sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Sherazade e Shariar - Fevereiro


Sherazade e Shariar

conto das Mil e Uma Noites





É a história magnífica do rei Shariar da Pérsia desencantado com as mulheres e da sabedoria e perspicácia de Sherazade, filha do Vizir, que encantou ao rei e depois o mundo com suas histórias entrelaçadas, que salvou não só sua própria vida como a daquele rei entristecido que a cada manhã mandava matar a esposa.
Em sua primeira noite Sherazade faz um único pedido ao Rei – a presença de sua irmã Dinazade nas dependências nupciais. Havia combinado com ela que após a consumação do casamento ela pedisse histórias, como uma despedida. E assim ela contou a sua primeira história.
O mercador e o gênio -  Era uma vez... um mercador, dono de muitas riquezas. Certo dia saiu de sua casa a cavalo e partiu em viagem de negócios. O calor era muito forte. Resolveu apear e sentou-se sob uma árvore. Abriu seu alforje e tirou de lá suculentas tâmaras. Comeu algumas e atirou longe seus caroços. De repente, surgiu diante dele um ifrit de grande altura (ifrits são gênios conhecidos por seu péssimo humor), que gritou sacudindo uma espada:
- Levanta para que eu o mate, como matou meu filho!
O comerciante, espantadíssimo, respondeu:
- Como pude matar seu filho?
- Depois que comeu as tâmaras você atirou os caroços para o alto e foram eles que feriram meu filho no peito. Ele foi atingido e morreu na mesma hora
O mercador empalideceu e compreendeu sua situação e disse ao gênio:
- Sei que errei! Tenho obrigações a cumprir em meu país. Por Alá!  Prometo que voltarei. E você fará o que achar correto. Alá é a garantia de minha palavra.   
E o gênio confiou nele e o deixou partir.
O mercador chegou em seu país e tomou todas as providências. Despediu-se da família e voltou. No local marcado viu somente um velho xeique que conduzia uma gazela presa por uma corda.
Saudou o mercador, desejou-lhe prosperidade e perguntou:
- Qual é a causa de sua parada neste lugar freqüentado pelos gênios?”
O mercador contou-lhe o que havia acontecido. O dono da gazela ficou muito espantado e disse:
- Por Alá! Como sua fé é grande. Não deixarei este lugar. Quero ver o que irá acontecer a você.
De repente, surgiu um segundo xeique conduzindo dois cães negros. E logo em seguida surgiu um terceiro. Conduzia uma mula. Também pediram explicação. Um turbilhão de poeira se levantou e no meio dela surgiu o gênio. Trazia uma gigantesca espada, extremamente afiada. Suas pupilas soltavam faíscas. E falou com voz de trovão: - Chegou a hora de sua morte!!!!
O mercador e os três xeiques começaram a se lamentar. Nisto o primeiro xeique, dono da gazela, levantou-se e foi beijar a mão do gênio dizendo:
- Ó gênio, ó chefe dos reis dos gênios e coroa de todos eles, se eu contar minha história e a desta gazela e você gostar, em recompensa me dará um terço do sangue deste mercador?
O gênio concordou e o primeiro xeique começou a contar a sua história.
- Esta gazela, filha de um tio ficou casada comigo durante trinta anos. Mas Alá não me deu filhos. Tomei uma concubina e eu vi nascer  o mais lindo de todos os seres. Quando ele estava para completar quinze anos precisei viajar por causa de um grande negócio. Eles ficaram sob a proteção de minha esposa. Mas esta gazela foi iniciada, nas artes da feitiçaria e dos encantamentos. Transformou meu filho em bezerro e a mãe dele, em uma vaca colocando-os sob a guarda de nosso pastor. Quando voltei da viagem ela disse que a escrava havia morreu e meu filho fugira.
E durante a festa do Dia dos Sacrifícios, pedi ao pastor que me reservasse uma vaca bem gorda. Ele trouxe a encantada. Notei que o animal chorava e se lamentava. O pastou sacrificou-a e viu que ela tinha só pele e ossos. Resolvi abater um bezerro gordo. O pastor trouxe o que estava encantado. Quando me viu, o bezerro correu para mim gemeu e chorou. Tive dó do animal. Pedi que o pastor trouxesse outro. 
E foi neste instante que Sherazade ouviu o galo cantar pela primeira vez. Amanhecia no Reino da Pérsia. Calou-se. E sua irmã, Doniazade, disse:
- Minha irmã, como tuas palavras são doces, gentis e saborosas. E o pastor trouxe a outra vaca? 
E Sherazade respondeu:
- Querida irmã, eu terminarei esta primeira história como também a dos outros dois xeiques, na próxima noite, se o Rei houver por bem me preservar!
O Rei pensava:  “Não darei ordem ao carrasco enquanto não ouvir o resto desta instigante história”.
O Rei Shariar preparou-se para um dia de exaustivo trabalho junto a seus ministros. Saiu dos aposentos reais e nada falou. Não deu a terrível ordem de todas as manhãs. 
E assim Sherazade foi salva naquela primeira noite.

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