mtpfyffer@uol.com.br
55 31 9133-9130
Desenho: Marie-Thérèse Pfyffer
Muito, muito tempo
atrás, vivia na China o menino Chang.
Morava com seu pai, o fazendeiro Yin, e a sua avó, uma mulher velha e
sábia que cuidava dele com amor porque a sua mãe tinha morrido ao lhe dar a luz.
Era um menino quieto. Passava o dia sonhando, à espera de algo inesperado e
maravilhoso mas nunca nada acontecia. Até
os seus treze anos.
Naquela tarde fazia
um calor insuportável. Enquanto a avó dormia e Yin fazia algum trabalho em
casa, Chang foi até o portão do jardim e ficou olhando para a planície que se
estendia até o rio e para as montanhas ao longe. E viu chegar pela estrada um jovem
cavaleiro de rara beleza vestido de amarelo e acompanhado de quatro criados. Um
deles carregava um esplêndido guarda-sol amarelo para proteger o jovem do sol. Chang
teve a impressão que os pés do cavalo e dos criados não tocavam o chão mas
flutuavam entre céu e terra. O cavalo parecia um simples cavalo branco, mas uma
bruma irisada cintilava ao seu redor como água tocada pelos raios do sol. Chang
sentiu que algo extraordinário estava acontecendo. Os viajantes pararam no
portão.
- Estou cansado,
Chang, filho de Yin – disse o jovem. –
Posso me sentar no jardim de seu pai?
Chang curvou-se
respeitosamente e o convidou a entrar. O cavaleiro desmontou com ligeireza e
todos entraram no jardim. Ao ouvir as vozes, Yin veio saudar os visitantes e
pediu ao filho que trouxesse alimentos.
Enquanto
conversavam e se restauravam, Chang observava tudo. Como estes visitantes lhe
pareciam surpreendentes! Suas roupas não aparentavam nenhuma costura, pareciam
feitas de uma única peça de tecido. O cavalo não tinha pelos, estava coberto
por pequenas escamas brancas e brilhosas, e em cada uma se podia ver cinco
minúsculas manchas coloridas...
Finalmente o jovem
estrangeiro agradeceu a hospitalidade e se despediu. Quando passaram pelo
portão, o criado que segurava o guarda-sol o abaixou e só voltou a endireita-lo
quando pisou na estrada.
- Voltarei amanhã –
prometeu o cavaleiro ao subir no seu cavalo.
- Volte, nobre
senhor – respondeu Chang inclinando-se.
Ele ficou olhando
enquanto os visitantes tomavam o rumo das montanhas. De repente, eles saíram do
chão, subiram pelos ares e desaparecerem nas nuvens cinzas anunciadoras de
chuva. Então Chang voltou para dentro de casa.
- Estes visitantes
eram estranhos – disse seu pai. – Não conhecia este jovem, mas ele sabia meu
nome. Você notou algo diferente neles?
- Sim, pai. Seus
pés não tocavam no chão quando caminhavam.
- Então não eram
homens, mas espíritos. Precisamos falar com a Vovó sobre isto. Ela sabe das
coisas sobrenaturais.
A anciã dormia
profundamente e não mostrava nenhuma vontade de acordar. Espreguiçou-se e
bocejou.
- Vovó! – disse
Chang – Hoje recebemos visitas. Eram forasteiros e seus pés não tocavam no chão
quando caminhavam.
- Conte-me tudo –
disse a avó, subitamente desperta. E Chang contou tudo que viu.
- Roupas sem
costura são roupas mágicas e o amarelo é uma cor sagrada. Sem nenhuma dúvida,
este homem é Dragão Amarelo Trovão, sua montaria é Dragão Cavalo e seus criados
são os Quatro Ventos. Haverá uma tempestade, mas se o criado abaixou o
guarda-sol é um bom presságio – explicou a anciã e adormeceu de novo.
Em homenagem ao
Dragão Amarelo Trovão, Chang vestiu um quimono amarelo, acendeu uma lanterna
amarela, queimou incenso e leu fórmulas mágicas. Ao anoitecer, o céu se encheu
de nuvens pretas. Yin e seu filho vigiavam pela janela, esperando a tempestade.
Ouviram o trovão. Relâmpagos iluminaram o céu. Começou a cair uma chuva torrencial.
Passaram as horas e ela não diminuía. Foi tanta água que os rios transbordaram, invadiram os
campos, arrastaram gente, animais, árvores, casas...
Ao amanhecer, Chang
viu que a água do rio tinha chegado até o jardim. Olhou para o céu e lá, acima
da casa, como para protegê-la, um dragão dourado pairava de asas abertas. E, num
instante, tinha desaparecido.
- Pai! Vi Dragão
Amarelo Trovão! E não está chovendo sobre a nossa casa!
- Ele está nos
protegendo. Você fez bem em acolhê-lo ontem.
De tarde o sol
voltou e Chang foi até o portão. Viu chegar o jovem estrangeiro no seu cavalo
branco com seus quatro criados.
- Prometi voltar,
mas hoje não entrarei no jardim.
- Como o senhor
quiser – disse Chang e inclinou-se respeitosamente.
- Guarde isto com
cuidado e faça bom uso.
O jovem pegou uma
escama do pescoço do cavalo e a entregou a Chang. Com os seus criados, tomou o
rumo do rio. Ficaram uns instantes caminhando acima das águas, entre céu e
terra, e desapareceram nas ondas. Chang contou tudo ao seu pai e à sua avó.
- Quando o imperador
os chamar, tudo estará bem – declarou a avó.
Yin e seu pai não
entenderam o que isto queria dizer, mas a avó estava dormindo de novo e não
explicou mais nada.
Nas semanas
seguinte se espalhou a notícia de uma casa poupada pela chuva torrencial. Yin e
Chang foram levados ao palácio e, na presença do imperador, Chang contou tudo o
que tinha acontecido. Quando mostrou a escama, seu brilho intenso iluminou a
sala do trono.
- Chang, filho de
Yin, – disse o imperador – você vai ficar aqui ao meu lado. Te nomeio Mago
Imperial porque Dragão Amarelo Trovão lhe entregou a escama que contém toda a
magia do mundo.
E Chang foi morar
no palácio com seu pai e a sua avó. Aprendeu a usar a escama para dar conselhos
sábio ao imperador.
Mas isto ainda é
outra história...
Adaptado
de: “Dragon jaune tonnerre”
in “Contes magique du monde entier”. Margaret Mayo.
Gautier-Languereau, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário