como se estivesse pisando sobre lâminas afiadíssimas, mas suportava tudo com alegria pois finalmente estava ao lado de seu amado príncipe.

Ele estava encantado com a beleza da moça, mas não pensava em se casar com ela, pois ainda tinha esperança de encontrar a linda moça que ele vira na praia, após o naufrágio, e por quem se apaixonara sem saber quem era.

Todas as noites a princesinha ia refrescar os pés na água do mar. Nessas horas, suas irmãs se aproximavam da praia para matar a saudade da caçulinha. Sua avó e seu pai, o rei dos mares, também apareciam para vê-la, mesmo que de longe.

A família do príncipe queria que ele se casasse com a filha do rei vizinho, e organizou uma viagem para apresentá-los. O príncipe, a sereiazinha e um numeroso séquito seguiram em viagem para o reino vizinho.

Quando o príncipe viu a princesa, não se conteve:

— Foi você que eu vi na praia! Foi você que me salvou! Finalmente encontrei você, minha amada! Para tristeza da sereiazinha, a princesa também se apaixonara pelo príncipe e os dois marcaram o casamento para o dia seguinte.

Todo o sacrifício da pequena sereia havia sido em vão. Depois do casamento, os noivos e a comitiva voltaram de navio para o palácio do príncipe, e a sereiazinha ficou observando o amanhecer, esperando o primeiro raio de sol que deveria matá-la.

Viu então suas irmãs, pálidas e sem a longa cabeleira, nadando ao lado do navio. Em suas mãos brilhava um objeto.

— Nós entregamos nossos cabelos para a bruxa do mar em troca deste punhal. Você deve enterrá-lo no coração do príncipe. Só assim poderá voltar a ser uma sereia novamente e escapará da morte. Corra, você deve matá-lo antes do nascer do sol.

A sereiazinha pegou o punhal e foi até o quarto do príncipe. Mas, ao vê-lo dormir, não teve coragem de matá-lo. Caminhou lentamente até a murada do navio, mergulhou no mar azul e, ao confundir-se com as ondas, sentiu que seu corpo ia se diluindo em espuma.

Ainda que tudo parecesse perdido, a sereia não morreu. Ela tornou-se uma deusa dos mares, protegendo os casais apaixonados!

Nenhum comentário:

Postar um comentário