sábado, 20 de novembro de 2021

Novembro – A Estrada Encantada

 Novembro – A Estrada Encantada

Bordado por: Marie-Thérèse Pfyffer

Autor: Alma Chiesa

Desenho: Demóstenes Vargas

Contato: @duo_leones

Fotografia, arte e produção: Henry Yu

  

Mil anos atrás, um grande e maravilhoso castelo se erguia sobre as falésias de Tumivi. Ali passavam poucos veleiros, havia poucas estradas e nenhuma levava ao castelo. Só se ouvia o murmúrio do mar, o canto dos pássaros, e o rugido das feras na floresta imensa. O portão de ferro do castelo nunca se abria. Diziam que lá vivia o mago Paifú com seu tesouro imenso. Diziam também que mantinha seus inimigos prisioneiros.

 

Um dia a linda filha do poderoso rei Efredi sumiu do palácio real. Procuraram por ela em todo o reino, em vão. Desesperado, o rei foi pedir conselho ao sábio Dagrebi.

 Vejo a princesa atrás de altas muralhas, perto do mar e de uma floresta imensa – disse o velho sábio com sua voz fraca e trêmula. – Apenas o violino e o pincel poderão quebrar o encanto. Busque o violinista, busque o pintor...

– Como se chamam? Onde posso encontrá-los?

– Não sei... – o velho sábio fechou os olhos e pareceu adormecer.

 

Naturalmente, o rei não acreditou no conselho do sábio. Juntou um exército de dois mil guerreiros a cavalo e marchou sobre Tumivi. Atraídos pelo tesouro, outros guerreiros se juntaram a eles, assim como aldeões armados com facões e bastões, e uma flotilha de barcos de guerra foi pelo caminho do mar. Depois de um mês avistaram as muralhas da fortaleza. Circundaram as rochas e começaram a escalar. De repente, surgiu um enorme redemoinho, que arrancou os homens e os cavalos da terra, os marinheiros e seus barcos do mar, e os lançou, urrando de terror, para dentro das muralhas. Caiu o silêncio.

 

Slem o preguiçoso tinha chegado atrasado e tinha visto tudo de longe. Um homem alto e magro, vestido com uma longa capa verde, e segurando um violino saiu da floresta. Um segundo homem apareceu, mais novo, vestido de vermelho, com um pincel na cintura.

– Rápido! Precisamos salvá-los!

 

O violinista começou a tocar uma melodia estranha e bela. O pintor colocou uma tela branca num cavalete e, molhando seu pincel no verde da grama e no azul do mar, em todos os tons das flores reproduziu a paisagem à sua volta. O violino chamava os desaparecidos e vibrava como se mil instrumentos estivessem tocando. As árvores se balançavam ao ritmo da música, os animais se aproximaram. Com uma pincelada azul, o pintor apagou as muralhas da fortaleza. No mesmo instante uma nuvem escondeu o castelo e se transformou numa estrada azul. Por ela chegaram cavaleiros, soldados, aldeões, marinheiros, o rei e a princesa, caminhando como se estivessem sonhando.

 

De repente apareceu o mago Paifú, tão furioso que chamas e fumaças saíam de sua boca. O pintor molhou o pincel numa frutinha preta e fez uma mancha escura na estrada. Abriu-se um buraco no qual o mago sumiu e o silêncio voltou. O violinista guardou seu instrumento. O pintor apagou o quadro da tela. Chorando, Slem caiu de joelhos diante destes homens extraordinários:

– Meus senhores, agradeço por vocês terem salvado a mim, ao meu rei, à princesa e a todos os outros. O rei é poderoso e generoso. Venham comigo ao palácio para receber as honras e as riquezas que merecem.

– Não preciso das riquezas de seu rei, tenho meu violino.

– Tenho meu pincel, não desejo mais nada.

– Mas... não querem vir ao palácio?

– Não – disseram os artistas. – Nosso palácio é o mundo e temos ainda muito que fazer.

 

Espantado, Slem abriu a boca para dizer algo, mas os dois homens já haviam desaparecido. Escutou, bem longe, o som do violino e, ao olhar para o céu, pareceu-lhe que um pincel gigante estava pintando a primeira estrela.

 

Alma Chiesa

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