Abril
Bordado
por: Isabelle
Marie Reinech Souza
Conto: As Penas Multicores dos
Pássaros
Autor: Lenda Indígena dos Wichis
Desenho: Murilo Pagani
Contato: isabelle.rsch@hotmail.com
Fotografia, arte e produção: Henry Yu
As penas
multicores dos pássaros
Quando o sol começou
a aquecer e clarear os rios e as rochas, as flores e as árvores, os animais e
as pessoas, ele os revestiu das mais variadas cores. A relva cintilava sob o
orvalho como uma esmeralda, as nuvens eram macias e brancas como a lã de uma vicunha
nova, a onça se gabava da beleza de sua pelagem malhada.
E, contudo, quando
distribuía as suas cores, o Sol havia se esquecido de alguém: os pássaros. Eles
continuavam pardacentos e manchados como se alguém os tivesse rolado na lama. A família dos pássaros não parava de
protestar contra essa injustiça, mas o Sol - Inti não ouvia seus gritos do alto
do céu.
Os pássaros
decidiram então que tinham de ir ver Inti no seu Império dos Céus, para pedir a
ele que lhes desse as cores. Na mesma hora, todos se prepararam para partir,
toda a tropa se pôs em movimento. Na frente os mais fortes, o condor e a
águia.
Apenas três ficaram
no ninho: o Hornero, ou joão-de-barro, porque não podia deixar o seu ninho
construído pela metade; a cotovia porque sua cor castanha não a incomodava, e o
menor dos beija-flores. Como ele podia se arriscar a fazer uma viagem tão longa
com suas asas tão pequeninas e frágeis?
O Sol os viu e se
perguntou por que estavam vindo em sua direção. Ele pensou que tinha que fazer
algo rapidamente, senão as penas dos infelizes iam se queimar e seriam
reduzidas a cinzas.
Começou a reunir num
único bando tudo o que vagava pelos Céus, as nuvens, as brumas e as
nebulosidades, os grandes amontoados algodoados, as pequeninas cerrações, os
vapores e algumas boas nuvens pesadas de chuva. E quando todos já estavam
reunidos, ele deu uma piscadela ao vento, para que este começasse a
soprar.
“Fiuuuuu, fiuuuu”,
soprou o vento, e ventou em toda a tropa. As nuvens grandes e pequenas, as
brumas e as nebulosidades, os grandes algodoados e as pequeninas cerrações
bateram uns nos outros e começou a chover.
O Sol não esperou
mais. Brilhou com toda a força através da chuva, e sobre ela, exatamente acima
das aves formou-se um arco-íris, cujas cores brilhantes ofuscavam: vermelho,
amarelo, branco, azul, verde, rosa e violeta.
A águia deu um grito
de alegria:
- Vejam, Inti
satisfez nosso desejo! E correu para o arco-íris.
Que alegria! Todas
as aves se atiraram na cor que mais lhes agradava. O cardeal se envolveu
inteiramente no vermelho, o íbis no branco, o tucano tingiu de amarelo e
vermelho o seu longo bico. E os papagaios? Estes, por brincadeira, rolaram nas
cores mais vivas.
Quando parou de
chover nenhuma ave se cansava de contemplar sua beleza. Todas agradeceram ao
Sol e cantaram para ele. Inti estava todo sorridente, brilhou para eles ao
longo de todo o caminho de volta, pois sabia, que doravante, toda manhã,
chegariam até eles os cantos reconhecidos dos pássaros.
Mas não devemos nos
esquecer do beija-flor que não pode ir e que, porém, de todos os pássaros é o
que possui as mais belas cores. Como isto aconteceu? Algumas gotas do arco-íris
caíram no cálice das flores cujo néctar o beija-flor aspira. Quando ele foi
vê-las, e fez com que se inclinassem, elas derramaram na sua plumagem todas as
cores do arco-íris e todas as cores das flores.
Isabelle Marie Reinech Souza
As Penas Multicoloridas dos Pássaros
Lenda indígena dos Wichis
Nenhum comentário:
Postar um comentário