sábado, 6 de dezembro de 2014

Dragão Amarelo Trovão - Um conto chinês

Bordado por: Marie-Thérèse Pfyffer
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Desenho: Marie-Thérèse Pfyffer


Muito, muito tempo atrás, vivia na China o menino Chang.  Morava com seu pai, o fazendeiro Yin, e a sua avó, uma mulher velha e sábia que cuidava dele com amor porque a sua mãe tinha morrido ao lhe dar a luz. Era um menino quieto. Passava o dia sonhando, à espera de algo inesperado e maravilhoso mas nunca nada acontecia.  Até os seus treze anos.

Naquela tarde fazia um calor insuportável. Enquanto a avó dormia e Yin fazia algum trabalho em casa, Chang foi até o portão do jardim e ficou olhando para a planície que se estendia até o rio e para as montanhas ao longe. E viu chegar pela estrada um jovem cavaleiro de rara beleza vestido de amarelo e acompanhado de quatro criados. Um deles carregava um esplêndido guarda-sol amarelo para proteger o jovem do sol. Chang teve a impressão que os pés do cavalo e dos criados não tocavam o chão mas flutuavam entre céu e terra. O cavalo parecia um simples cavalo branco, mas uma bruma irisada cintilava ao seu redor como água tocada pelos raios do sol. Chang sentiu que algo extraordinário estava acontecendo. Os viajantes pararam no portão.

- Estou cansado, Chang, filho de Yin – disse  o jovem. – Posso me sentar no jardim de seu pai?

Chang curvou-se respeitosamente e o convidou a entrar. O cavaleiro desmontou com ligeireza e todos entraram no jardim. Ao ouvir as vozes, Yin veio saudar os visitantes e pediu ao filho que trouxesse alimentos.

Enquanto conversavam e se restauravam, Chang observava tudo. Como estes visitantes lhe pareciam surpreendentes! Suas roupas não aparentavam nenhuma costura, pareciam feitas de uma única peça de tecido. O cavalo não tinha pelos, estava coberto por pequenas escamas brancas e brilhosas, e em cada uma se podia ver cinco minúsculas manchas coloridas...

Finalmente o jovem estrangeiro agradeceu a hospitalidade e se despediu. Quando passaram pelo portão, o criado que segurava o guarda-sol o abaixou e só voltou a endireita-lo quando pisou na estrada.

- Voltarei amanhã – prometeu o cavaleiro ao subir no seu cavalo.
- Volte, nobre senhor – respondeu Chang inclinando-se.

Ele ficou olhando enquanto os visitantes tomavam o rumo das montanhas. De repente, eles saíram do chão, subiram pelos ares e desaparecerem nas nuvens cinzas anunciadoras de chuva. Então Chang voltou para dentro de casa.

- Estes visitantes eram estranhos – disse seu pai. – Não conhecia este jovem, mas ele sabia meu nome. Você notou algo diferente neles?
- Sim, pai. Seus pés não tocavam no chão quando caminhavam.
- Então não eram homens, mas espíritos. Precisamos falar com a Vovó sobre isto. Ela sabe das coisas sobrenaturais.

A anciã dormia profundamente e não mostrava nenhuma vontade de acordar. Espreguiçou-se e bocejou.

- Vovó! – disse Chang – Hoje recebemos visitas. Eram forasteiros e seus pés não tocavam no chão quando caminhavam.
- Conte-me tudo – disse a avó, subitamente desperta. E Chang contou tudo que viu.
- Roupas sem costura são roupas mágicas e o amarelo é uma cor sagrada. Sem nenhuma dúvida, este homem é Dragão Amarelo Trovão, sua montaria é Dragão Cavalo e seus criados são os Quatro Ventos. Haverá uma tempestade, mas se o criado abaixou o guarda-sol é um bom presságio – explicou a anciã e adormeceu de novo.

Em homenagem ao Dragão Amarelo Trovão, Chang vestiu um quimono amarelo, acendeu uma lanterna amarela, queimou incenso e leu fórmulas mágicas. Ao anoitecer, o céu se encheu de nuvens pretas. Yin e seu filho vigiavam pela janela, esperando a tempestade. Ouviram o trovão. Relâmpagos iluminaram o céu. Começou a cair uma chuva torrencial. Passaram as horas e ela não diminuía. Foi tanta água  que os rios transbordaram, invadiram os campos, arrastaram gente, animais, árvores, casas...

Ao amanhecer, Chang viu que a água do rio tinha chegado até o jardim. Olhou para o céu e lá, acima da casa, como para protegê-la, um dragão dourado pairava de asas abertas. E, num instante, tinha desaparecido.

- Pai! Vi Dragão Amarelo Trovão! E não está chovendo sobre a nossa casa!
- Ele está nos protegendo. Você fez bem em acolhê-lo ontem.

De tarde o sol voltou e Chang foi até o portão. Viu chegar o jovem estrangeiro no seu cavalo branco com seus quatro criados.

- Prometi voltar, mas hoje não entrarei no jardim.
- Como o senhor quiser – disse Chang e inclinou-se respeitosamente.
- Guarde isto com cuidado e faça bom uso.

O jovem pegou uma escama do pescoço do cavalo e a entregou a Chang. Com os seus criados, tomou o rumo do rio. Ficaram uns instantes caminhando acima das águas, entre céu e terra, e desapareceram nas ondas. Chang contou tudo ao seu pai e à sua avó.

- Quando o imperador os chamar, tudo estará bem – declarou a avó.

Yin e seu pai não entenderam o que isto queria dizer, mas a avó estava dormindo de novo e não explicou mais nada.

Nas semanas seguinte se espalhou a notícia de uma casa poupada pela chuva torrencial. Yin e Chang foram levados ao palácio e, na presença do imperador, Chang contou tudo o que tinha acontecido. Quando mostrou a escama, seu brilho intenso iluminou a sala do trono.

- Chang, filho de Yin, – disse o imperador – você vai ficar aqui ao meu lado. Te nomeio Mago Imperial porque Dragão Amarelo Trovão lhe entregou a escama que contém toda a magia do mundo.

E Chang foi morar no palácio com seu pai e a sua avó. Aprendeu a usar a escama para dar conselhos sábio ao imperador.

Mas isto ainda é outra história...

Adaptado de: “Dragon jaune tonnerre”
in “Contes magique du monde entier”. Margaret Mayo.

Gautier-Languereau, 1993.

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