segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Como a Via Láctea surgiu no céu - NOVEMBRO

 

Como a Via Láctea surgiu no céu


Bordado por: Marie-Thérèse Pfyffer
Conto da Lituânia
Desenho: Murilo Pagani
Fotografia, arte e produção: Henry Yu



Durante a Criação, Ilmatütar, filha do Tempo, recebeu a tarefa de cuidar dos pássaros e protegê-los. Ela acolhia as aves migratórias, as alimentava e lhes dava força para a longa viagem que os esperava. Todo o céu tinha ouvido falar de beleza de Ilmatütar e até as estrelas a cortejavam.

A Estrela da Tarde pediu a sua mão, mas Ilmatütar respondeu:

- Você não é o seu próprio mestre, apenas acompanha o Sol. Não serve para ser meu esposo.

A Estrela Polar chegou numa esplêndida carruagem puxada por sete alazões brilhantes, trazendo sete presentes. Mas Ilmatütar os recusou e disse:

- Você apenas permanece num único lugar determinado. Não quero uma vida assim.

A Lua chegou numa carruagem prateada puxada por doze belíssimos cavalos brancos, trazendo doze presentes. Mas Ilmatütar rejeitou tanto a Lua quanto os seus presentes:

- Você muda demais o tempo inteiro. Não posso confiar em você.

Tempos depois uma carruagem dourada chegou puxada por vinte e quatro raposas douradas, trazendo o Sol e vinte quatro presentes. Mas Ilmatütar igualmente os recusou:

- Todo dia você segue o mesmo caminho. Não quero ser a sua esposa.

Um dia chegou uma carruagem de diamantes puxada por mil cavalos trazendo o Senhor da Aurora Boreal. Seus servos levavam ouro, prata e diamantes. Ele resplandecia tanto que ofuscava. Ilmatütar inclinou-se e falou:

- Você é o seu próprio dono, atravessa o céu como quer e descansa quando lhe dá vontade, sempre aparece com roupas novas e novos companheiros. Você é o esposo certo para mim.

Celebraram o noivado e sentiram-se felizes juntos. Depois de meia-noite, o Senhor da Aurora Boreal pôs-se a caminho na sua esplêndida carruagem e disse para a sua noiva:

- Logo voltarei. Enfeite-se com meus presentes e prepare o casamento.

E assim fez Ilmatütar.

Ela esperou e esperou. Dias e noites se passaram. Quando o inverno passou, Ilmatütar já tinha perdido a esperança do que o Senhor da Aurora Boreal voltasse. Derramada em lágrimas, perdida no seu desespero, ela não viu a primavera a sua volta e nem se lembrou de cuidar dos pássaros, não os alimentou mais e nem lhes mostrou mais o caminho. Alguns deles voaram até o Criador para relatar o sofrimento de Ilmatütar.

Finalmente, o Criador se compadeceu deles e de Ilmatütar. Enviou seus mensageiros, os ventos, que alçaram Ilmatütar cuidadosamente e a deitaram na abóbada do céu. Para que ela não caísse na Terra, o Criador prendeu o véu da noiva no arco do céu, usando os inúmeros diamantes presenteados pelo Senhor da Aurora Boreal.

Ilmatütar percebeu que algo tinha mudado ao seu redor. Abriu os olhos, seu coração foi confortado e assim, voltou a cuidar dos seus protegidos. Até hoje, é ela quem dirige o voo das aves migratórias. O inverno chega trazendo felicidade porque o Senhor da Aurora Boreal vem visitar a sua noiva. Eles festejam o reencontro e renovam sempre os seus votos de fidelidade, embora não possam nunca se casar porque Ilmatütar está presa no céu. Seu véu ondula de uma ponta do céu à outra e inúmeros diamantes cintilam nele, como estrelas. Podemos vê-los até hoje e os conhecemos como Via Láctea.

Conto da Estônia

Märchen von Sone, Mond und Sternen. Fischer 2014.


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