Maio
A Canção de Yunus
Bordado por: Silvânia
Maria Carvalho de Araújo
Conto
turco de tradição oral
Desenho:
Murilo Pagani
Contato:
silvaniamar@gmail.com
A Canção de Yunus
Um dia, alguém lhe falou da sabedoria de um mestre que vivia em monastério no alto de uma montanha, perto do deserto. Animado pela possibilidade de aprender com o mestre para iluminar o seu caminho, Yunus dirigiu-se para o local muito longe e de difícil acesso. Foi bem recebido pelo Mestre que se chamava Taptuc.
O Mestre, que era cego, passou a sua mão pelo rosto e pelos ombros de Yunus e lhe disse: “Meu jovem, o que você tanto procura virá aos poucos. O aprendizado é longo e para iniciar vou lhe dar uma função: todos os dias, varrerá o pátio interno do monastério, não deixando um grão de poeira.” Yunus ficou muito entusiasmado e começou a varrer.
No dia seguinte, Yunus observou que o mestre saia e vinha de seus aposentos sem lhe dirigir nenhuma palavra. O tempo passou, anos, ninguém parecia ver Yunus, não falavam com ele. Yunus se sentia muito triste, sozinho e, ao fim da tarde, subia à parte mais alta do monastério e começava a cantar, canções simples como ele, que saiam de seu coração entristecido. Seu cantar, conforme soprava o vento, alcançava as montanhas e inda longe se espalhando pelo deserto.
Uma noite, muito triste, Yunus refletiu: o que fazia ali, onde ninguém falava com ele, onde o Mestre não o chamava para o pavilhão onde ministrava ensinamentos para os outros discípulos. Assim, compreendeu: o “Mestre quer me ensinar a virtude da paciência! Seu coração se encheu de alegria e voltou a varrer de forma entusiasmada. Contudo, nada mudou, e Yunus voltou a cantar de forma melancólica, espalhando sua voz pelas montanhas e deserto.
Depois refletiu que a mensagem do Mestre é ensinar-lhe a humildade. Voltou a ficar radiante. Mas, o tempo passou, nada das pessoas conversarem com ele. Aí, ele desistiu e resolveu partir. Saiu no meio da noite, amargurado. Achou que o melhor seria morrer. Caminhou dia e noite, até cair exausto de sede, fome e cansaço. Dois dias depois, acordou em um quarto e se espantou com o que viu. Um casal cuidava dele, com palavras de carinho. E viu que estava em uma vila muito limpa, onde água jorravam de fontes, pessoas alegres, crianças brincando felizes. Viu plantações e rebanhos. Perplexo, Yunus perguntou ao casal, como conseguiam viver com tamanha tranquilidade no meio do deserto?
O casal respondeu que essa era uma nova realidade para eles, pois antes viviam tensos, preocupados, de forma egoísta, total decadência. Mas, o vento começou a trazer uma voz doce, que cantava coisas simples, mas repletas de verdade, de sentimentos puros. A partir daí, as pessoas passaram a cantar as melodias. Tudo começou a se modificar. Todos se transformaram em amigos, trabalhando com satisfação, ajuda mútua. E a vila se transformou em um lugar alegre, rentável e amigo. Yunus ficou impressionado e quis ouvir as canções que também poderiam mudá-lo. Contudo, fico surpreso quando ouviu as crianças alegremente cantando uma de suas canções. Assim, viu que não era um inútil. Ele tinha transformado a vida daquelas pessoas.
Agradecido Yunus despediu-se, com o coração transbordando de alegria. Decidiu voltar ao monastério, inseguro, pois tinha saído sem se despedir. Quando chegou a mulher de Taptuc se mostrou surpresa e feliz. Ela lhe disse que o Mestre sentiu a sua ausência. Disse-lhe para ficar no mesmo lugar de sempre e esperar o Mestre passar. Se ele esbarrar em você e disser: - “quem é este homem”? Você saberá que deve ir embora para sempre.”
Yunus deitou-se, ansioso. Pela manhã ouviu a bengala do Mestre, que atingiu o seu corpo. O Mestre passou a mão pelo rosto de Yunus e, finalmente, exclamou, com doce sorriso:” oh! é Yunus! O meu discípulo mais amado voltou”.

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