O Patinho Feio
A mamãe pata tinha escolhido para fazer seu
ninho um cantinho bem protegido, no meio da folhagem, perto do rio. Por fim, os
ovos se abriram um após o outro, e surgiram os patinhas amarelos. Porém um dos
ovos ainda não se abrira. Impaciente, ela deu umas bicadas e ele começou a se
romper, mas dele saiu uma ave cinzenta e desajeitada. A mamãe pata levou sua
numerosa família para conhecer os outros animais que viviam perto. Todos
parabenizaram a pata: a sua ninhada era realmente bonita. Exceto um.
Nos dias que se seguiram, todos os bichos, o
perseguiram. O pobre patinho crescia só, malcuidado e desprezado. Sofria. Um
dia, desesperado, ele fugiu.
Caminhou, caminhou e chegou perto de um
grande brejo, onde viviam alguns marrecos, que o receberam com indiferença.
Numa certa madrugada, ouviu um tumulto e disparos: tinham chegado os caçadores!
Muitos marrecos perderam a vida. O patinho feio conseguiu se salvar,
escondendo-se no meio da mata.
Novamente caminhou, caminhou. Ao entardecer
chegou a uma cabana. Conseguiu entrar
sem ser notado, encolheu-se num cantinho e logo dormiu. Na cabana morava uma
velha, em companhia de um gato, especialista em caçar ratos, e de uma galinha,
que todos os dias botava o seu ovo. Na manhã seguinte, quando a dona da cabana
viu o patinho, pensou que era uma pata que logo botaria ovos. Mas o tempo
passava, e nenhum ovo aparecia. A velha começou a perder a paciência.
Mais uma vez, o patinho feio caminhou,
caminhou e achou um lugar tranquilo perto de uma lagoa. Durante o verão, passou
boa parte do tempo dentro da água onde encontrava alimento suficiente. Mas
chegou o outono. O céu se cobriu de nuvens e o vento esfriou cada vez mais.
Sozinho e triste, o patinho viu, num final de tarde, surgir um bando de
lindíssimas aves. Tinham as plumas alvas, as asas grandes e um longo pescoço,
delicado e sinuoso: eram cisnes, migrando na direção de regiões quentes.
Bateram as asas e levantaram voo, bem alto. O patinho ficou encantado, olhando
a revoada até que ela desaparecesse no horizonte. Sentiu uma grande tristeza,
como se tivesse perdido amigos muito queridos.
Naquele ano, o inverno foi muito rigoroso. O
patinho feio precisava nadar ininterruptamente, para que a água não congelasse
em volta de seu corpo. Mas um dia, exausto, permaneceu imóvel e ficou com as
patas presas no gelo. Fechou os olhos, e o último pensamento que teve antes de
cair num sono parecido com a morte foi para as grandes aves brancas.
Na manhã seguinte, bem cedo, um camponês viu
o pobre patinho, quebrou o gelo e levou-o para sua casa. Lá o patinho foi
alimentado e aquecido, recuperando um pouco de suas forças. Logo que os filhos
do camponês começaram a brincar com ele, o patinho se assustou e tentou fugir.
Caiu de cabeça num balde cheio de leite, derrubou tudo, se enfiou no balde da
manteiga, engordurando-se até os olhos e, finalmente, se enfiou num saco de
farinha, levantando uma poeira sem fim. O pobrezinho conseguiu encontrar a
porta e escapar da curiosidade das crianças e da fúria da mulher.
Nos meses seguintes, o patinho viveu num
lago, abrigando-se do gelo na relva seca. Finalmente, a primavera chegou. Lá no
alto, voavam muitas aves. O patinho sentiu um inexplicável e incontrolável
desejo de voar. Abriu as asas, que tinham ficado grandes e robustas, e pairou
no ar. Voou longamente, até que avistou um imenso jardim repleto de flores e de
árvores; do meio das árvores saíram três aves brancas. O patinho reconheceu as
lindas aves que já vira antes, e se sentiu invadir por um grande amor por elas.
— Quero me aproximar dessas esplêndidas
criaturas — murmurou. — Talvez me humilhem e me matem a bicadas, mas não
importa. É melhor morrer perto delas do que continuar vivendo atormentado por
todos.
Com um leve toque das asas, abaixou-se até o
pequeno lago e pousou na água.
— Podem matar-me, se quiserem — disse,
resignado. E abaixou a cabeça, aguardando a morte. Ao fazer isso, viu a própria
imagem refletida na água, e seu coração deu um pulo. Enxergava penas brancas,
grandes asas e um pescoço longo e sinuoso. Ele era um cisne!
— Bem-vindo entre nós! — disseram-lhe os três
cisnes, curvando os pescoços, em sinal de saudação.
Aquele que tinha sido um patinho feio se
sentia agora tão feliz que se perguntava se não era um sonho! Nadava em
companhia dos outros, com o coração cheio de felicidade. Mais tarde, chegaram
três meninos, para dar comida aos cisnes. O menorzinho disse, surpreso:
— Tem um cisne novo! E é o mais belo de
todos! E correu para chamar os pais.
— É mesmo uma esplêndida criatura! — disseram
os pais. E jogaram pedacinhos de biscoito e de bolo. Tímido diante de tantos
elogios, o cisne escondeu a cabeça embaixo da asa. Talvez um outro, em seu
lugar, tivesse ficado envaidecido. Mas não ele. Seu coração era muito bom, e
ele sofrera muito, antes de alcançar a sonhada felicidade.
Bordadeira:
Marie-Thérèse Pfyffer
Conto:
O Patinho Feio
Autores:
Hans Christian Andersen
Desenho:
Marie-Thérèse Pfyffer
Contato:
mtpfyffer@gmail.com
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