sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Urashima e a Tartaruga - Maio


Urashima e a Tartaruga
conto japonês






Muitos anos atrás, no Japão, vivia um jovem pescador a beira do mar, onde as grandes ondas verdes quebravam na praia como nuvens de água salgada. Esse moço, Urashima Taro, amava a água como se fosse sua irmã, e passava muitos dias em seu bote, desde o púrpura da madrugada até o lilás do anoitecer.
Um dia, passando pela praia, ele se aproximou, curioso, de crianças agrupadas ao redor de alguma coisa, descobriu que elas estavam maltratando uma tartaruga e, ao ver aquela maldade, gritou:
- Ei amigos, não façam isto com esta tartaruga! Ela é parte da natureza e é importante para todos, deixem-na seguir o seu caminho!
O grupo logo se dispersou e Urashima pôde levar a tartaruga ferida para sua casa e cuidar dela. Quando a tartaruga ficou boa, o jovem devolveu-lhe a liberdade nas águas do mar e, imediatamente, a tartaruga nadou para as profundezas e desapareceu nas ondas.
Tempos depois, quando Urashima Taro estava pescando em alto mar, uma tartaruga se aproximou de seu barco e falou:
- Obrigado por me salvar das crianças que me feriram e, como agradecimento, lhe faço um convite de vir comigo conhecer o mundo encantado do fundo do mar. Venha encontrar meu povo, que vive milhas e milhas abaixo das ondas verdes, no Palácio do Dragão do Mar. Venha amigo e levarei você até lá em minhas costas.
Urashima aceitou e lá se foram na direção das profundezas, a tartaruga levando Urashima sobre o seu caso. Antes do anoitecer eles já haviam chegado ao Palácio do Dragão do Mar, todo feito de conchas e corais, pérolas e esmeraldas. Lá o rugido das ondas da superfície se transformara em um murmúrio trêmulo que fazia o silêncio mais doce e a luz do sol chegava como um crepúsculo. Peixes com nadadeiras de prata estavam esperando por eles.
Uma bela moça veio recebê-los, a Princesa Otohime, filha do dono do Palácio que, ao agradecer Urashima por sua bondade com a tartaruga, disse:
- Você é bem vindo e poderá ficar aqui por quanto tempo desejar.
Houve uma grande festa e danças, e a Princesa cantou para homenagear o visitante enquanto eram servidas comidas raras e deliciosas que o oceano guarda para seus filhos.
Urashima viveu um sonho de felicidade com a Princesa do Palácio do Dragão do Mar. Os dias se transformaram em semanas, as semanas em meses e Urashima se sentia tão bem no Palácio do Dragão do Mar que se esqueceu até do tempo que estava lá. Até que um dia, depois de haver passado quatro anos, ele lembrou de sua terra, desejou rever seus pais e a sua família. Ele lembrava com saudade das ruas da vila e da faixa de areia lambida pelas ondas onde costumava brincar em sua infância. Urashima não precisou falar de seu desejo à princesa pois ela já sabia de tudo, e Otohime lhe disse com tristeza:
- Tenho medo de deixá-lo ir, mas vejo que tem muita saudade de casa e de sua família. Não vou prendê-lo mas sei que você vai querer retornar ao fundo do mar. Leve então este presente, esta caixinha mágica que não deixará que nada lhe aconteça. Quando olhar para ela, lembre-se de como foi feliz aqui, mas não abra esta caixa porque, se ele for aberta, você nunca mais poderá voltar aqui para o fundo do mar.
E a Princesa lhe entregou uma caixinha de madrepérola decorada com um lindo laço de pérolas e corais. Com a caixa em mãos, Urashima Taro retornou para a praia tão conhecida de sua vila, viajando nas costas de sua amiga a tartaruga.
Ele sabia que logo depois, na baía, ficava a casa de seu pai, junto a um grande pinheiro. Mas quando foi chegando perto, não viu a casa, nem o pinheiro. Olhou ao redor e as outras casas também lhe pareceram estranhas e ele viu pessoas desconhecidas que andavam pelas ruas. Ele ficou espantado com tamanha mudança em tão pouco tempo e, quando um homem velho veio caminhando pela praia, Urashima lhe perguntou:
- Por favor, o senhor poderia me dizer onde fica a casa de Urashima?
- Urashima? - disse o velho, - Urashima! Contam que ele se afogou quando pescava e seus pais e irmãos já viveram e morreram faz anos. Isto aconteceu quatrocentos anos atrás, contam que num dia de verão como este.
Haviam passado quatrocentos anos e não quatro como Urashima pensava! E tudo que conhecia havia desaparecido! Seu pai, sua mãe, seus irmãos e seus companheiros de brincadeiras, a casa, a vila, tudo o que ele tanto amava. Sentiu-se solitário, perdido. Percebeu que precisava correr de volta ao Palácio dos Dragões que era agora seu único lar. Mas como retornar? Ele andou pela praia sem conseguir se lembrar do caminho de volta.
Finalmente, triste e desiludido, perturbado e confuso, esquecendo a promessa que fizera à princesa, ajoelhou-se na areia, pegou a caixinha de madrepérola e abriu-a. Elevou-se uma nuvem de fumaça branca e, enquanto ela se dissipava no ar, Urashima pensou ver o rosto da Princesa do Dragão. Em vão a chamou, tentou alcançá-la... a nuvem já flutuava sobre as ondas distantes, na direção do horizonte.
De repente ele sentiu um imenso cansaço. Suas mãos pareciam tremer, seu corpo se encurvou, sua pele se enrugou, seu cabelo se tornou branco. Em poucos instantes, Urashima envelheceu, sentindo-se como que unido ao passado em que fora feliz.
Quando a lua pendurou seu crescente de luz na abóboda do céu, só restavam na areia da praia uma caixinha de madrepérola e as grandes ondas verdes que abriam seus braços de espuma branca.
E haviam passado quatro centos anos.

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