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Bordado por Selma Fabrini |
Era uma vez uma mulher
que queria ter uma criança bem pequena. Uma bruxa lhe deu um grão de cevada para
ser plantado num vaso. Nasceu uma flor grande e bonita. Quando a mulher beijou
as pétalas coloridas, a flor se abriu e a mulher viu, lá dentro, uma menina
pequenininha, do tamanho de uma polegada. Por isso, recebeu o nome de
Polegarzinha.
Seu berço era uma
casca de noz e o colchão era feito de pétalas de violeta. De dia, brincava em
cima da mesa: a mulher enchia um prato com água e, numa folha, Polegarzinha
navegava remando com pedacinhos de crina de cavalo e cantava com uma vozinha
doce.
Uma noite,
Polegarzinha dormia na noz quando entrou pela janela a Dona Sapa, grande, feia
e molhada. Pegou a casca de noz e foi embora pulando pelo jardim. De
manhãzinha, a menina acordou e começou a chorar, vendo que estava cercada de
água, sem poder ir para a terra. Estava numa folha de nenúfar no meio do lago. Dona
Sapa, depois de enfeitar a sua casa, nadou com o filho até onde estava
Polegarzinha.
— Este é o meu
filho que vai casar com você. Vocês vão morar muito bem na lama.
O sapo deu uns
gritos, mas Polegarzinha chorou muito. Uns peixinhos apareceram e ficaram com
pena dela. Juntaram-se e roeram o caule que prendia a folha. Ela se soltou e
foi arrastada pelo rio, levando Polegarzinha para bem longe.
Uma borboleta
pousou na folha. A menina, toda contente, amarrou uma ponta do cinto na
borboleta e outra na folha, que começou a deslizar mais depressa.
Um besouro se
encantou com ela, agarrou Polegarzinha pela cintura e voou para uma árvore. Outros
besouros vieram visitar, mas não gostaram:
— Ela só tem duas
pernas. Que esquisito! E não tem antenas. Parece gente. Como é feia!
O besouro acabou desistindo
dela e a deixou num canteiro de margaridas. Polegarzinha fez uma cama de galhos
trançados e a colocou debaixo de uma folha bem grande para não apanhar chuva.
Comia néctar das flores, bebia orvalho das folhas e os pássarinhos cantavam
para ela. Passaram o verão e o outono.
Quando o inverno
chegou, os passarinhos foram embora para terras quentes e as flores murcharam.
Polegarzinha começou a sentir frio. Um só floco de neve cobria seu corpinho pequenininho.
Ela foi pedir ajuda na casa dos ratos do campo. Dona Rata teve pena dela.
— Entre, menina.
Minha casa é quentinha. Venha comer. Você pode ficar durante o inverno, se me
ajudar a limpar tudo e me contar histórias.
A menina ficou
muito contente e fez o que foi pedido. Tinha um túnel entre a casa da Dona Rata
e a do vizinho, o Senhor Toupeira. Um dia acharam lá uma andorinha morta de
frio. Polegarzinha ficou com muita pena. De noite, não conseguiu dormir.
Levantou-se e fez um cobertor, que levou para cobrir o pássarinho morto.
— Adeus, andorinha!
E obrigada pelo seu canto do verão!
Mas quando encostou
a cabeça no peito do passarinho levou um susto: ouviu bater o coração. Ele não
estava morto só precisava ser aquecido. Na noite seguinte, Polegarzinha trouxe
água numa pétala e o passarinho abriu os olhos por um momento.
Polegarzinha tratou
dele durante todo o inverno, sem falar nada com o Senhor Toupeira e com Dona Rata.
Quando a primavera chegou e o sol esquentou o chão, Polegarzinha abriu um
buraco e a andorinha saiu voando.
— No verão você
pode fazer o seu enxoval — disse Dona Rata. —
O Senhor Toupeira vai ser um bom marido. Ele é rico e tem uma cozinha
muito boa.
Polegarzinha não
queria casar e morar debaixo da terra, mas não sabia como escapar. No dia do
casamento, quando o Senhor Toupeira veio buscar a noiva, Polegarzinha foi até a
frente da casa para despedir-se do sol, que nunca mais ia ver. Nesse momento,
escutou um canto e viu chegar a andorinha, que disse:
—Você quer vir
comigo? Vamos para onde o sol brilha e onde há sempre flores!
Polegarzinha sentou-se
nas costas do passarinho, amarrando-se muito bem com o cinto. Voaram por cima
de mares, florestas e montanhas. Chegaram na terra quente, cheia de sol, céu
azul e árvores perfumadas carregadas de frutas. Crianças corriam nas estradas
brincando com borboletas coloridas. Polgarzinha estava radiante.
No chão cresciam
flores lindas. No meio de uma flor, estava sentado um homenzinho transparente.
Tinha uma coroa de ouro, asas nos ombros e era do tamanho de Polegarzinha. Era
o Príncipe das Flores. Ele achou Polegarzinha a menininha mais bonita que ele
tinha visto. Tirou a coroa da cabeça e colocou nela. Perguntou o seu nome e
quis saber se ela queria casar com ele, tornando-se Princesa das Flores. Como
ele era diferente do filho feio da Dona Sapa, como era diferente do Senhor
Toupeira com sua capa preta! Ela disse que sim. De cada flor saiu um homenzinho
ou uma mulherzinha com presentes para ela. O melhor presente foi um par de
asas, que foram coladas nas suas costas. Agora a menina podia voar de uma flor
para outra com o Príncipe. Todos estavam muito contentes e a andorinha cantava
com alegria.
— Seu nome não vai
ser mais Polegarzinha — disse o Príncipe das Flores. —Você vai se chamar agora
Maia.
— Adeus! — disse o passarinho. E foi embora de
novo em direção à Dinamarca. Lá ele tinha um ninho na janela da casa de um
grande contador de histórias. Foi dele que eu ouvi esta.
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