Bordado por: Regina C. Drumond
Hans Christian Andersen
Em um reino distante morava um
rei com seus onze filhos e uma filha de nome Elisa. Ao ficar viúvo, o rei
pensou em se casar, contraindo matrimônio com uma perversa mulher, que em pouco
tempo começou a odiar os seus enteados. Ela os maltratava, continuamente,
fazendo da vida deles um verdadeiro
terror. Um dia, a madrasta
determinou que Elisa fosse viver com os camponeses e , como ela era uma bruxa,
transformou os meninos em onze cisnes e os mandou para bem longe.
E os anos se passaram.
Elisa tornou-se uma bela moça, e
sempre pensava em seus irmãos. Quando completou os seus quinze anos de idade,
voltou para o palácio de seu pai.
A madrasta, ao vê-la tão formosa
e inteligente, colocou na água do banho três sapos para que Elisa se
transformasse em uma moça feia, estúpida e má, entretanto Elisa era tão boa
que, perto dela, os três sapos se transformaram em três papoulas
vermelhas. A madrasta furiosa untou o
rosto, os cabelos e corpo da princesa com um suco escuro. Elisa ficou tão feia
que, quando foi levada à presença do rei, este vê-la não a reconheceu e disse
que essa não era a sua filha Elisa.
Assim, triste e solitária, ela
fugiu do castelo à procura de seus irmãos. Elisa caminhava todos os dias,
alimentava-se de frutos silvestres e à noite dormia embaixo de árvores que
encontrava pelo caminho. Um dia ela chegou à beira de um lago cristalino e
assustou a ver o reflexo de seu rosto. Assim, ela entrou na água para lavar a
sua pele e os seus cabelos. E, à
tardinha, quando o sol estava se escondendo no horizonte, Elisa viu os onze
cisnes brancos que traziam em suas cabeças uma coroa de ouro.
Um após o outro, os cisnes
pousaram perto dela, batendo as suas grandes asas e, no exato momento em que o
sol desapareceu no horizonte, eles se transformaram em onze belos rapazes. Eram
os seus irmãos, que a abraçaram e lhe contaram a magia feita pela
madrasta-bruxa. Ainda lhe contaram que só voltavam a ser humanos de noite, após
o sol desaparecer no horizonte.
E o irmão mais velho disse a
Elisa: "Nós somente poderemos vir aqui uma vez por ano, porque moramos num
país distante, do outro lado do mar. Amanhã voltaremos e você irá conosco."
E assim, passaram uma noite
tecendo uma rede feita com a casca flexível de um salgueiro e varinhas de
juncos. Ao amanhecer colocaram Elisa na rede e,
segurando com o bico as beiradas da rede, saíram voando. Após horas de viagem chegaram ao longínquo
país, onde Elisa viu montanhas azuis, grandes florestas, cidades e palácios.
Todos entraram numa gruta no meio de um bosque para dormir, enquanto Elisa
rezava para encontrar uma maneira para salvar os seus irmãos.
Apenas cerrou os seus olhos, uma
fada apareceu-lhe no sonho e lhe disse: "Para libertar os seus irmãos
desta maldição, você vai precisar de muita coragem e perseverança. Deverá
cortar folhas de urtiga, pisar nelas até que
as fibras se soltem, e com as mesmas deverá fazer onze túnicas. Durante todo o tempo que este
trabalho durar, não deverá pronunciar uma só palavra, pois caso contrário
muitas desgraças recairão sobre os seus irmãos. E quando as túnicas estiverem
prontas, deverá vestir os cisnes-príncipes para que voltem a ser humanos
."
Na manhã seguinte, lembrando-se
do sonho, Elisa começou o seu trabalho de tecelã. As urtigas queimavam a sua
pele delicada, mas ela só pensava na libertação de seus irmãos. Um dia, ela
estava sozinha na gruta tecendo as túnicas, quando ouviu sons de caçadores e o
ladrar de cães. Foi quando um grupo de caçadores surgiu entre as árvores, e com
eles estava o rei do país.
O rei, maravilhado com a beleza de
Elisa, decidiu com ela se casar e a levou para o seu palácio em seu cavalo. No
palácio a vestiram com roupas maravilhosas e fizeram uma grande festa. Elisa
apenas chorava sem poder falar. Finalmente, o rei a levou para seus aposentos,
abriu uma porta, e Elisa viu um quarto que parecia uma gruta, onde estavam
todas as urtigas que havia colhido e as túnicas que já tinha tecido.
- Aqui você poderá lembrar de sua
vida como era, eu só desejo a sua felicidade, - disse-lhe o rei. E assim pela primeira vez Elisa
sorriu. Ela se tornou rainha e continuou tecendo as onze túnicas sem dizer uma
única palavra e todos ali acreditavam que ela era muda. O rei era bom para ela
e Elisa o amava mais a cada dia.
Alguns cortesãos com inveja do
amor do rei por Elisa foram lhe dizer que a rainha não passava de uma
feiticeira, mas ele não queria ouvir nada contra a esposa. Até que certa noite,
quando a soberana desceu para colher as urtigas nos jardins do palácio, o rei a
viu e, pensando que ela estava colhendo ervas danosas, convenceu-se de que
Elisa era realmente uma bruxa.
O rei magoado entregou Elisa para
ser julgada pelos seus súditos, que a condenaram a morrer queimada. Elisa, triste e prisioneira numa cela úmida e
escura, nada fez para provar a sua inocência, entretanto continuou tecendo as
túnicas para os seus irmãos.
No dia em que foi conduzida para
a fogueira, chegaram voando onze cisnes brancos que traziam em suas cabeças uma
coroa de ouro e ficaram batendo as suas asas em volta dela. Todas as pessoas
presentes se admiraram e muitos pensaram que aquilo devia ser um sinal da
inocência de Elisa. Elisa, que acabara de terminar as onze túnicas,
imediatamente as jogou sobre as onze aves que, naquele mesmo instante se transformaram em onze príncipes!
Elisa, que havia desmaiado, abriu
os olhos sentindo que estava nos braços de seu esposo. Agora ela podia falar.
Contou que era inocente, e como havia salvado os seus irmãos da maldição da
bruxa. E assim, rodeada pelos seus onze irmãos, Elisa foi conduzida
triunfalmente de volta para o palácio real onde todos viveram felizes para
sempre.
O
Livro dos Nossos Filhos 1959, Alfa Ed.
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