segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Novembro – A Castanheira


Novembro – A Castanheira

Bordado por: Marie-Thérèse Pfyffer

Autor: Conto do Japão

Desenho: Demóstenes Vargas

Instagram: @duo_leones

Fotografia, arte e produção: Henry Yu

 

A Castanheira

Na época em que príncipes governavam o Japão, numa pequena aldeia costeira, a viúva Hana levava uma vida difícil com a sua filha Aiko. Os vizinhos tinham levado comida para elas após a morte do marido, mas todos eram tão pobres que não podiam ajudar muito.

Contra a vontade de sua mãe, Aiko, achou um emprego como doméstica na cidade vizinha, a uma hora de marcha. O trabalho era duro, as horas longas. Aiko se sentia cada dia mais exausta e, às vezes, seus olhos se fechavam de cansaço.

Toda noite, depois do trabalho, Aiko voltava para a aldeia para ficar com a mãe. No meio do caminho crescia uma imponente castanheira e Aiko costumava sentar-se debaixo de seus galhos para descansar. Ela acariciava e abraçava seu tronco, retirava galinhos presos na casca e lhe contava a sua vida. A presença da castanheira a confortava e seu amor por ela crescia com o passar das estações. No verão, ela levava buquezinhos de suas flores para Hana. No outono ela colhia as frutas espinhosas para saborear as deliciosas castanhas. Sempre que passava uns momentos com a árvore, Aiko se sentia melhor, como se a castanheira lhe transmitisse sua força, e o resto do caminho parecia mais curto.

Num fim de tarde, quando Aiko se sentou debaixo da árvore, ela sentiu uma grande tristeza no ar e se aconchegou mais na sua amiga. De repente, ela escutou uma voz estranha que parecia vir da árvore.

- Aiko, minha filha, chegou a hora de nos separar. O príncipe deu ordens para me cortar e fazer de mim um navio. Escute bem. Em alguns meses o navio será lançado ao mar perto de sua aldeia. Não me moverei até você chegar, abraçar-me como faz todo dia, e falar estas palavras: “Sou Aiko, sua amiga.”

Aiko voltou para casa confusa e abatida, sentindo que a árvore tinha compartilhado a sua tristeza com ela. No dia seguinte a árvore parecia a mesma. Aiko a abraçou e disse: - Tive um sonho ruim. Sonhei que o príncipe tinha dado ordens para cortar você. Eu não suportaria perder você.

Uns dias depois, na volta para casa, Aiko foi presa num temporal. Ela correu até a sua árvore para se abrigar debaixo de sua folhagem, mas descobriu com horror que a castanheira não estava mais ali. Chorando ela acariciou o toco e sentiu que tinha perdido uma amiga querida. Profundamente triste, ela apanhou umas folhas no chão como lembrança desta amizade e voltou para casa abatida. O caminho de volta nunca mais foi o mesmo e Aiko ficou sempre mais fraca e pálida.

Uma manhã ela acordou ouvindo uma comoção na aldeia. Aiko ficou observando, espantada. Um grande navio tinha chegado durante a noite e havia preparativos para lançá-lo ao mar. Toda a aldeia estava lá e todos se curvaram quando chegou o príncipe vestido de um quimono preto bordado com brasões. Estava na hora de navegar, mas o navio parecia enraizado na areia e não se movia. Os guardas lançaram um desafio para os pescadores e muitos tentaram a sua sorte, em vão.

- Deixem-me tentar, - disse Aiko, e se aproximou com o coração estourando de emoção. Todos olharam para ela. Os aldeãos a reconheceram e gritaram seu nome. Os guardas quiseram barrar o caminho, mas o príncipe, curioso, mandou deixá-la passar. Fez-se um silêncio total.

Aiko andou até o navio e acariciou o casco como costumava acariciar o tronco de sua amiga, abraçou-o e sussurrou: - Sou Aiko, a sua amiga.

Lentamente o navio deslizou em direção ao mar sob os aplausos da multidão. Perplexo, o príncipe mandou trazer esta mulher incomum até ele. E descobriu uma jovem que irradiava uma beleza tranquila. Perguntou qual era o segredo de sua força. Aiko respondeu que não tinha nenhum segredo e contou a história da castanheira. Não quis aceitar nenhuma recompensa. Com lágrimas escorrendo, disse que seu presente era este amor especial.

Encantado, maravilhado, o príncipe a pediu em casamento. A amizade da castanheira tinha trazido sorte para Aiko.

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