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Desenho: Regina Drumond
Era uma vez um rouxinol que cantava nos jardins do Palácio
Imperial da China e, como nenhum outro
pássaro deixava as pessoas deslumbradas com suas maravilhosas canções. Ao ouvir o canto do rouxinol as pessoas diziam: Isto é maravilhoso! Sábios escreviam sobre o palácio e o canto do
rouxinol sempre era elogiado pelo povo da cidade. Um dia chegou aos ouvidos do Imperador que apesar de todas as maravilhas que existiam em seu reino, nada
se comparava com o canto do rouxinol .
O imperador ao ouvir
estes comentários reuniu a corte, chamou o chefe da guarda e
disse: Traga-me o rouxinol ainda hoje, quero que cante para mim. E... sem
perder tempo o homem saiu à procura do
rouxinol E perguntou a moça da cozinha
que disse : Quão bem ele canta! Sempre
levo comida para a minha mãe e ao voltar para o palácio sento junto de uma
árvore para ouvir o canto do rouxinol. E foram para o jardim onde a moça disse: Lá está ele
Rouxinol! — chamou a moça. O Imperador quer ouvir seu canto, por favor, venha comigo. O rouxinol bateu as asas e voou para o ombro
do homem, que feliz da vida montou no cavalo e partiu rumo ao palácio onde um poleiro dourado estava preparado para o rouxinol. Com a corte
presente os olhares se voltaram para o
pequeno pássaro . O Imperador deu sinal para o pássaro cantar e os dois se
tornaram amigos.
O rouxinol era um sucesso em sua gaiola dourada .Certo dia, o
Imperador recebeu do Imperador do Japão
uma caixa com os dizeres: ROUXINOL de corda, cuidado: objeto frágil.
Curioso, abiu a caixa e encontrou um rouxinol mecânico feito de ouro , todo
enfeitado com pedras preciosas e brilhantes. E o Imperador disse: basta dar
corda que ele começa a mexer, agita a cauda, abre o bico e canta. Em volta do
pescoço trazia uma fita, com a mensagem: "O rouxinol do Imperador da China
nada vale comparado com o rouxinol do Imperador do Japão. "E no interior
do Palácio todos os elogios se voltaram para o rouxinol dourado.
Toda a população soube do rouxinol mecânico e mensagens chegaram para que ele se
apresentasse em um concerto público. E, o pássaro de corda foi colocado para cantar
sozinho. Agradou tanto como o verdadeiro rouxinol, e, alem disto era bonito de ver o seu brilho. O rouxinol cantava a mesma canção muitas vezes .Um dia o Imperador achou que era a vez do verdadeiro
rouxinol também cantar para todos.
E onde estava o verdadeiro rouxinol? voou
pela janela, para o jardim. Os cortesãos levaram o rouxinol de corda para cantar outra vez. E todos os elogios eram
para o rouxinol mecânico: era superior ao rouxinol vivo, que foi deixado de
lado.
O pássaro artificial recebeu um lugar especial numa almofada
de seda junto à cama do Imperador. Tudo continuou por um ano, até que o Imperador, a
corte e o resto do povo chinês já sabiam de cor cada nota da canção do pássaro
de corda.
Mas, uma noite quando o pássaro de corda estava cantando e o Imperador,
deitado na cama o ouvia, algo fez
"croc!" dentro do pássaro. O
mecanismo continuou a rodar e a música parou. O Imperador mandou chamar o seu médico, mas somente o
relojoeiro conseguiu consertar o pássaro
mecânico. E todos sabiam que o rouxinol deveria
ser usado poucas vezes; as peças estavam
gastas , e, não era possível
substituí-las sem estragar o som
Os anos se passaram e uma tristeza abateu-se sobre o país. O Imperador
adoeceu, e, diziam que ele estava mal. O Imperador jazia em seu leito, pálido e
imóvel.
Disse o Imperador : —
Música! Quero música! Passarinho
dourado, canta, peço - lhe que cante!
Dei-lhe ouro e coisas preciosas; pendurei o meu sapato dourado em seu pescoço
com as minhas próprias mãos. Canta, peço-lhe, canta! Mas o pássaro era silencio;
não havia ninguém para lhe dar corda, e sem corda não tinha voz. E a Morte olhava para o Imperador.
Tudo era silêncio... Quando de repente, diante da janela do quarto do
Imperador, soou a mais bela canção. Era o verdadeiro rouxinol, que empoleirado num ramo lá fora, e sabendo da
doença do Imperador, tinha voltado para
aliviar o seu sofrimento e trazer-lhe esperança. À medida que cantava o
imperador dizia cante, cante mais, pequeno rouxinol.
— Cantarei, e o rouxinol
cantou sobre as roseiras, sobre as árvores, e o Imperador disse: como
hei de recompensar- lhe.
E respondeu o rouxinol. Quando cantei para você pela primeira vez
caíram-lhe lágrimas dos olhos e essa dádiva não posso esquecer. Essas são as joias
que não se compram nem se vendem. Mas agora deve dormir para ficar bom e forte,
cantarei novamente para você. E cantou, cantou e o Imperador caiu num sono
calmo e reparador.
— Há de ficar sempre comigo e só cante quando quiser disse o Imperador. E,
quanto ao pássaro de corda, irei partir em pedaços.
— Não faça isso, falou o rouxinol. Guarde-o. Eu não posso
morar no palácio, deixe-me ir e vir à vontade, e à noite ficarei neste ramo,
junto de sua janela, e cantarei para você.
Hei de trazer-lhe felicidade, hei de cantar para as pessoas tristes e
felizes s. Cantarei sobre o bem e o mal, que sempre estão à nossa volta . Amo o
seu coração, e, sempre voltarei , mas deve me prometer uma coisa.
— O que quiser! — exclamou o Imperador.
- E o rouxinol falou : A única coisa que lhe peço é para
não dizer a ninguém que tem um amigo passarinho que lhe conta tudo, e deve guardar este segredo.
Com estas palavras, o rouxinol voou para arvores, e, os
criados chegaram para ver o Imperador ainda doente, mas... ficaram espantados ao ver o Imperador saudável e feliz!
Hans
Christian Andersen – 1844
Adaptação:
Regina C.Drumond
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