segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Aladim


— Aladim! Aladim! Venha para casa! — gritava o pai o dia inteiro, chamando o menino que não saía da rua.
Mas Aladim só pensava em brincar com os outros garotos e pouca atenção prestava ao pai, que era velho e doente.
O pai morreu, mas a vida de Aladim continuou a mesma. Passava o tempo todo nas ruas brincando com os amigos. Foi assim até o dia em que um homem estranho se dirigiu a ele, dizendo:
— Você é Aladim, o filho do alfaiate?
— Sim, sou eu, mas meu pai morreu — espantou-se o garoto. E surpreendido ficou quando o estranho começou a lamentar-se:
— Pobre do meu irmão! Eu que vim da África para revê-lo. Meu sobrinho querido, abrace o irmão do seu pobre pai.
O desconhecido continuou contando a Aladim que se ocuparia dele e lhe daria muitas riquezas. O rapaz estava quase para responder que preferia continuar brincando com os amigos, quando o desconhecido se despediu, dizendo que iria falar com a mãe de Aladim no dia seguinte.
De fato, o desconhecido apareceu na casa da mãe de Aladim, deu-lhe algumas moedas de ouro e explicou quem era, acrescentando:
— Sou muito rico e não tenho filhos, quero educar Aladim para ser meu herdeiro. Preciso apenas de seu consentimento para levá-lo comigo.
— Que estranho! Meu marido nunca falou em nenhum irmão…
— Isso deve ser porque sempre vivemos um longe do outro — disse o homem. — Gostaria de voltar para minha terra levando meu sobrinho comigo.
Aladim não estava com vontade de viajar com o tio, pois preferia brincar na rua com os amigos. A mãe, porém, considerava o oferecimento do cunhado como uma grande oportunidade, por isso aconselhou o filho a ir e melhorar de vida. Aladim partiu com o tio.
Viajaram sem parar até chegarem a uma grande floresta junto a uma montanha. Aladim sentia-se muito cansado, mas, quando quis repousar, o tio ordenou-lhe:
— Vá apanhar lenha para acender o fogo e eu mostrarei a você coisas maravilhosas.
— Que coisas? — indagou o rapaz, que não estava com muita vontade de ir buscar a lenha.
— Chega de perguntas! Vá depressa buscar a lenha. Fique sabendo que não sou seu tio, sou um poderoso mago africano. Se você não obedecer, transformo-o num pedaço de madeira para fazer fogo.
Ao ouvir aquelas palavras, Aladim, que já estava desconfiado de que o homem não era mesmo seu tio, assustou-se e saiu correndo em busca da lenha.
Voltou em seguida e acendeu um grande fogo. Assim que as chamas subiram, o mago aproximou-se o mais possível do fogo e pronunciou em voz alta palavras misteriosas.
Conforme o mago falou, no lugar do fogo apareceu uma grande pedra com uma argola de ferro. Mesmo assustado, Aladim não pôde deixar de perguntar:
— Como fez isso, mago?
— Segredo profissional, meu filho. Esta pedra esconde a entrada de um subterrâneo cheio de riquezas. Se você descer lá, pode apanhar o que quiser. Para mim, traga uma velha lâmpada que encontrará no chão.
O rapaz puxou a pedra pela argola e ela se moveu facilmente. Embaixo havia um buraco e uma escada.
Mas Aladim se mostrava muito assustado e sem vontade de descer. O mago lhe deu um anel mágico, dizendo que era para protegê-lo, e acrescentou:
— Não tenha medo, Aladim; li nos livros mágicos que você é o único ser humano que pode descer nessa caverna.
Aladim começou a descer pela escadaria, que parecia interminável. Conforme andava, sentia frio. Do fundo da gruta vinha uma estranha luz pela qual Aladim se guiava. Continuou a descer. A primeira coisa que encontrou, no fundo, foi a lâmpada que o mago lhe pedira. Admirado exclamou:
— Que lâmpada velha e suja! Para que ele faz questão de uma coisa dessas?
Aladim resolveu colher alguns frutos que pendiam das árvores e que lhe pareceram de vidro colorido. Nunca tinha visto pedras preciosas, por isso não podia reconhecê-las. As frutas eram na verdade rubis, safiras e brilhantes pois, sem o saber, ele estava num jardim encantado.
Com os bolsos cheios de jóias, tomou o caminho de volta para indagar ao mago onde estavam escondidos os tesouros que lhe prometera em troca da lâmpada.
A escada era tão longa que, quando chegou lá em cima, Aladim apenas pensava em ir embora e pediu ao mago:
— Ajude-me a sair deste buraco!
— Dê-me a minha lâmpada, depois eu o ajudo.
— Ajude-me primeiro, depois eu lhe dou a lâmpada.
Mas o mago continuou insistindo:
— Primeiro me dê a lâmpada.
— Não!
— Sim!
— Não!
— Pela última vez eu o aviso: me dê essa lâmpada!
— Tire-me daqui primeiro!
O mago, furioso, recolocou a pedra na entrada, dizendo:
— Pois fique aí para sempre.
O pobre Aladim desesperou-se, achando que nunca mais iria poder sair dali. Chorava muito triste, esfregando os olhos com as mãos. De repente surgiu diante dele um ser estranho, que disse:
— Ordene, meu senhor !
Aladim, estonteado com aquilo, indagou:
— Quem é você?
— Sou o gênio do anel. Você o esfregou ao esfregar os olhos e esse é o sinal para que eu me ponha às ordens do dono do anel encantado. Ordene, meu senhor!
— Quero voltar para casa — pediu Aladim.
— Assim será feito, meu senhor!
Ditas estas palavras, como num sonho, Aladim encontrou-se em sua casa.
Aladim contou tudo à mãe e mostrou-lhe as estranhas pedras que colhera das árvores do jardim encantado, explicando:
— Não havia tesouro nenhum, só estes vidros coloridos e esta lâmpada velha.
— Vou limpar a lâmpada para vendê-la — disse a mãe. — Assim compraremos alguma coisa para comer.
Pensando nas dificuldades por que passara com o mago, e no medo de ficar preso para sempre na caverna, Aladim comentou:
— Pena papai não estar mais conosco, para ver como vou me
tornar um bom filho.
A mãe o abraçou e o beijou, dizendo:
— Você é um bom menino. Quando eu tiver terminado de polir a lâmpada, você vai vendê-la no mercado.
Mal a mãe tocou na lâmpada, surgiu diante deles um ser enorme, duas vezes maior do que o gênio do anel, e disse
— Sou o gênio da lâmpada, nada me é impossível, ordene!
Aladim saltou de alegria. Batendo palmas, exclamou:
— Que maravilhai Gênio, arranje o almoço para nós.
— Será cumprida sua ordem, meu senhor! Vou servir-lhe as comidas mais raras.
Passaram-se os anos. Aladim não ficava mais só brincando com seus amigos, mas freqüentava o mercado onde se instruía conversando com os mercadores. Assim descobriu que o que ele achava ser bolas de vidro eram na verdade pedras preciosas de grande valor. Tornou-se homem e o gênio continuou obedecendo-o.
Nesse tempo em toda o reino se falava da beleza de Budur, a filha do imperador. De fato ninguém a vira, pois, quando ela passava pelas ruas, vinham à frente guardas, que ordenavam:
— Fechem todas as portas e janelas, que a Princesa Budur vai passar!
Mas um dia Aladim resolveu espiar e descobrir se a princesa era assim tão linda como diziam. Assim que a viu se apaixonou por ela e disse à mãe:
— Ponha as pedras preciosas do jardim encantado em uma cesta, leve-as ao imperador e peça-lhe a filha em casamento para mim.
— Mas, meu filho, o imperador não vai aceitar — ponderou a mãe.
— Aceita, sim! Mas espere, falta um guardanapo de linho para cobrir a cesta… Gênio da lâmpada, preciso de você.
— Ordene, meu senhor! Quer que eu derrube uma montanha? Construa uma cidade? Que esvazie o mar?
— Quero apenas um guardanapo de linho para cobrir esta cesta — disse Aladim.
— Será cumprida sua ordem, meu senhor!
A mãe de Aladim tentou convencê-lo a desistir da idéia de casar com a princesa, mas ele continuou insistindo.
A mãe cedeu e foi para o palácio com a cestinha debaixo do braço. Lá ficou esperando horas e horas.
Por fim um ministro, pensando que se tratava de uma pobre mulher que precisava de algum auxílio do imperador, mandou-a entrar. Ela o seguiu muito humilde, sempre carregando a cesta coberta com o guardanapo de linho.
Curvou-se diante do imperador e disse:
— Majestade, meu filho Aladim manda-lhe este presente...
— De que se trata? — indagou o imperador, erguendo o guardanapo.
Mas, ao ver o que a cesta continha ficou deslumbrado e ofereceu:
— Em retribuição a este presente darei a Aladim o que ele me pedir.
— Ele pede sua filha em casamento.
— Está concedido — disse o imperador.
No dia do casamento houve festa em toda a China. Antes da cerimônia, Aladim esfregou a lâmpada e o gênio apareceu:
— Que você quer desta vez? Uma pitada de sal? Um fio de linha?
— Quero que você me construa, em frente ao do imperador, um palácio digno da princesa Budur. Use apenas os materiais mais preciosos. Faça um belo jardim com muitas fontes de água e encha os porões com moedas de ouro.
— Será cumprida sua ordem, meu senhor! — respondeu o gênio.
E o palácio de Aladim surgiu imediatamente, reluzente de ouro e pedras preciosas. Cada manhã, quando o imperador olhava para o palácio de Aladim em frente ao seu, pensava no rico casamento que a filha fizera e sentia-se muito contente.
A bela Budur e Aladim viviam felizes no palácio de ouro. Em todo o reino falava-se de Aladim como um jovem sábio e generoso. Ele, por sua vez, sentia-se seguro tendo às suas ordens o gênio da lâmpada e o gênio do anel.
A felicidade dos dois jovens era completa, mas durou pouco. Aladim precisou viajar devido a uma guerra e Budur ficou só, no palácio.
Um dia a princesa foi atraída até a janela por um estranho pregão que vinha da rua:
— Quem quer trocar lâmpada velha por lâmpada nova? Dou uma lâmpada nova de presente em troca de sua lâmpada velha!
Quem gritava assim era o mago, inimigo de Aladim, que se aproveitava da ausência do jovem para tentar recuperar a lâmpada mágica. Com uma cesta cheia de lâmpadas novas embaixo do braço, pusera-se a gritar diante das janelas do palácio de Aladim.
Budur comentou com uma de suas servas a estranha maneira de aquele homem fazer negócios, e a moça aconselhou:
— Por que a senhora não troca a lâmpada velha que está no quarto de seu marido por uma nova?
— Você tem razão, vá buscar depressa aquela lâmpada para trocar.
Budur chamou o mago, que ela pensava que fosse um mercador, ofereceu a lâmpada velha, imaginando que ele ia recusar. O mago reconheceu logo a lâmpada mágica, deu outra em troca e afastou- se rapidamente. Muito feliz, tratou logo de esfregar a lâmpada e o gênio apareceu:
— Pronto, Aladim! Mas você não é Aladim!
O mago riu, maldoso, e respondeu:
— Claro que não sou Aladim! Sou seu novo senhor, o mago africano. Carregue para a África o palácio de Aladim com todos os seus habitantes. Rápido, vamos!
— Será cumprida sua ordem, meu senhor! A morada de Aladim será levada para a África neste mesmo momento.
Quando o pobre Aladim voltou da guerra, não encontrou mais seu palácio, nem sua esposa. Tudo tinha sido levado para a África. Por sua vez, o imperador estava furioso:
— Se minha filha não estiver de volta dentro de quarenta dias, mandarei cortar sua cabeça!
Aladim, tristíssimo, retirou-se para um lugar isolado e esfregou o anel. Imediatamente apareceu o gênio, a quem Aladim ordenou:
— Traga de volta minha esposa e meu palácio!
— Não tenho poderes sobre os encantamentos do gênio da lâmpada — explicou o gênio do anel ao desconsolado Aladim. — Posso apenas, se meu senhor quiser, conduzi-lo até o seu palácio na África.
Em seguida Aladim se encontrou na janela do seu palácio e chamou a esposa, que se alegrou muito em vê-lo. Aladim, sem perder tempo, explicou:
— Vim libertá-la! Isto é um narcótico violento, derrame-o no vinho do mago para que ele durma. O resto fica por minha conta.
— Farei o que você diz, mas fuja daqui. O mago ameaça mandar cortar sua cabeça.
Naquela noite o mago bebeu o narcótico e dormiu profundamente. Aladim, que ficara escondido, apoderou-se da lâmpada e a esfregou. O gênio apareceu, dizendo:
— Ordene, mago! Mas veja só! É o meu senhor Aladim!
— Eu mesmo! Depressa, carregue o mago o mais rápida possível para a ilha mais deserta que você encontrar! E a nós e ao castelo, leve de volta!
— Será cumprida sua ordem, meu senhor!
O imperador e a mãe de Aladim nem puderam acreditar quando viram os filhos de volta, tal a felicidade que sentiram.
o mago nunca mais saiu da ilha deserta. E, daí em diante Aladim e Budur foram outra vez muito felizes.
Autor: Conto das 1001 Noites


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