Bordado por: Vani Luiza Cipriano
Esta árvore ficava no centro da
aldeia. Dava uma sombra fresca deliciosa
quando o sol ardia.
Mas, sobretudo, estava carregado
de frutas singulares. Brilhosas, redondas, suculentas, deixavam escapar um
caldo que lembrava mel. As mãos se estendiam espontaneamente para pegá-las.
Mas, imediatamente, o gesto do adulto se interrompia, a mãe ou o pai batiam
forte na mão da criança...
- Nunca, nunca mais estenderá a
mão para estas frutas magníficas, nunca!
Homens e crianças buscavam a
sombra da grande árvore, mas nenhuma mão colhia as frutas maravilhosas.
Com efeito, os homens sabiam, e
não sabiam. A árvore tinha dois galhos mestres absolutamente idênticos. Destes
dois galhos surgiam ramagens abundantes absolutamente idênticas. Estas ramagens
estavam carregadas de frutas magníficas absolutamente idênticas. Mas os homens
sabiam. Sabiam que um destes galhos estava carregado de frutas da vida bem
doces, mais saborosas do que se podia imaginar... Sabiam que o outro galho
absolutamente idêntico estava carregado de frutas da morte cheias de veneno,
mais venenosas do que se podia imaginar... Sabiam aquilo. Mas não sabiam qual
galho dava frutas da vida, qual galho dava frutas da morte.
Na mesma árvore, dois galhos
absolutamente idênticos. Na mesma árvore, frutas da vida e frutas da morte.
Nenhuma mão colhia as frutas
absolutamente idênticas, jamais, desde seus pais, desde os pais de seus pais.
Eis que um ano veio a seca,
impiedosa. Os homens procuravam a sombra debaixo da árvore da vida e da morte,
mas ninguém estendia a mão para as frutas magníficas. Nos campos os rebentos secavam
na terra rachada. Não havia frutas nem grãos para guardar nos celeiros. Com a
seca veio a fome, implacável. Os homens tremiam de fome e de calor, tremiam
debaixo da árvore da vida e da morte. Mãos esqueléticas se estendiam para as
frutas, quase tocando nelas às vezes... Mas o movimento era sempre
interrompido.
As mulheres e os homens, os
velhos e as crianças, todos estavam morrendo de morte lenta debaixo da árvore
com os dois galhos absolutamente idênticos. Todos estavam agachados ou
deitados, todos mortos-vivos. Lentamente a vida se apagava dentro de cada um,
debaixo da árvore com as frutas absolutamente idênticas.
Então um homem se levantou e
falou:
- Irmãos, agora mesmo estarei
morto ou vivo. Irmãos, amanhã vocês todos estarão vivos. Irmãos, agora mesmo
estarei morto ou vivo, terei provado a fruta de um dos galhos mestres. Estarei
morto ou vivo mas vocês, irmãos, saberão e lembrarão para sempre qual destes
dois galhos mestres está carregado de frutas da vida, qual está carregado de
frutas da morte.
Sem tremer, o homem estendeu a
mão, colheu uma fruta num dos galhos mestres, levou-a até sua boca e, sem
pestanejar, comeu-a. Todos olhavam para ele sem falar uma palavra. O sumo
escorreu dentro de sua garganta como mel, a polpa nutriu seu corpo melhor do
que o nutriria qualquer grão moído. Era a fruta da vida.
Agora os homens sabiam, agora os
homens podiam olhar para os dois galhos mestres absolutamente idênticos e dizer
sem temor:
- É esta que está carregada de
vida, aquela está carregada de morte.
As mulheres e os homens, os
velhos e as crianças, todos se levantaram e estenderam a mão para as frutas da
vida. Todos mataram a sede com o sumo delicioso como mel, todos se nutriram da
polpa mais nutritiva do que qualquer grão moído. Todos se fartaram das frutas
da vida. Todos acharam vida nova debaixo da árvore com os dois galhos
absolutamente idênticos.
- Mas – disse um –, como
guardaremos para sempre na memória estes dois galhos absolutamente idênticos?
Qual estará sempre carregado das frutas da vida, qual estará sempre carregado
das frutas da morte? Como faremos?
- Vamos cortar, arrancar, serrar
– disse um. – Vamos separar os dois galhos absolutamente idênticos, isolar para
sempre aquele que está sempre carregado das frutas da morte, aquele que está
sempre carregado das frutas da vida.
- Vamos cortar, arrancar, serrar
– disseram mulheres e homens, velhos e crianças. – Vamos separar os dois galhos
absolutamente idênticos, isolar para sempre aquele que está sempre carregado
das frutas da morte, aquele que está sempre carregado das frutas da vida.
Na alegria reencontrada, com a
boca e a barriga saciada de suco igual ao mel e de polpa mais nutritiva do que
qualquer grão moído, com cantos, danças e risos, os homens serraram o galho
mau, jogaram por terra o galho que estava carregado de frutas da morte.
Deixaram a árvore com os dois
galhos mestres finalmente separados; um deles, carregado de frutas da morte,
por terra; o outro na árvore, carregado de frutas da vida. Saciados e
contentes, todos foram deitar...
Na manhã seguinte, a árvore
estava morta.
Conto francês da tradição oral
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