Bordado por: Malu Furtado Rocha
Conto: A Sereiazinha
Autor: Conto de Hans Christian Andersen
Desenho: Samira El Bizri Portes
Contato: malu.furtado@globo.com // 55(31)99335 1595
Fotografia, arte e produção: Henry Yu
Desenhos baseados nas ilustrações de
Veruschka Guerra, de livros de contos da Editora Paulus.
Muito longe da terra, onde o mar é
muito azul, vivia o povo do mar. O rei desse povo, conhecido por Rei Tristão,
tinha seis filhas, todas muito bonitas, e donas das vozes mais belas de todo o
mar, porém a mais moça se destacava, com sua pele fina e delicada como uma
pétala de rosa e os olhos deslumbrantes. Todas eram sereias, não tinham pés,
mas sim uma cauda de peixe. Essa princesinha, desde criança, era a mais
interessada nas histórias sobre o mundo de cima, e desejava poder ir à
superfície; queria saber tudo sobre os navios, as cidades, as pessoas e os
animais.
Os anos se passaram...
No seu aniversário de quinze anos,
Ariel, A sereiazinha, recebeu um presente muito especial: podia subir à
superfície do mar.
Viu o céu, o sol, as nuvens... Viu
também um navio e ficou muito curiosa. Foi nadando até se aproximar da grande
embarcação. Avistou, através dos vidros das vigias, passageiros ricamente
trajados. O mais belo de todos era um jovem príncipe e a pequena sereia se
apaixonou por ele. Ficou horas admirando seu príncipe, e só despertou de seu
devaneio quando o navio foi pego de surpresa por uma tempestade e começou a
tombar. A menina viu o príncipe cair no mar e afundar, e se lembrou de que os
homens não conseguem viver dentro da água. Mergulhou na sua direção e o pegou
já desmaiado, levando-o para uma praia.
Ao amanhecer, o príncipe continuava
desacordado. A pequena sereia, vendo que um grupo de moças se aproximava,
escondeu-se atrás das pedras, ocultando o rosto entre os flocos de espuma. As
moças viram o náufrago deitado na areia e foram buscar ajuda. Quando finalmente
acordou, o príncipe não sabia como havia chegado àquela praia, e tampouco fazia
ideia de quem o havia salvado do naufrágio. Olhou para as pessoas à sua volta.
Uma delas era uma moça tão linda que o príncipe se apaixonou por ela.
A princesa sereia voltou para o
castelo muito triste e calada, e não respondia às perguntas de suas irmãs sobre
sua primeira visita à superfície. Voltou várias vezes à praia onde tinha
deixado o príncipe, mas ele nunca aparecia por lá, o que a deixava ainda mais
triste. Esperava encontrá-lo, pois estava verdadeiramente apaixonada por ele.
Mas todos lhe diziam ser impossível, um amor entre os dois, ele era humano e
ela uma sereia...
A sereiazinha suspirou, olhando
tristemente para a sua cauda de peixe e desejando ter um par de pernas em seu
lugar. Não esquecia a ideia de se tornar humana e se encontrar com o seu
amado...
Resolveu então procurar a bruxa do
mar, famosa por transformar sonhos de jovens sereias em realidade... desde que
elas pagassem um preço por isso.
A bruxa já a esperava, e foi logo
dizendo:
— Já sei o que você quer. É uma
loucura querer ter pernas, isso trará muita infelicidade a você! Mesmo assim
vou preparar uma poção, mas essa transformação será dolorosa. Cada passo que
você der será como se estivesse pisando em facas afiadas, e a dor a fará pensar
que seus pés foram dilacerados. Você está disposta a suportar tamanho
sofrimento?
— Sim, estou pronta! — disse a pequena
sereia, pensando no príncipe e na sua alma imortal.
— Pense bem, menina. Depois de tomar a poção você nunca mais poderá voltar à
forma de sereia... e se não conseguires casar com o príncipe, morrerás, na manhã seguinte.
A sereiazinha assentiu com a cabeça e,
sem dizer uma palavra, ficou observando a bruxa fazer a poção.
— Pronto, aqui está ela..., mas antes
de entregá-la a você, aviso que meu preço por este trabalho é alto: quero a sua
linda voz como pagamento. Você nunca mais poderá falar ou cantar...
A princesa sereia quase desistiu, mas
pensou no seu príncipe e pegou a poção que a bruxa lhe estendia e sem olhar
para o palácio onde nasceu e cresceu, soltou um beijo na sua direção e nadou
para a praia.
Assim que bebeu a poção, sentiu como
se uma espada lhe atravessasse o corpo e desmaiou. Acordou com o príncipe
observando-a. Ele a tomou docemente pela mão e a conduziu ao seu palácio. Como
a bruxa havia dito, a cada passo que a menina dava sentia como se estivesse
pisando sobre lâminas afiadíssimas, mas suportava tudo com alegria pois
finalmente estava ao lado de seu amado príncipe.
Ele estava encantado com a beleza da
moça, mas não pensava em se casar com ela, pois ainda tinha esperança de
encontrar a linda moça que ele vira na praia, após o naufrágio, e por quem se
apaixonara sem saber quem era.
Todas as noites a princesinha ia
refrescar os pés na água do mar. Nessas horas, suas irmãs se aproximavam da
praia para matar a saudade da caçulinha. Sua avó e seu pai, o rei dos mares,
também apareciam para vê-la, mesmo que de longe.
A família do príncipe queria que ele
se casasse com a filha do rei vizinho, e organizou uma viagem para
apresentá-los. O príncipe, a sereiazinha e um numeroso séquito seguiram em
viagem para o reino vizinho.
Quando o príncipe viu a princesa, não
se conteve:
— Foi você que eu vi na praia! Foi
você que me salvou! Finalmente encontrei você, minha amada! Para tristeza da
sereiazinha, a princesa também se apaixonara pelo príncipe e os dois marcaram o
casamento para o dia seguinte.
Todo o sacrifício da pequena sereia
havia sido em vão. Depois do casamento, os noivos e a comitiva voltaram de
navio para o palácio do príncipe, e a sereiazinha ficou observando o amanhecer,
esperando o primeiro raio de sol que deveria matá-la.
Viu então suas irmãs, pálidas e sem a
longa cabeleira, nadando ao lado do navio. Em suas mãos brilhava um objeto.
— Nós entregamos nossos cabelos para a
bruxa do mar em troca deste punhal. Você deve enterrá-lo no coração do
príncipe. Só assim poderá voltar a ser uma sereia novamente e escapará da
morte. Corra, você deve matá-lo antes do nascer do sol.
A sereiazinha pegou o punhal e foi até
o quarto do príncipe. Mas, ao vê-lo dormir, não teve coragem de matá-lo.
Caminhou lentamente até a murada do navio, mergulhou no mar azul e, ao
confundir-se com as ondas, sentiu que seu corpo ia se diluindo em espuma.
Ainda que tudo parecesse perdido, a sereia não
morreu. Ela tornou-se uma deusa dos mares, protegendo os casais apaixonados!
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