quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Dezembro - O Rouxinol do Imperador

 Rouxinol do Imperador

Bordado por: Rosângela Gualberto

Conto: Rouxinol do Imperador

Autor: Hans Christian Andersen

Desenho: Samira El Bizri Portes

Contato: rosangelagualberto@uol.com.br //  55 (31) 98772 8302
Fotografia, arte e produção: Henry Yu

Desenhos baseados nas ilustrações de Veruschka Guerra, de livros de contos da Editora Paulus.

 

 Era uma vez um rouxinol que cantava nos jardins do Palácio Imperial da China e, como nenhum outro pássaro, deixava as pessoas deslumbradas com suas maravilhosas canções. Ao ouvir o canto do rouxinol, as pessoas diziam: “Isto é maravilhoso!” Sábios escreviam sobre o palácio e o canto do rouxinol sempre era elogiado pelo povo da cidade.  Um dia chegou aos ouvidos do Imperador que, apesar de todas as maravilhas que existiam em seu reino, nada se comparava com o canto do rouxinol.

O Imperador, ao ouvir estes comentários, reuniu a corte, chamou o chefe da guarda e disse: “Traga-me o rouxinol ainda hoje, quero que cante para mim.” Sem perder tempo, o homem saiu à procura do rouxinol e perguntou à moça da cozinha que disse: “Quão bem ele canta! Sempre levo comida para a minha mãe e ao voltar para o palácio, sento-me junto de uma árvore para ouvir o canto do rouxinol.” Foram para o jardim, onde a moça disse: “Lá está ele!”

“Rouxinol!” chamou a moça. “O Imperador quer ouvir seu canto, por favor, venha comigo.” O rouxinol bateu as asas e voou para o ombro do homem que, feliz da vida, montou no cavalo e partiu rumo ao palácio onde um poleiro dourado estava preparado. Com a corte presente, os olhares se voltaram para o pequeno pássaro. O Imperador deu sinal para o pássaro cantar e os dois se tornaram amigos.

O rouxinol era um sucesso em sua gaiola dourada. Certo dia, o Imperador recebeu do Imperador do Japão uma caixa com os dizeres: Rouxinol de corda, cuidado: objeto frágil.

Curioso, abriu a caixa e encontrou um rouxinol mecânico feito de ouro, todo enfeitado com pedras preciosas e brilhantes. Em volta do pescoço trazia uma fita, com a mensagem: O rouxinol do Imperador da China nada vale comparado com o rouxinol do Imperador do Japão. E o Imperador disse: “Basta dar corda que ele começa a mexer, agita a cauda, abre o bico e canta.” E, no interior do Palácio, todos os elogios se voltaram para o rouxinol dourado.

Toda a população soube do rouxinol mecânico e mensagens chegaram para que ele se apresentasse em um concerto público. E o pássaro de corda foi colocado para cantar. Agradou tanto como o verdadeiro rouxinol e, além disto, era bonito de ver o seu brilho. O rouxinol mecânico cantou a mesma canção muitas vezes. Um dia, o Imperador achou que era a vez do verdadeiro rouxinol também cantar para todos. Mas onde estava o verdadeiro rouxinol? Tinha voado pela janela, para o jardim. Os cortesãos levaram o rouxinol de corda para cantar outra vez. E todos os elogios eram para o rouxinol mecânico: era superior ao rouxinol vivo que foi deixado de lado.

O pássaro artificial recebeu um lugar especial numa almofada de seda junto à cama do Imperador. Tudo continuou por um ano, até que o Imperador, a corte e o resto do povo chinês já sabiam de cor cada nota da canção do pássaro de corda. Mas uma noite, quando o Imperador, deitado na cama ouvia o pássaro de corda cantando, algo fez croc! dentro dele.  O mecanismo continuou a rodar, mas a música parou. O relojoeiro conseguiu consertar o pássaro mecânico, porém todos ficaram sabendo que o rouxinol deveria ser usado poucas vezes; as peças estavam gastas e não era possível substituí-las sem estragar o som.

Os anos se passaram e uma tristeza abateu-se sobre o país. O Imperador adoeceu e diziam que ele estava mal. Ele jazia em seu leito, pálido e imóvel, dizendo: “Música! Quero música! Passarinho dourado, canta, peço-lhe que cante! Dei-lhe ouro e coisas preciosas; pendurei o meu sapato dourado em seu pescoço com as minhas próprias mãos. Cante, peço-lhe, cante!” Mas o pássaro era silencio; não havia ninguém para lhe dar corda, e sem corda não tinha voz. E a Morte olhava para o Imperador.

Tudo era silêncio... Quando, de repente, diante da janela do quarto do Imperador, soou a mais bela canção. Era o verdadeiro rouxinol que, empoleirado num ramo lá fora, e sabendo da doença do Imperador, tinha voltado para aliviar o seu sofrimento e trazer-lhe esperança. À medida que cantava, o imperador dizia: “Cante, cante mais, pequeno rouxinol.”

“Cantarei”, e o rouxinol cantou sobre as roseiras, sobre as árvores, e o Imperador disse: “Como hei de recompensar lhe?” E respondeu o rouxinol. “Quando cantei para você pela primeira vez, caíram-lhe lágrimas dos olhos e essa dádiva não posso esquecer. Essas são as joias que não se compram nem se vendem. Mas agora deve dormir para ficar bom e forte. Cantarei novamente para você.” E cantou, cantou e o Imperador caiu num sono calmo e reparador.

“Há de ficar sempre comigo e só cantar quando quiser”, disse o Imperador. “E, quanto ao pássaro de corda, irei partir em pedaços.” “Não faça isso,” falou o rouxinol. “Guarde-o. Eu não posso morar no palácio, deixe-me ir e vir à vontade e, à noite, ficarei neste ramo, junto de sua janela, e cantarei para você. Hei de trazer-lhe felicidade, hei de cantar para as pessoas tristes e felizes. Cantarei sobre o bem e o mal, que sempre estão à nossa volta. Amo o seu coração, e sempre voltarei, mas deve me prometer uma coisa.”

“O que quiser!” exclamou o Imperador. E o rouxinol falou: “A única coisa que lhe peço é para não dizer a ninguém que tem um amigo passarinho que lhe conta tudo, e deve guardar este segredo.”  

Com estas palavras, o rouxinol voou para arvores, e os criados, que chegaram, pensando ver o Imperador ainda doente, ficaram espantados ao vê-lo saudável e feliz!


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