terça-feira, 24 de dezembro de 2013

OS CISNES SELVAGENS

Bordado por: Regina C. Drumond

Hans Christian Andersen

Em um reino distante morava um rei com seus onze filhos e uma filha de nome Elisa. Ao ficar viúvo, o rei pensou em se casar, contraindo matrimônio com uma perversa mulher, que em pouco tempo começou a odiar os seus enteados. Ela os maltratava, continuamente, fazendo da vida deles um verdadeiro  terror. Um dia,  a madrasta determinou que Elisa fosse viver com os camponeses e , como ela era uma bruxa, transformou os meninos em onze cisnes e os mandou para bem longe.
E os anos se passaram.
Elisa tornou-se uma bela moça, e sempre pensava em seus irmãos. Quando completou os seus quinze anos de idade, voltou para o palácio de seu pai.
A madrasta, ao vê-la tão formosa e inteligente, colocou na água do banho três sapos para que Elisa se transformasse em uma moça feia, estúpida e má, entretanto Elisa era tão boa que, perto dela, os três sapos se transformaram em três papoulas vermelhas.  A madrasta furiosa untou o rosto, os cabelos e corpo da princesa com um suco escuro. Elisa ficou tão feia que, quando foi levada à presença do rei, este vê-la não a reconheceu e disse que essa não era a sua filha Elisa.
Assim, triste e solitária, ela fugiu do castelo à procura de seus irmãos. Elisa caminhava todos os dias, alimentava-se de frutos silvestres e à noite dormia embaixo de árvores que encontrava pelo caminho. Um dia ela chegou à beira de um lago cristalino e assustou a ver o reflexo de seu rosto. Assim, ela entrou na água para lavar a sua pele e os seus cabelos.  E, à tardinha, quando o sol estava se escondendo no horizonte, Elisa viu os onze cisnes brancos que traziam em suas cabeças uma coroa de ouro.
Um após o outro, os cisnes pousaram perto dela, batendo as suas grandes asas e, no exato momento em que o sol desapareceu no horizonte, eles se transformaram em onze belos rapazes. Eram os seus irmãos, que a abraçaram e lhe contaram a magia feita pela madrasta-bruxa. Ainda lhe contaram que só voltavam a ser humanos de noite, após o sol desaparecer no horizonte.
E o irmão mais velho disse a Elisa: "Nós somente poderemos vir aqui uma vez por ano, porque moramos num país distante, do outro lado do mar. Amanhã voltaremos e você irá conosco."
E assim, passaram uma noite tecendo uma rede feita com a casca flexível de um salgueiro e varinhas de juncos. Ao amanhecer colocaram Elisa na rede e,  segurando com o bico as beiradas da rede, saíram voando.  Após horas de viagem chegaram ao longínquo país, onde Elisa viu montanhas azuis, grandes florestas, cidades e palácios. Todos entraram numa gruta no meio de um bosque para dormir, enquanto Elisa rezava para encontrar uma maneira para salvar os seus irmãos.
Apenas cerrou os seus olhos, uma fada apareceu-lhe no sonho e lhe disse: "Para libertar os seus irmãos desta maldição, você vai precisar de muita coragem e perseverança. Deverá cortar folhas de urtiga, pisar nelas até que  as fibras se soltem, e com as mesmas deverá fazer  onze túnicas. Durante todo o tempo que este trabalho durar, não deverá pronunciar uma só palavra, pois caso contrário muitas desgraças recairão sobre os seus irmãos. E quando as túnicas estiverem prontas, deverá vestir os cisnes-príncipes para que voltem a ser humanos ."
Na manhã seguinte, lembrando-se do sonho, Elisa começou o seu trabalho de tecelã. As urtigas queimavam a sua pele delicada, mas ela só pensava na libertação de seus irmãos. Um dia, ela estava sozinha na gruta tecendo as túnicas, quando ouviu sons de caçadores e o ladrar de cães. Foi quando um grupo de caçadores surgiu entre as árvores, e com eles estava o rei do país.
O rei, maravilhado com a beleza de Elisa, decidiu com ela se casar e a levou para o seu palácio em seu cavalo. No palácio a vestiram com roupas maravilhosas e fizeram uma grande festa. Elisa apenas chorava sem poder falar. Finalmente, o rei a levou para seus aposentos, abriu uma porta, e Elisa viu um quarto que parecia uma gruta, onde estavam todas as urtigas que havia colhido e as túnicas que já tinha tecido.
- Aqui você poderá lembrar de sua vida como era, eu só desejo a sua felicidade, - disse-lhe  o rei. E assim pela primeira vez Elisa sorriu. Ela se tornou rainha e continuou tecendo as onze túnicas sem dizer uma única palavra e todos ali acreditavam que ela era muda. O rei era bom para ela e Elisa o amava mais a cada dia.
Alguns cortesãos com inveja do amor do rei por Elisa foram lhe dizer que a rainha não passava de uma feiticeira, mas ele não queria ouvir nada contra a esposa. Até que certa noite, quando a soberana desceu para colher as urtigas nos jardins do palácio, o rei a viu e, pensando que ela estava colhendo ervas danosas, convenceu-se de que Elisa era realmente uma bruxa.
O rei magoado entregou Elisa para ser julgada pelos seus súditos, que a condenaram a morrer queimada.  Elisa, triste e prisioneira numa cela úmida e escura, nada fez para provar a sua inocência, entretanto continuou tecendo as túnicas para os seus irmãos.
No dia em que foi conduzida para a fogueira, chegaram voando onze cisnes brancos que traziam em suas cabeças uma coroa de ouro e ficaram batendo as suas asas em volta dela. Todas as pessoas presentes se admiraram e muitos pensaram que aquilo devia ser um sinal da inocência de Elisa. Elisa, que acabara de terminar as onze túnicas, imediatamente as jogou sobre as onze aves que, naquele mesmo instante  se transformaram em onze príncipes! 
Elisa, que havia desmaiado, abriu os olhos sentindo que estava nos braços de seu esposo. Agora ela podia falar. Contou que era inocente, e como havia salvado os seus irmãos da maldição da bruxa. E assim, rodeada pelos seus onze irmãos, Elisa foi conduzida triunfalmente de volta para o palácio real onde todos viveram felizes para sempre.


O Livro dos Nossos Filhos 1959, Alfa  Ed.

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