quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O Patinho Feio



O Patinho Feio


A mamãe pata tinha escolhido para fazer seu ninho um cantinho bem protegido, no meio da folhagem, perto do rio. Por fim, os ovos se abriram um após o outro, e surgiram os patinhas amarelos. Porém um dos ovos ainda não se abrira. Impaciente, ela deu umas bicadas e ele começou a se romper, mas dele saiu uma ave cinzenta e desajeitada. A mamãe pata levou sua numerosa família para conhecer os outros animais que viviam perto. Todos parabenizaram a pata: a sua ninhada era realmente bonita. Exceto um.
Nos dias que se seguiram, todos os bichos, o perseguiram. O pobre patinho crescia só, malcuidado e desprezado. Sofria. Um dia, desesperado, ele fugiu.
Caminhou, caminhou e chegou perto de um grande brejo, onde viviam alguns marrecos, que o receberam com indiferença. Numa certa madrugada, ouviu um tumulto e disparos: tinham chegado os caçadores! Muitos marrecos perderam a vida. O patinho feio conseguiu se salvar, escondendo-se no meio da mata.
Novamente caminhou, caminhou. Ao entardecer chegou a uma cabana.  Conseguiu entrar sem ser notado, encolheu-se num cantinho e logo dormiu. Na cabana morava uma velha, em companhia de um gato, especialista em caçar ratos, e de uma galinha, que todos os dias botava o seu ovo. Na manhã seguinte, quando a dona da cabana viu o patinho, pensou que era uma pata que logo botaria ovos. Mas o tempo passava, e nenhum ovo aparecia. A velha começou a perder a paciência.
Mais uma vez, o patinho feio caminhou, caminhou e achou um lugar tranquilo perto de uma lagoa. Durante o verão, passou boa parte do tempo dentro da água onde encontrava alimento suficiente. Mas chegou o outono. O céu se cobriu de nuvens e o vento esfriou cada vez mais. Sozinho e triste, o patinho viu, num final de tarde, surgir um bando de lindíssimas aves. Tinham as plumas alvas, as asas grandes e um longo pescoço, delicado e sinuoso: eram cisnes, migrando na direção de regiões quentes. Bateram as asas e levantaram voo, bem alto. O patinho ficou encantado, olhando a revoada até que ela desaparecesse no horizonte. Sentiu uma grande tristeza, como se tivesse perdido amigos muito queridos.
Naquele ano, o inverno foi muito rigoroso. O patinho feio precisava nadar ininterruptamente, para que a água não congelasse em volta de seu corpo. Mas um dia, exausto, permaneceu imóvel e ficou com as patas presas no gelo. Fechou os olhos, e o último pensamento que teve antes de cair num sono parecido com a morte foi para as grandes aves brancas.
Na manhã seguinte, bem cedo, um camponês viu o pobre patinho, quebrou o gelo e levou-o para sua casa. Lá o patinho foi alimentado e aquecido, recuperando um pouco de suas forças. Logo que os filhos do camponês começaram a brincar com ele, o patinho se assustou e tentou fugir. Caiu de cabeça num balde cheio de leite, derrubou tudo, se enfiou no balde da manteiga, engordurando-se até os olhos e, finalmente, se enfiou num saco de farinha, levantando uma poeira sem fim. O pobrezinho conseguiu encontrar a porta e escapar da curiosidade das crianças e da fúria da mulher.
Nos meses seguintes, o patinho viveu num lago, abrigando-se do gelo na relva seca. Finalmente, a primavera chegou. Lá no alto, voavam muitas aves. O patinho sentiu um inexplicável e incontrolável desejo de voar. Abriu as asas, que tinham ficado grandes e robustas, e pairou no ar. Voou longamente, até que avistou um imenso jardim repleto de flores e de árvores; do meio das árvores saíram três aves brancas. O patinho reconheceu as lindas aves que já vira antes, e se sentiu invadir por um grande amor por elas.
— Quero me aproximar dessas esplêndidas criaturas — murmurou. — Talvez me humilhem e me matem a bicadas, mas não importa. É melhor morrer perto delas do que continuar vivendo atormentado por todos.
Com um leve toque das asas, abaixou-se até o pequeno lago e pousou na água.
— Podem matar-me, se quiserem — disse, resignado. E abaixou a cabeça, aguardando a morte. Ao fazer isso, viu a própria imagem refletida na água, e seu coração deu um pulo. Enxergava penas brancas, grandes asas e um pescoço longo e sinuoso. Ele era um cisne!
— Bem-vindo entre nós! — disseram-lhe os três cisnes, curvando os pescoços, em sinal de saudação.
Aquele que tinha sido um patinho feio se sentia agora tão feliz que se perguntava se não era um sonho! Nadava em companhia dos outros, com o coração cheio de felicidade. Mais tarde, chegaram três meninos, para dar comida aos cisnes. O menorzinho disse, surpreso:
— Tem um cisne novo! E é o mais belo de todos! E correu para chamar os pais.
— É mesmo uma esplêndida criatura! — disseram os pais. E jogaram pedacinhos de biscoito e de bolo. Tímido diante de tantos elogios, o cisne escondeu a cabeça embaixo da asa. Talvez um outro, em seu lugar, tivesse ficado envaidecido. Mas não ele. Seu coração era muito bom, e ele sofrera muito, antes de alcançar a sonhada felicidade.


  


Bordadeira: Marie-Thérèse Pfyffer
Conto: O Patinho Feio
Autores: Hans Christian Andersen
Desenho: Marie-Thérèse Pfyffer
Contato: mtpfyffer@gmail.com

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